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A GUERRA E O MONSTRO





Steven Green, de 24 anos, é um ex-soldado da guerra do Iraque, uma guerra cruel que ceifou milhares e milhares de inocentes e que arrancou a alma a muitos daqueles que acreditavam na sensibilidade e nos valores humanos.


Uma guerra de interesses e poderios, como são todas as guerras, porque não há guerras justas sejam quais forem os argumentos que utilizem para as justificar.


Este soldado é acusado, por um júri do Estado americano do Kentucky, do estupro duma menina iraquiana de 14 anos e pelo assassinato dela e de sua família em 2006, na cidade de Mahmudiya, ao sul de Bagdá, no Iraque.


Steven Green não actuou sozinho. Quatro outros soldados também participaram deste acto horrendo sendo que foram julgados e condenados a penas que vão de cinco a 110 anos de prisão.


O grupo teria estuprado Abeer Qassim al-Janabi, de 14 anos matando-a de seguida e Green assassinou ainda o pai, a mãe e a irmã mais nova de 6 anos tendo depois incendiado a casa da família para ocultarem o crime.


Steven Green foi expulso do exército por desordem de personalidade, antes que o crime que cometeu fosse conhecido. O antigo soldado é agora acusado de liderar um grupo de militares que cometeu vários crimes na zona de Mahmudiya, a Sul de Bagdad e sujeita-se à pena capital.


Steven Green é o primeiro soldado norte-americano acusado à luz de uma lei que leva perante a Justiça, cidadãos suspeitos de terem cometido crimes no exterior do país. Porém o crime de Steven por mais horrendo que seja, ou que pareça, não é incomum em teatros da guerra onde os soldados saqueiam estupram e assassinam populações indefesas recebendo, frequentemente, medalhas, dos donos das guerras, por “actos heróicos” que só são possíveis quando nos despimos dos sentimentos e dos medos, da solidariedade e da piedade que devemos a todo o ser humano.


Claro que os senhores da guerra não mandam estuprar e chacinar mandam apenas fazer a guerra escudando-se covardemente nas consequências e actos que a mesma implica. George W.Bush até invocava o nome de Deus para combater o eixo do mal como se ele fosse um representante desse Ser Omnipotente e pairasse acima dos demais mortais decidindo, por direito próprio, quem deve morrer ou permanecer.


E talvez este senhor, imune a ser julgado ou condenado (até quando?), venha publicamente assumir que Steven Green deverá ser executado, para pagar os crimes que cometeu, como se Steven não fosse o braço armado das suas estratégias de poderio e um dos muitos monstros que a guerra fabrica para se alimentar.


Na guerra quando se mata é-se herói. Na sociedade civil esse mesmo herói não pode matar porque é assassino. Como se houvesse uma linha divisória numa consciência que se perdeu!


Diz o ditado popular que a “corda parte sempre pelo lado mais fraco” e, por isso, Steven Green irá provavelmente enfrentar a pena capital para exemplo da moral e dos bons costumes que aconselham a que se mate o monstro para que as restantes pessoas possam viver em paz.


Esquecem-se que a guerra é o próprio monstro que destrói vidas, tortura e mutila para servir quem a domina e acaba por ficar impune e até dormir tranquilo.

28 comentários:

Vivian disse...

"Na guerra quando se mata é-se herói. Na sociedade civil esse mesmo herói não pode matar porque é assassino. Como se houvesse uma linha divisória numa consciência que se perdeu!"

Há muito, mas muito tempo
atrás,
Erasmo de Roterdan fazia
o Elogio à Loucura.
E ele com certeza sabia
o que estava falando, não?

Há que se entender a guerra
sem ser louco?

bj, bj

Elvira Carvalho disse...

