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CORRUPÇÃO E FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS

Este é um tema delicado na medida em que não podemos apontar o dedo sem ter provas concretas, fere determinadas sensibilidades e incide, fundamentalmente, sobre os partidos do poder.
Pese embora eu ter considerado que o caso SOMAGUE impunha uma postagem dada a linha editorial do blogue, entendi que não o devia fazer por duas ordens de razões. A primeira prende-se com o facto de não pretender politizar e a segunda a de fazer pontaria a um partido específico quando, em meu entender e pela experiência adquirida, as incorrecções nestas matérias não são exclusivas nem têm maior incidência no PSD. O que a experiência no terreno me sugere é que os partidos de poder (e aqui incluo por igual PS e PSD) têm, ao longo dos anos, sido financiados através de expedientes pouco transparentes. É frequente verificar-se que, em grandes empresas públicas, os chefes dos departamentos de compras (onde ocorrem os concursos para selecção de fornecedores), têm sido da confiança dos dois maiores partidos e, o que é mais curioso, é que em alturas em que se verificava uma mudança da cor política e substituições de chefias de 1º. nível o homem/mulher forte das compras lá se ia aguentando como que por um acordo tácito.
Nos corredores, e à boca pequena, murmurava-se sobre a encomenda de estudos que somam, na moeda corrente, milhões de euros (pagos pelos nossos impostos) e que não acrescentam nada aos estudos feitos pelos técnicos da casa que muitas vezes iam parar à prateleira para que se reunissem todas as condições para encomendar os estudos ao exterior. A selecção das empresas era feita na base de critérios que permitiam excluir os que "não interessavam" ainda que apresentassem um bom curriculum e preços mais vantajosos.
É assim que não me surpreende que, depois do caso Somague, tenhamos a PJ a investigar, a pedido da Polícia Federal Brasileira, o alegado envolvimento de empresários e políticos portugueses com a denominada ‘Máfia dos Bingos’ do Brasil.
Segundo a edição deste sábado do jornal ‘Público’, que cita o coordenador do gabinete de comunicação da força brasileira, Bruno Santos, foi solicitada “uma cooperação judicial e policial directa a Portugal com vista a averiguar o eventual envolvimento de portugueses e alguns elementos ligados ao Partido Socialista com o caso”. O caso trata de um grupo acusado de comprar sentenças judiciais e decisões políticas para a expansão do negócio do jogo clandestino, explica o diário, acrescentando que a denominada ‘Máfia dos Bingos’ terá sido desmantelada pela Operação Furacão.A Polícia Federal brasileira já esteve entretanto em Portugal para recolher elementos sobre a ligação entre cidadãos portugueses com o grupo detido no passado mês de Abril.Vitalino Canas, porta-voz do PS, afirmou ao ‘Público’ desconhecer a referida investigação, mas que, “se existe, vigora sobre ela o segredo de Justiça e, a confirmar-se, o PS aguarda serenamente o resultado desse processo”. Dos 25 implicados no caso, dois são empresários portugueses. De acordo com o matutino, um dos lusos, Licínio Soares Bastos chegou a ser nomeado cônsul honorário pelo Governo português, é o principal financiador da campanha socialista nas terras de Vera Cruz e proprietário da sede do PS no Rio de Janeiro.Os dois empresários, Soares Bastos e Laurentino Santos, “encontram-se fugidos às autoridades”, já depois de terem sido beneficiados de um habeas corpus, posteriormente anulado, explica o jornal, especificando que sobre os dois foragidos recaem suspeitas de que “sejam intermediários no negócio da expansão de casa de jogo e os operadores de lavagem de dinheiro”, de acordo com a Polícia Federal brasileira Além de se referir a políticos portugueses nas escutas telefónicas, a força brasileira “investiga também outras ligações a Portugal e Macau, supondo que no país operavam elementos incumbidos de manter contactos com partidos políticos”.As autoridades brasileiras solicitaram ainda à Polícia portuguesa para bloquearem contas bancárias pertencentes a off-shores registadas na Ilha da Madeira, “solicitação já cumprida”, adianta o ‘Público’.
Fonte: Correio da Manhã 15-09-07

Bom, mas eu não quero dizer com isto que a corrupção tenha uma conotação partidária. O que acontece é que são sempre os maiores partidos que estão nos centros de decisão por onde circulam os grandes negócios. Só por isso.

Porém tudo o que aqui está dito não passam de meras hipóteses que não podem ser provadas. É como uma empresa que não quer contratar uma mulher grávida: diz que não tem perfil. Relativamente às hipóteses que ventilei a explicação é simples: as pessoas que estão à frente dos aprovisionamentos e compras são sempre as mais competentes, os concursos são sempre necessários e transparentes e os fornecedores os que oferecem melhores condições. Face a isto que cada um tire as suas próprias ilações.

5 comentários:

G.BRITO disse...

Entendi a mensagem. Uma mensagem que rompeu (finalmente) com o silêncio culpado e que revela a visão de alguém muito entendido no assunto. Perfeito.

ARTUR MATEUS disse...

Acho extraordinário o que aqui é relatado. Tinha uma vaga ideia que começou agora a ter contornos mais claros. É um post muito sumarento para quem quiser perceber o alcance.

M.MENDES disse...

Vê-se que percebes disto. É u m grande contributo levar as pessoas a questionar este tipo de actuações. Só assim podemos ter esperança na viragem.

SEMPRE disse...

Ah pois é assim mesmo. Nada é claro ne transparente neste país recessado, sem alma, destronado da sua dignidade. Não me venham com as estórias da coragem sócretiana. Eu apenas posso responder que é preciso muita coragem para fazer isto retirar direitos aos trabalhadores, castigá-los com impostos, aumento de taxas de juro e baixos salários enquanto esses impostos vão para estudos e mais estudos para dar trabalho às empresas dos amigos.Eu imagino o que não será com a OTA e o TGV.

Tiago R Cardoso disse...

Trata-se portanto de estranhas coincidência.
Tudo isto faz-me lembrar a Sra. Juíza Amália Morgado "Lamentavelmente a corrupção está em muitos lados e, ao que agora se diz, até na Justiça.", em Portugal todos sabem das coisas, incluindo os órgãos competentes, mas nunca actuam porque só ouviram dizer, agora investigar...

Obs.
Concordo em relação ao livre debate, entre todos e a procura de melhorar o estado em que caímos.