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MALDITA DÚVIDA

Depois da fuga rocambolesca à justiça e do regresso em pompa, da foragida Fátima Felgueiras, temos o Procurador da República, Pinto Bronze, a pedir a sua absolvição pelo crime de corrupção, o mais gravoso de todo este processo.

É certo que, com os McCann, nos habituámos a perceber como a justiça funciona (ou não funciona) e das dificuldades em atribuir culpas quando se trata de indivíduos influentes e com capacidade económica para pagar bons advogados. Mas, mesmo assim, com o treino intensivo que tivemos, incentivado por uma comunicação social ávida de sangue, a verdade é que nos questionamos passo a passo pelo desfecho de um sem número de processos.

Na operação Furacão, em que o Estado foi lesado em mais de 200 milhões de euros, algumas correcções foram feitas, algumas dívidas ao fisco foram cobradas, mas resultados práticos em relação a empresas concretas não são vistos pelos olhos do cidadão comum.

Também não são vistos, pelos olhos do cidadão comum, grandes resultados pelo que se falava à boca cheia do dito “Apito Dourado” e vamos lá ver se, no caso Vale e Azevedo, existe efectivamente alguma pena a ser cumprida que escape às malhas dum bom advogado.

De surpresa em surpresa, se é que ainda podemos ficar surpreendidos, assiste-se ao desfecho do chamado “caso do álcool” em que o Estado foi lesado em 243 milhões mas que, dos 197 arguidos, só um foi condenado a prisão efectiva. Provavelmente porque tinha que haver um bode expiatório assim como no tristemente famoso processo Casa Pia em que, apesar de haver vítimas (que até foram indemnizadas pelo ex-ministro Bagão Félix), não se apuram culpados para além do tristemente Bibi, certamente o elo mais fraco.

Nesta linha de pensamento também não surpreende já que Paulo Pedroso seja indemnizado e regresse ao parlamento. O efeito psicológico da indemnização ofusca o facto de que a mesma não iliba Paulo Pedroso e se reporta apenas à prisão preventiva como foi noticiado.

Mas afinal estamos ou não estamos num País em que um cidadão é baleado numa esquadra da policia, episódio que nos põe ao nível, segundo Rui Pereira, dos EUA quando Lee Harvey Oswald, o suposto assassino de John F.Kennedy, foi baleado à entrada para a sala do tribunal?

E, como qualquer cidadão comum deste jardim è beira-mar plantado, uma angústia crescente quando faço um replay de memória sobre a informação que me chegou de tão mediáticos acontecimentos, toma conta dos meus dias e das minhas incertezas.

É que, no mesmo pensamento, existem duas versões contraditórias: de um lado a possibilidade de se condenar para a vida, a uma expiação cruel, pessoas inocentes, e doutro a possibilidade de se deixarem impunes verdadeiros culpados.

E esta dúvida que se tornou comum a tanta gente, mina, corrói e mata os nossos valores e as nossas certezas.

Porque a justiça falhou, por que falharam as nossas instituições, porque falhou todo o mediatismo que se estabeleceu em volta dos casos mais para ganhar audiências ou vender jornais, que para construir o que resta dum furacão devastador da nossas crenças.

Maldita dúvida que se instalou para ficar como se fosse um paradigma dos sinais dos tempos!

23 comentários:

Lúcia Laborda disse...

Oie linda! As vezes me pergunto se é certo mesmo a Justiça ter esse nome, ou se nós quem interpretamos erradamente o significado dele... Complicado!
Bom fim de semana! Beijos

JOY disse...

Olá Lidia

As tuas dúvidas,são as minhas dúvidas , quando vejo na televisão um magistrado a tentar justificar porque razão um individuo que saca de uma pistola dentro de uma esquadra de policia e atinge outro cidadão a tiro e não deve ficar em prisão preventiva, muito sinceramente pergunto-me que trampa de justiça é esta ?
Isto só vai mudar quando a um dos membros do Governo tocar uma destas desgraças. Minha querida para terminara justiça em Portugal não é igual para todos, conforme se tem visto os poderosos acabam sempre por conseguir sair de fininho, os exemplos estão à vista de todos.

Abraço forte
JOY

Abraço Forte
Joy

Compadre Alentejano disse...