Amiga, aconteceu no Iraque, aconteceu em Angola, e em Moçambique e em muitos outros lugares do mundo. Em tempo de guerra sempre acontece o mesmo. Porque é que julga que muitos soldados sofrem depressão traumática ainda hoje tantos anos passados da guerra do Ultramar? Porque a consciência obriga-os a passar muita noite sem dormir. Só quem por lá andou viu e sabe o que se passou e muitas vezes cala por vergonha.
Os chefes nunca têm culpa. Os soldados é que são "estúpidos, não entenderam as ordens que lhes deram" e agora não estou a falar do estupro, que acredito nenhum chefe mande fazer, mas de outras formas de tortura e assassinatos.
Um abraço

Pata Negra disse...

Um país que faz a guerra e, presume-se, aplica a lei capital em nome de Deus, que comportamento pode esperar dos seus soldados?! Estes actos são em primeiro lugar imputáveis aos indivíduos que os praticam mas é preciso não esquecer que, eles mesmos, se comportam em função da sociedade em que foram criados e da guerra que lhe promete heroicidade!
Se os quatro da fotografia estão à solta porque diabo estes monstrozinhos soldados hão-de receber a pena capital!?
Heróis são as suas vítimas!
Um abraço do seio das famílias iraquianas

Unknown disse...

As guerras terminam sempre com a destruição ou com a desgraça dos dois beligerantes .

Abraço.

Mare Liberum disse...

Como alguém aqui disse, heróis são aqueles que foram chacinados, que nada fizeram para pagar com a vida a ambição desmesurada dos mandantes do poder.
Bem-hajas, amiga, pela simpatia e solidariedade que sempre demonstras quando passas pelo Cata-Vento. Desculpa a ausência.
A princesinha está melhor. Obrigada!

Bem-hajas!

Beijinhos

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDA LÍDIA, BELÍSSIMO TEXTO... LER-TE FAZ-ME BEM... A GUERRA É UM MONSTRO SEM DÚVIDA... AGORA NÃO DEVERIAM FICAR IMPUNES OS SENHORES QUE AS FAZEM... POR UM MILHÃO DE MOTIVOS!!!
AMIGA, ASSIM VAI O MUNDO!!!
ABRAÇOS DE MUITA AMIZADE,
FERNANDINHA

António de Almeida disse...

Por vezes a guerra é necessária, sempre um mal, mas necessário, que teria sido da Humanidade se o mundo livre não tivesse combatido a besta nazi? Também existem as guerras inevitáveis, absurdas, mas inevitáveis, o caso da nossa guerra colonial, porque o regime da época não foi capaz de perceber a tempo, tornando a guerra uma inevitabilidade, a rendição não era obviamente uma opção, a solução era política, e deveria ter sido encontrada antes de eclodir o conflito. O Iraque não foi uma coisa nem outra, mas um equívoco e um absurdo, com apenas um aspecto positivo, o derrube de Saddam. Qualquer que seja o caso, em qualquer guerra cometem-se abusos, punir os responsáveis é obrigatório, desde logo para servir de dissuasão em situações futuras. Não concordo com a pena de morte, embora a Justiça militar tenha uma lógica diferente que compreendo, mas continuo a preferir a prisão perpétua.

Anónimo disse...

Silêncio

Culpado? De quê?

Andei na guerra colonial em Angola, como oficial miliciano. Fiquei a saber, bem contra vontade, o que era esse crime horrível e horrendo. Felizmente, não matei - mas podia ter acontecido: as balas e o resto são traiçoeiras.

Daí que em Abril do ano passado tenha publicado o meu primeiro livro de ficção «Morte na Picada» - contos e etc...

Tenho-te visto por este mundo blogosferiano e em boa hora decidi vir visitar-te. Gostei tanto que já me inscrevi como teu seguidor.

Tens mais blogues, como vi; mas este enche-me as medidas. Parabéns! E muito obrigado.

Já agora, dois pedidos...

1) Vai até à minha gruta desencantada e deixa cumentários (com o...). E diz à tua maltosa para também o fazer.

2) Incorpora-te no meu Batalhão de (Per)seguidores. E diz à... etc.

