A estatística entrou nas nossas vidas de rompante, tornando-se a forma privilegiada de passar mensagens e aferir desempenhos. Todo o mundo parece girar à volta das percentagens que, juntamente com uns rácios e uns gráficos todos janotas, vão compondo o nosso imaginário sobre certas realidades.
Os públicos deixaram de acreditar nas palavras sobre as quais têm uma representação mais falível e inclinam-se, até bater com a testa no chão, perante o número sobre o qual têm o conceito de maior exactidão.
Mas será que é mesmo assim? Qualquer pessoa que conheça um pouco de estatística logo poderá afirmar que não. A estatística é muito mais permeável à manipulação que a própria palavra e, por isso mesmo, muito mais perigosa. Quem não conhece a técnica submete-se ao dado como se de uma verdade irrefutável se tratasse. E, deste modo, a estatística tornou-se uma arma mortífera da nossa democracia e, de uma forma geral, das sociedades modernas. E por quê? Porque, utilizada de forma pouco ética, transforma-se numa burla, em que a realidade constatada se apaga, em prol de vertentes que, não sendo essenciais para a análise em questão, têm a faculdade de evidenciar aspectos que desviam a atenção do objecto a ser analisado.
É assim que um porta-voz do PS afirma que, nas últimas eleições para a CML, António Costa obteve a melhor percentagem de sempre com o PS a concorrer sozinho. O que o porta-voz não disse é que essa percentagem, encontrada sobre um menor número de votantes devido ao acréscimo da abstenção, representa, em termos absolutos, muito menos votos que os obtidos por Carrillo em anteriores eleições. Também José Sócrates alude, frequentemente, ao aumento das exportações. O que ele não diz é que a balança comercial é tão desequilibrada que apresenta um rácio das importações sobre as exportações de qualquer coisa como 2/1 o que significa que a percentagem de aumento ou de diminuição do volume das exportações significa, em valores absolutos, metade do que significaria a mesma percentagem nas importações.
Mas as burlas continuam em vários domínios. Dizer que a taxa de desemprego é de cerca de 8%, sem se dizer sobre que universo a mesma foi calculada, é uma mistificação grosseira e intencional. Poderia ainda continuar a citar exemplos e entrar mesmo na lógica das sondagens que enviesam as amostras para aproximar de previsões que, não sendo fiáveis, atraem a sua confirmação por influência psicológica.
É pois um dado adquirido o poder da manipulação à volta do número e as novas possibilidades que nos são oferecidas, para a mistificação perfeita, pelas técnicas sofisticadas dos softwares informáticos. Qualquer especialista de marketing passa por cursos de formação que o ensinam a fazer gráficos desonestos e isto quando não aprendeu a fazê-los na própria faculdade. Manipulando as escalas e escolhendo o formato e as dimensões, fazem autênticos milagres visuais que são perfeitamente engolidos por quem olha para eles sem olhos treinados. As próprias variáveis que se cruzam e seleccionam são muitas vezes resultado, não de uma pesquisa científica que procure analisar um determinado facto, mas sim de um conjunto de experiências de cruzamentos informáticos em que se elimina o que não interessa e se vai buscar o que serve os objectivos.
Estas práticas tornaram-se tão escabrosas que o próprio Presidente da República se sente incomodado e vem pedir alguma moralização. Mas só alguma porque muita, já não poderá ser, porque poria em risco toda a governação e toda a sua essência sem alternâncias nem contrapartidas.
Enquanto isso, e num Portugal cada vez mais longe da sua génese e das suas gentes, com uma comunicação comprometida e ao serviço do poder, vai ludibriando a quem não mata a fome e vai enchendo os bolsos a quem a sustenta.
Os públicos deixaram de acreditar nas palavras sobre as quais têm uma representação mais falível e inclinam-se, até bater com a testa no chão, perante o número sobre o qual têm o conceito de maior exactidão.
Mas será que é mesmo assim? Qualquer pessoa que conheça um pouco de estatística logo poderá afirmar que não. A estatística é muito mais permeável à manipulação que a própria palavra e, por isso mesmo, muito mais perigosa. Quem não conhece a técnica submete-se ao dado como se de uma verdade irrefutável se tratasse. E, deste modo, a estatística tornou-se uma arma mortífera da nossa democracia e, de uma forma geral, das sociedades modernas. E por quê? Porque, utilizada de forma pouco ética, transforma-se numa burla, em que a realidade constatada se apaga, em prol de vertentes que, não sendo essenciais para a análise em questão, têm a faculdade de evidenciar aspectos que desviam a atenção do objecto a ser analisado.