A Fátima Felgueiras não pode ser condenada. Lembrem-se que ela foi sócia do Sócrates, do Armando Vara e dum indivíduo,do PS, dono de escolas de condução, e como tal ela sabe demais. Se fosse na América já lhe tinham "limpo o sebo", por cá, vai ficando absolvido até lhe arranjarem um tacho...CGD ou BCP...

António de Almeida disse...

Depois da fuga rocambolesca à justiça e do regresso em pompa, da foragida Fátima Felgueiras, temos o Procurador da República, Pinto Bronze, a pedir a sua absolvição pelo crime de corrupção, o mais gravoso de todo este processo.

-Não há por aí alguma falha de informação? É que o procurador Pinto Bronze demorou 2 dias nas alegações, no 1º dia pediu de facto a absolvição para 6 dos crimes em que Fátima Felgueiras é acusada, mas no 2º dia pediu a condenação por outros factos que em seu entender foram dados como provados, incorrendo agora Fátima Felgueiras, se condenada, a uma pena entre os 6 e os 14 anos de prisão.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Olhos de Mel
Obrigada pela sua presença e pela sintonia de ideias.
A justiça, amiga, é algo que demora e pouco se entende.

Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

JOY
Que bom ver-te e sentir a tua amizade através desta partilha de ideias que desenvolvemos de há longa data.
Efectivamente os ricos e poderosos raramente são condenados e, quando o são, é mais para inglês ver.
Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Compadre Alentejano

Bem me parece. O Compadre percebe mesmo como isto funciona.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

António Almeida
Efectivamente escrevi o artigo no primeiro dia das alegações finais em que Pinto Bronze pediu a absolvição de Fátima Felgueiras para os 6 crimes de corrupção, ou seja, os crimes mais gravosos de todo o processo.
Se eu tivésse escrito o que escrevi depois do 2º.dia pouco teria mudado. E isto porque considero que, ao ilibar Fátima Felgueiras dos crimes de corrupção, abre-se a possibilidade duma condenação leve pese embora o facto de terem sido dado como provados outros crimes que poderiam dar 6 a 14 anos de cadeia se efectivamente a justiça funcionasse. Mas eu tenho dúvidas. Provavelmente serão os denunciadores a serem condenados e a Fatinha terá uma pena equivalente à do Valentim Loureiro da qual irá recorrer até ficar em águas de bacalhau.
É esta a minha convicção até prova em contrário.

Abraço

fotógrafa disse...

Não é preciso prometer que serás
"um amigo para sempre".Basta
sê-lo.Basta dizer sim ao dom
que cada um é para o outro e
aquecer-se no calor desse milagre.

Bom FDS
abraço

Zé Povinho disse...

Pelos vistos enquanto estive de férias o país não mudou quase nada, ou talvez tenha até piorado, sei lá.
Bom fim de semana
Abraço do Zé

Isabel Filipe disse...

Dúvidas Lídia?

Infelizmente sobre este assunto , a nossa "justiça", não tenho quaisquer dúvidas ... ela não existe ... não é isenta ... o elo mais fraco será sempre o bode expiatório ... e os tais que têm as "costas quentes" ficam a rir-se dos muitos Bibis que acabam por ser eles a pagar a factura mais alta ...

é triste e nojento ...

beijinhos e tem um bom fim de semana

C Valente disse...

Toda a historia está mal contada, e não é só a justiça dos homens ( quantas vezes errada) mas não deveria ser esquecido, o caracter, honestidade, a vergonha, que não existe
Bom fim de semana
Saudações amigas

C Valente disse...

Toda a historia está mal contada, e não é só a justiça dos homens ( quantas vezes errada) mas não deveria ser esquecido, o caracter, honestidade, a vergonha, que não existe
Bom fim de semana
Saudações amigas

Pata Negra disse...

Um Estado em que os cidadãos comuns não acreditam na sua justiça - e esta é uma verdade que confirmamos todos os dias - não é um Estado de Direito.
Deste Estado, nem só o Poder pode ser culpado mas também aqueles que o legitimam. Isto é, estamos tramados!
Um abraço com esperança em novas gerações

Odele Souza disse...

Lidia querida,

Como vemos, ao se falar em justiça/injustiça, estamos falando em nome de todos.
Lendo os comentários, endosso totalmente o que escreveu Isabel Filipe. E a corda acaba por se romper sempre para o lado do mais fraco. Os poderosos, esses seguem nos olhado de cima e rindo de nós.Sempre se safam.