... que, afinal, são três... hahahahahaha

3) Se quiseres, participa no passatempo/concurso que lá está a correr

Nocturna disse...

Cara amiga,
O crime, o grande crime é a guerra em si.
Jovens que fora levados aos milhares para longe de casa para serem heróis, e acabaram perdendo toda a noção da vida em sociedade. Apenas matar, para ganhar a medalha.
Depois, quando são apanhados, vão a julgamento, mas a sociedade que os julga, está de facto a julgar o facto de eles terem sido descobertos.
Quantas atrocidades, não chegam ao conhecimento público e por tal razão, das quais ninguém fala ?
Se voltam a casa,quando voltam, não têm capacidade para se integrar na sociedade e fazer uma vida normal.
E quem os enviou para lá, sabendo de antemão como as coisas iam terminar, até por experiências anteriores ?
Quem os julga ? Até quando se vão sacrificar vidas de jovens, apenas para defender os grandes interesses económicos ?
Um abraço
Nocturna

jardinsdeLaura disse...

Nao podia estar mais de acordo! E nem sequer tenho nada a acrescentar! Apenas que está escrito com sentimento mas que tb faz prova de extrema lucidez! Parabéns!

Teresa Durães disse...

penso que se deve levar a julgamento a quem excede para além da guerra. infelizmente arranjam apenas um bode expiatório

São disse...

Esta criatura mais quem o acomapnhou são seres que me repugnam.

No entanto, repugnam-me muito mais Bush e e o seu bando de escroques, pois são eles os verdadeiros responsáveis em toda a linha.


Um abraço fraterno, minha querida!

Rafeiro Perfumado disse...

Quem deveria ser julgado era o Bush. Quanto a este palhacito, apenas capado e depois largado no meio de uma rua em Bagdad.

Mar Arável disse...

Esta vida está cheia de mortes

e nenhuma delas é justa

Fatyly disse...

Quem deveria ser degolado era o Bush e muitos outros Bushs que ainda existem.
Por cá tivemos os nossos e sobretudo dois carniceiros da pior espécie, para não falar dos da PIDE e que eu saiba também nunca foram julgados por nada, porque as torturas foram sempre as mesmas: os mais fortes e armados sobre os amarrados e indefesos!

"Porém o crime de Steven por mais horrendo que seja, ou que pareça, não é incomum em teatros da guerra onde os soldados saqueiam estupram e assassinam populações indefesas recebendo, frequentemente, medalhas, dos donos das guerras, por “actos heróicos” que só são possíveis quando nos despimos dos sentimentos e dos medos, da solidariedade e da piedade que devemos a todo o ser humano."

mas HÁ UM FACTOR FUNDAMENTAL DE QUEM NINGUÉM FALA MAS QUE EU VI ...esses mesmos jovens a serem injectados com cargas enormes de drogas para cometerem e continuarem a cometer tamanhas atrocidades.
A maioria que volta aos seu país, é tratado, pode resultar ou não, fica dependente de doenças do foro psiquiátrico e 90% quando recebem medalhas de honra devem questionar-se: porquê? se eu não fiz nada?
Mais tarde vem o stress traumático de guerra e não é por acaso que temos milhares de homens, hoje na casa dos 50/60anos com esse "sofrimento versus depressão" e que muitos para acalmarem os demónios que povoam as suas memórias tudo fazem para voltarem em paz aos campos onde outrora foram de guerra. Foi com Angola, Vietnam e mais tarde será com o Iraque!!!!

R.Almeida disse...