É assim que um porta-voz do PS afirma que, nas últimas eleições para a CML, António Costa obteve a melhor percentagem de sempre com o PS a concorrer sozinho. O que o porta-voz não disse é que essa percentagem, encontrada sobre um menor número de votantes devido ao acréscimo da abstenção, representa, em termos absolutos, muito menos votos que os obtidos por Carrillo em anteriores eleições. Também José Sócrates alude, frequentemente, ao aumento das exportações. O que ele não diz é que a balança comercial é tão desequilibrada que apresenta um rácio das importações sobre as exportações de qualquer coisa como 2/1 o que significa que a percentagem de aumento ou de diminuição do volume das exportações significa, em valores absolutos, metade do que significaria a mesma percentagem nas importações.
Mas as burlas continuam em vários domínios. Dizer que a taxa de desemprego é de cerca de 8%, sem se dizer sobre que universo a mesma foi calculada, é uma mistificação grosseira e intencional. Poderia ainda continuar a citar exemplos e entrar mesmo na lógica das sondagens que enviesam as amostras para aproximar de previsões que, não sendo fiáveis, atraem a sua confirmação por influência psicológica.
É pois um dado adquirido o poder da manipulação à volta do número e as novas possibilidades que nos são oferecidas, para a mistificação perfeita, pelas técnicas sofisticadas dos softwares informáticos. Qualquer especialista de marketing passa por cursos de formação que o ensinam a fazer gráficos desonestos e isto quando não aprendeu a fazê-los na própria faculdade. Manipulando as escalas e escolhendo o formato e as dimensões, fazem autênticos milagres visuais que são perfeitamente engolidos por quem olha para eles sem olhos treinados. As próprias variáveis que se cruzam e seleccionam são muitas vezes resultado, não de uma pesquisa científica que procure analisar um determinado facto, mas sim de um conjunto de experiências de cruzamentos informáticos em que se elimina o que não interessa e se vai buscar o que serve os objectivos.
Estas práticas tornaram-se tão escabrosas que o próprio Presidente da República se sente incomodado e vem pedir alguma moralização. Mas só alguma porque muita, já não poderá ser, porque poria em risco toda a governação e toda a sua essência sem alternâncias nem contrapartidas.
Enquanto isso, e num Portugal cada vez mais longe da sua génese e das suas gentes, com uma comunicação comprometida e ao serviço do poder, vai ludibriando a quem não mata a fome e vai enchendo os bolsos a quem a sustenta.
Autor: Silêncio Culpado
19 comentários:
Olá,belo texto no momento certo.
Beijinhos!
Fernandinha
Excelente texto.
Em Portugal usa-se muito a teoria do copo maio cheio e do copo meio vazio, tem de ser vendido ao povo conforme o objectivo.
Infelizmente é um fenómeno recorrente seja da direita a esquerda passando pelo centro.
Pior é a lata de certos políticos que com sondagens negativas dizem que não acreditam nelas e de seguida perante um favorável tratam logo de a aproveitar.
Mas também o que é que o povo percebe de estatísticas ?
as estatisticas são quase sempre falciososas e por isso não têm credibilidade ...
As estatísticas têm uma enorme vantagem e que a amiga não pode, nem deve desconhecer. Os mesmos números transformam-se magicamente conforme se está na Oposição ou no Poder. Mais nada. O resto... é paisagem. Desçam à rua e perguntem ao povo que anda de carteira vazia, com receio do desemprego, sem saber como pagar as contas se quer saber das estatísticas...
É isso mesmo Quintarantino. Valeu a pena escrever o texto que mais não seja por este comentário (sem desprimor para os outros).Mas precisamos de doses fortes de opinião bem formada.
Concordo em linhas gerais com o que aqui está dito mas já não concordo que digam que o povo não quer saber das estatísticas.É no café e nos comes e bebes, o electicista e o homem do campo a falarem em números mesmo que não saibam bem o que estão a papaguear. E é com essas e com outras que vão iludindo o povo e mantendo-se no poleiro.
Mais uma vez, colocas em terreno uma das formas mais abjectas de produzir demagogia.
É porque se fala para uma massa impreparada e dócil que tais procedimentos se cultivam.
A nossa esperança é que este fluxo imparável de informação mais profunda (interacção blogueana) que nos permita contestar e veicular a contestação de quanta maquilhagem de números se faça governativa.
Eu quero viver num país onde o Poder Político use de plena honestidade ao adressar tais questões.
Os sinais que os governos dão para a economina e para a confiança dos consumidores e dos investidores, sendo uma grande responsabilidade, não podem ser minados pelo disfarce e pela mentira. O médio e longo prazos não podem ser comprometidos pelo maquilhar o curto prazo. Só para quem governa com um olho na reeleição.
Um tempo de transparência tem de chegar e implementar-se.