Bom fim de semana Lidia.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Lídia, quando algo muda neste País, muda para pior... Boa noite e um bom Domingo!
Beijinhos de amizade,
Fernandinha

Anónimo disse...

Cumprimentando-a deixo-lhe aqui este meu testemunho.

Portugal moderno e feliz

Cada vez, gosto mais das notícias que leio nos OCS. Os jornais dão-nos conta daquilo que já sabemos e não nos interessa patavina. Uma no cravo, outra na ferradura. De resto, com a falta de jornalismo de investigação, escolhem aquilo que a Lusa produz. Será interessante que se analisem os interesses –todos- dos grupos de comunicação social que dominam o mercado. Será que interessa perguntar como alguns se constituíram e para quê? A quem paga o Estado os seus anúncios? O que recebe em troca? Se na Madeira todos sabemos –os OCS daqui fartam-se de o divulgar- interessa perguntar: e aqui no “Continente”? Desde Vila Real de Santo António, no Algarve, a Valença do Minho? E o grosso dos “anúncios” em jornais nacionais? Por vezes, ao lado dos pequeninos anúncios de relax… que, não raras vezes, actuam no prédio vizinho dos jornais e que os jornalistas desconhecem… Há jornais que, á sua porta, dispõem de um serviço completo –há noite quando os “jornas” trabalham mais- : Tráfico, prostituição e outros “aos”. Dava notícia? Dá um certo jeito? Ou terão medo de represálias? Também gosto muito dos jornalistas que emitem opinião, com isenção, é claro… O melhor, é que o fazem quando, no próprio jornal, exercem funções directivas, ou de jornalistas isentos. Será que a culpa é dos jornalistas, ou de quem manda nos jornais?

As associações disto, ou daquilo, não são capelinhas de interesses, nem me levam a perguntar para que existem. Os dinheiros estatais que ali entram –de todos nós- são justificados correctamente! São precisas –muitas- associações e bem dependentes… sobretudo, que estejam bem caladinhas, caso contrário lá se vão os subsídios. Os tachos e as panelas.

Este país está feliz. Não percebo porque a oposição diz mal de tudo, se nada apontam. A democracia é sinónima de alternância e de discordância. Mas que diabo; haja alguma moralidade no critério. O povo está tão feliz porque o governo diz, a oposição desdiz. O povo está tão feliz porque o país evolui todos os dias. O desemprego caiu –FINALMENTE- pois há algum emprego no estrangeiro, ainda!

As investigações vão de vento em popa. Nunca houve tantos investigadores, como agora, em Portugal. O que há mais, são investigadores –pelo menos assim assinam- na GNR, na PSP. A PJ está atolada de procedimentos administrativos, mas o seu pessoal anda feliz porque são muitos. O policiamento de proximidade é bem visível desde que os novos directores nacionais das polícias tomaram posse. São tantos os polícias que até estorvam. Já uma pessoa não pode sair da garagem porque os polícias são aos magotes, devidamente fardados, por tudo quanto é sítio. Ufa… que descanso. Criminalidade? Foi-se.

Os seguranças estão cada vez mais profissionalizados. Os cursos são um exemplo para toda a Europa. As empresas dão formação todos os dias. Que belo!

O novo cargo do “super polícia” já nem é necessário e estão a pensar reconvertê-lo na SEMEE - Secretaria de Estado da Mão Estendida a Espanha. Não confundir com os falangistas!

O futebol afastou-se da política. Já não temos presidentes de câmara que em simultâneo foram presidentes de clube, presidentes da assembleia-geral da Federação Portuguesa de Futebol, ou exerçam qualquer “carguinho” na liga!

Os juízes não emitem opinião. Cumprem apenas com o dever de julgar os poucos criminosos que ainda restam. Uma profissão em risco de extinção. Todos os julgamentos polémicos terminaram em tempo recorde, e ninguém contestou.

É interessante ver como algumas empresas conseguem milagres. Como conseguem vender congelados às IPSS, mais caros que a concorrência. Compadrio? Nem pensar nisso: QUALIDADE! Como se constroem túneis de poucos metros, extremamente necessários apenas por alguns milhões. Braguinha… Braguinha… aqui, até temos dois estádios. Um às moscas, outro a cair.