Infelizmente, e é isso que me atormenta este caso é apenas um suporte publicitário a crimes hediondos praticados por soldados americanos, que visa mostrar ao mundo e mesmo ao próprio povo americano que a justiça funciona e que os infractores são severamente punidos.
Sabe-se que os soldados americanos estão protegidos por um estatuto que os protege de punições e mesmo os comandantes são cuniventes e escondem muito do que acontece nestas guerras de interesses em que a América se quer mostrar como a salvadora dos principios e da moral aos olhos do mundo.
O crime foi horrendo e merece castigo sem duvida, mas quantos e quantos mais crimes iguais ou até piores que não foram revelados e quantos dos que os testemunharam foram silenciados para que a sua voz não se fizesse ouvir.
E as guerras continuarão indefinidamente a ceifar vidas sempre com o estandarte da paz como motivo para que as mesmas existam, num circulo vicioso em que a justiça é feita com injustiça sendo que ambas as palavras se misturam no seu significado sem que possamos compreender o que cada uma quer dizer.

Jacky - Simples assim!!! disse...

A guerra só gera mortes e mais mortes...Ao fim de uma guerra, não temos vencedores, somente perdedores. Nada se ganha, tudo se perde...
Grande ilusão daqueles que se acham vencedores da vida que se perde em uma desgraça assim.

Jacky - Simples assim!!! disse...

A guerra só gera mortes e mais mortes...Ao fim de uma guerra, não temos vencedores, somente perdedores. Nada se ganha, tudo se perde...
Grande ilusão daqueles que se acham vencedores da vida que se perde em uma desgraça assim.

martelo-polidor disse...

no "meu tempo de tropa", enquanto alguns levaram menção honrosa,levei uma "admoestação"... e soube-me que nem ginjas...

um abraço

Meg disse...

Lídia,

Já cá vim várias vezes e resolvi não falar sobre guerras... tenho a minha conta, e faço o possível por esquecer.
Quanto aos monstros, está quase tudo dito nos comentários anteriores... só Deus sabe do que o ser humano é capaz, de melhor e de pior, neste caso.
Não tenho qualificativos, fico horrorizada com casos como este.
E olha que não é caso único, Lídia!

Um abraço

A.S. disse...

Subscrevo inteiramente o teu texto!
Será que teremos que viver sempre em clima de guerra? Porque nos tornamos tão agressivos? Porque permanecemos tão indiferentes perante tudo o que está acontecendo á nossa volta?
ATÉ QUANDO???


beijos...

Compadre Alentejano disse...

Pelo menos, este "herói" americano deixará de cometer mais crimes.
Oxalá, os seus colegas aprendam que, na guerra, também há dignidade e respeito pelo ser humano.
Que o enterrem de pé, para ocupar menos espaço...
Abraço
Compadre Alentejano

mfc disse...

O teu texto é um alerta sereno contra os comportamentos primários.

C Valente disse...

Saudações amigas , votos BFS

aDesenhar disse...

Um tema polémico.

A GUERRA E O MONSTRO

A guerra conhecemo-la pela TV.

Quem será o monstro(?!)

O jovem soldado de 20 anos

ou o Estado que o transforma

em soldadinho, uma máquina de guerra assassina.

Falo por experiência.

Por isso

Acuso

todos os Governos

de Assassínio premeditado.

Dr. Mento disse...

As máquinas de guerra funcionam mesmo assim. Quando uma peça se avaria, todos sacodem a água do capote e lavam as mãos muito bem lavadinhas.

Milu disse...

Olá!
Há algum tempo que tenho vindo a ler os seus comentários que vai fazendo aqui e ali nalguns blogs que a senhora e eu gostamos de visitar. Hoje, que felizmente, consegui um tempo precioso para dedicar a todas as actividades que mais prazer me dão, senti um apelo para me dirigir a si e dizer-lhe duas coisas, que são verdades, por isso as digo, e que me estão atravessadas na garganta. A primeira é que a acho muito bonita e a segunda é a que a considero muito inteligente e culta! É tão bom poder dizer estas coisas a uma mulher! E poder dizer que as admiro pelo seu trabalho, infelizmente, nem sempre são acessíveis. Os meus parabéns para si e bem haja pelo seu talento e dedicação!

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDA LÍDIA, VOLTEI PARA RELER-TE E DESEJAR-TE UMA BOA SEMANA... ABRAÇOS DE MUITA AMIZADE E CARINHO,
FERNANDINHA