A estatística é uma arte prodigiosa que nos permite mostrar a variabilidade (o ponto onde se concentra e a maneira como se dispersa à volta desse ponto) de uma dada dimensão, extrapolar parâmetros de uma população de dados a partir de amostras e estimar a probabilidade de acontecimentos futuros a partir da distribuição dos acontecimentos passados. Estes são os préstimos básicos da estatística, mas há mais. Possuir estatísticas é ter conhecimento real baseado em factos. Usar correctamente as estatísticas requer o conhecimento exímio das técnicas de computação estatística, mas sobretudo compreender o que se está a fazer e controlar a validade do processo de recolha, descrição e inferência.
Se Portugal sofre de um mal de estatísticas é por ter estatística a menos, e não a mais, é por ter estatística medíocre em vez de estatística bem preparada e executada, é por ter estatísticas esporádicas em vez de sistemáticas, é por ter estatísticas para fins inconfessos em vez de estatísticas para crescer e desenvolver.
Devemos evitar lançar o anátema sobre a estatística. Anátema há que lançar sobre o analfabetismo generalizado, sobre a falta de publicação ou acesso aos dados recolhidos e aos processos de recolha, sobra a falta de publicações, sobre o espírito de batota que paira sobre todos nós que, ao contrário do que se passaria numa sociedade civilizada, se permite dar ao luxo de contar com uma risada a anedota das duas galinhas comidas pelo meu vizinho.
As estatísticas a mim nunca me disseram nada. Nunca as vi como resultados fiéis para os fins que se propuseram.Acho-as sempre demasiado enganadoras e algumas com resultados vergonhosamente manipulados.
boa semana
Sou o que se chama um cidadão que foi em tempos da classe média,e que segundo as estatísticas já não vou sendo por categoria em vias de extinção. Considero-me medianamente informado mas com muita dificuldade em digerir estatísticas, venham donde vierem. Considero-me um observador atento e interventor razoável ao meu nível.Usam-me nas estatísticas mas pessoalmente nunca participei em nenhuma.Cada vez penso mais e profiro o meu pensamento, mesmo sabendo que muitas das vezes catalogam como caso isolado sem projecção. Nos meus parcos conhecimentos, entendo que muitas doutas cabeças se esquecem que o todo é a soma de muitos uns.
E porque assim é, sou dos que acreditam que um dia, a PESSOA ultrapassará o engodo dos números!
Querida amigo, em termos de política você tem razão, a manipulação é feita descaradamente e as pessoas acreditam e votam nos que estão no alto do degrau e por incrível que pareça funciona, pois as estatísticas eleitoreiras no Brasil sempre acertaram até o dia de hoje. Mas eu, como blogueira e dentro do que eu amo fazer, os sites, não seria ninguém sem os contadores de visitas...e como não confio num só , boto dois....uml desmente o outro. Neste caso a verdade nas estatíticas têm sido verdades e não sei ficar sem elas, caso não as tenha, fico pensando que meu trabalho é vão....mas o incrível que noto é que mais de 80% das pessoas que passam nos meus sites não deixam menssagens, no entanto vão até lá diariamente, talvez esejam procurando críticas novelescas, grande abraço, Alda
Grande texto o teu concordo a 100% contigo,é desta manipulação que estamos fartos ,ter de aturar e ouvir politicos mediocres a mentir, contar vantagens onde elas não existem ,qualquer dia o estado vai dar um subsidio a quem for votar para que as eleições tenham valor juridico.
JOY
Interessantíssimo e correto texto, amiga. Mas pode crer: o problema não é só em Portugal. Também no Brasil, as próprias escolhas muitas vezes dependem dessas pesquisas, nem sempre confiáveis!
As estatísticas com a utilidade e a importância que têm acabam sempre por ser interpretadas conforme a perspectiva de quem as analisa...
ESTOU FARTA DE ESTATÌSTICAS!!!!!
Sobretudo, as que "pretensamente" ilustram o mundo da Educação....
Felizmente, sei os nomes dos meus "besouros"! Recuso-me s saber-lhes os números!
Eles são pessoas!!!!!
PERDIDO
Dá para perceber que é um mestre em estatística porém não se pretende aqui subalternizar o papel da estatísitca na compreensão dos fenómenos sociais. Antes pelo contrário: é indispensável para qualquer análise credível o suporte que a estatística lhe dá. Do que se trata aqui não é disso mas sim da manipulação estatística (título do post) para evidenciar uma versão dos factos conveniente ainda que enviesada. Só isso.
Tudo se manipula... e as injustiças são mais que muitas.
Beijinhos!
Vamos falando, trocando opiniões e mostrando o que nos preocupa e às tantas vão ver que não nos conseguem fazer engolir tudo o que querem.
manejam-se os dados em favor dos interesses...
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