Como as religiões viram negócios altamente lucrativos. E, por vezes, se tornam politizadas, apoiadas ou pisadas. Toma lá e dá cá!

As forças armadas estão bem. Aliás, como nunca. Não falta nada. Material novo. Quartéis que parecem hotéis. Há excesso de contingente de pessoal. Pelo menos nalgumas categorias. As praças, essas, são em número baixo, talvez por isso passem a comandar… atendendo ao inverso proporcional. A nossa participação no exterior é altamente valorizada pela qualidade do material –último grito militar- que acompanham os nossos militares.

A agricultura não é precisa. Importamos tudo. Temos dinheiro de sobra. Será que temos petróleo? Os pescadores pescam para os amigos, ou tornam a deitar o peixinho ao mar. Sim, tornaram-se amigos do seu amigo, e do ambiente. E, como não precisam de sustentar as famílias –há muito peixe externo- divertem-se, felizes.

A educação especial nas escolas regulares –de referência, os CAO –Centro de Actividades Ocupacionais, regem-se todos pelo mesmo modelo, aliás, certificado pelos governos, desde sempre.

O ensino e a educação, aqui no canteiro europeu, são objectivamente o que de melhor se faz no mundo. Basta atendermos aos resultados e às prestações dos alunos. Todos passam de ano, e isso significa o quê? Que Portugal está melhor. As “novas oportunidades” têm dado frutos. Sei que há por aí gente maldosa que diz que não, mas é porque nunca tiveram esta brilhante ideia. Ninguém “chumba”, porque os portugueses sabem tudo e mais alguma coisa. Por vezes têm dúvidas apenas quando votam. Mas, isso é fruto da excepcional qualidade dos nossos políticos actuais, que tornam difícil a escolha dos melhores!

Hoje fico-me por aqui. Até breve, pois vou divertir-me, por aí… e estarei ausente

MR

PS: Cara Felícia, tinha-lhe dito que não, mas estou a repensar. Olhe que tenho muito por onde agarrar. Dê uma ligada quando puder. Anda muito caladinha. Porque será?

S. disse...

Tenho a sensação de que sempre foi assim... os ricos a safarem-se com tudo. Pelo menos desde há 20 anos para cá que é... antes não posso lembrar, mas do que tenho ouvido e lido, a justiça é a mesma de sempre. Prende-se quem rouba uma maçã porque tem fome, deixa-se andar (e bem montado) quem faz/traz o mal a tanta gente, a tantas famílias e no fundo, ao país.

Beijinhos

Zé do Cão disse...

Minha querida Silencio.
Estava presente para dar um comentário. Depois de ler o do "mr", acho que está tudo dito.
lembrei-me de "Os miseráveis" de Victor Hugo.
Ainda estou à espera de receber o questionário que o Sr. Ministro disse que mandava entregar, para perceber a razão porque os portugueses se sentem inseguros?
Será que desistiu?
É que, sentimo-nos inseguros de tudo, inclusive dos governantes que temos.
Beijocas minha querida

Bobo disse...

Criam-se condições para umajustiça sniper...

ManDrag disse...

Salve! Lídia
Pois é, amiga, esta sociedade, em declínio pela sua própria degradação, é o paradigma da dúvida e da desconfiança. Já nada é fiável e honorável; nem mesmo a ex-sacro-santa justiça (grafo propositadamente com minúscula inicial).
Só nos resta a esperança (Fé) de que todo este vórtice devorador nos leve até algo de melhor. Podem me chamar de ingénuo, naífe, mas eu ainda acredito que para lá das trevas do desconhecido, ainda haverá alguma Paz.
Salutas!

AJB - martelo disse...

pessoalmente encaro com muita dificuldade o julgamento humano... é altamente falível e muito condicionado...

bjs

http://caixadepregos.wordpress.com/

São disse...

Minha querida, desculparás, mas eu acho que a única certeza que fica é que há uma enorme mancha de corrupção em Portugal e ninguém está verdadeiramente interessado em pôr-lhe cobro!
Pinto da Costa foi indemnizado assim com Pedroso...e os outros já preparam o terreno para o mesmo fim.
MacCan foi a vergonha que foi..
Mas ainda há lugar para esperança? Acho que não!
Beijinhos, amiga.