Ana Cristina Pereira tem 40 anos e uma insuficiência renal crónica que a obriga a fazer oito a nove horas diárias de diálise. Apesar de ter pedido a redução de horário até fazer um transplante, o pedido foi negado, porque a lei que o permitia foi alterada. Há perto de dois mil docentes na mesma situação, de acordo com Mário Nogueira, dirigente da Federação Nacional dos Professores. A alternativa à baixa é continuar a dar aulas e parar o tratamento sempre que o corpo não aguentar.Professora de matemática e ciências de Setúbal, optou pela redução de horário ou da componente lectiva, mas foi surpreendida pela resposta da Direcção Regional de Educação de Lisboa, que refere que os artigos que permitiam fazer este pedido foram revogados.O vazio na protecção à doença deixa Ana Cristina indignada, por estar "há 20 meses a fazer diálise". A doença foi detectada em 93, quando teve um crise renal, mas esteve estabilizada até 2006. Nessa altura, iniciou a diálise e tinha 10% de capacidade renal. "A minha qualidade de vida foi reduzida", diz. Foi aí que começaram os problemas. Optou pela diálise peritoneal, menos lesiva que a hemodiálise, mas mais demorada. "Todas as noites faço oito a nove horas com a máquina que tenho em casa". Um especialista da junta médica do Serviço Nacional de Saúde atestou a sua incapacidade em 75% que, mais tarde, foi corrigida para 85%. Porém, "ao abrigo do novo estatuto", tem de trabalhar 35 horas. "Só pedi redução de horário! Não pedi aposentação nem meti atestado", desabafa. Hoje, dá aulas de ciências e alfabetização na escola e na junta de freguesia. São quatro níveis distintos.A segunda parte dos problemas começa com o pedido de transplante, com espera de três anos, em média. A solução estaria na família. "O meu filho ofereceu-se, mas detectou um problema e não pôde ser dador". O marido é totalmente compatível e já tem o processo clínico concluído desde Junho. Porém, a regulamentação da lei, que permite a doação entre casais e amigos, tarda em sair. Apesar de ter apelado ao hospital, à Autoridade dos Serviços de Sangue e Transplantação, primeiro-ministro e Presidente da República, a resposta apenas chegou da Comissão de Saúde: "a regulamentação é da competência do Governo". Até a portaria ser aprovada, Ana Cristina vai continuar a ter "noites mal dormidas, com a máquina a apitar e a precisar de trocar os sacos de soro. Tenho dores quando é feita a drenagem e a máquina tem de ser preparada às nove, porque tenho aulas cedo. Por vezes, tenho de parar o tratamento e descansar". A sua rotina é tão fechada que nem pode ir a um jantar. "O meu dia acaba e ainda tenho tanto para fazer... mas já consegui o mais difícil , que é encontrar dador compatível."
Fonte.DN 04-10-2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
29 comentários:
Vou por o Link do silencioculpado no classepolitica se não te importares.
abraço,
ruy
Não sei que te diga...fica tudo tão difícil quando nos obrigas a encarar estas realidades...mas ainda bem que o fazes...beijo...
Infelizmente casos como este começam a ser normais.
-A segurança social está falida, o modelo tem de ser repensado, não adianta fugir ao tema. A verdade, por mais que doa, é que não existe dinheiro nos cofres, então pratica-se o absurdo, como no caso aqui presente, procuram-se soluções que não passem pelo aumento da carga fiscal, pois esta já é manifestamente excessiva. Ou reformam a administração, reduzindo o despesismo, a vão acabar por deixar falir o sistema, o que será bem pior, pois aí nem sequer existe uma alternativa no sector privado. Aliás, o próprio país está tecnicamente falido, se fosse uma empresa, os credores já tinham colocado um processo de falência.
Isto anda tudo doido, os nossos governantes, deviam eles ir fazer exames médicos
Saudações amigas
Isto já começa a ser um caso de insanidade mental de quem legisla neste país. Já não há vergonha nem humanidade.
Cumps
tem tudo a ver com o mesmo problema: de que lado é que eles estão?...
Que saudades do tempo em que os professores eram respeitados e uns grandes senhores nas terras onde ensinavam... é que um professor tem por missão melhorar as pessoas e o mundo... entretanto, nos últimos anos os professores têm sido vítimas de toda a crueldade, de todo despejar de uma raiva incontida... não se sabe porquê!
Não bastavam já os filhos das classes médias com os seus mimos desmesurados, agora até a saúde lhes é negada...
Nunca é demais referir estes casos! Não sou professor mas podia ter sido!
Muitos beijinhos!!!
Descaso, desumanidade, crueldade...
Acima de tudo, falta de respeito pelo outro... interesses que falam mais alto...
*
... e, entretanto, seria uma simples questão de humanidade. Pena que dela os governos se esquecem...
Minha Amiga
Este é o Portugal que temos, este é o País que consentimos continuar nas mãos de Governantes que não Governam...
Até quando, pergunto eu!?
A insensbilidade dos burocratas e do liberalismo começa, finalmente, a trazer-nos a Cristina, o Manuel, o António, a Maria... como agora já não são só números, pode ser que os que ainda andam alegremente a pavonear-se começem a pensar que também a eles lhes pode acontecer!
Não tenho dúvida de que existiam muitos abusos, quer ao nível da classe professores, quer da função pública em geral, mas isto não invalida que se tratem os casos reais como mais um nº fora do abrigo de uma lei, que se anulou sem que houvesse outra que a substituisse!
Este país está a tornar-se demasiado burocrático e impessoal, desumano mesmo!
Um abraço
É a Lei da Selva e a desumanização galopante de tudo. Por que motivo e até quando?
O que dizer, a vergonha, perdão a falta dela continua.
Apelidar esta realidade de vergonhosa seria um elogio!!
Beijos.
Pude ver hoje a reportagem sobre este caso nos meios de comunicação e chegar ao ponto de dizer que isto é desumano. Não há respeito pela vida humana. A professora em questão está à espera que a lei já aprovada, seja decretada e assim esperar que o companheiro, ou marido, lhe possa doar um rim que até agora a lei não permitia. Mesmo já sendo permitido por lei, há que esperar que esta seja decretada, enquanto isto a senhora continua a sofrer...desumano! Quanto ao facto de não lhe reduzirem o horário de trabalho, já nem comento...é mais uma "burocracia" da desumanização!
E não há que ponha este governo em casa...
Uma cartola de papel
Guarda o sortilégio, a emoção
Um passo de mágica ao acaso
Às vezes solta luz ao coração
Boa semana
Mágico beijo
Silêncio culpado,
se as escolas onde " vivem" esses professores fossem visitadas pelos "governantes" com toda a parafernália jornalística atrás , seriam capaz de olhar estes professores cara a cara????
Teriam muita pena e faziam comentários "lacrimejAantes" ...
e DEPOIS????? O QUE FARIAM DE CONCRETO??????
PORQUE NÂO REGULAMENTAM AS JUNTAS MÉDICAS DE FORMA JUSTA?????
Estou sem voz, até porque é da minha classe profissional que se trata!!
Boa noite!
O grande problema que absorve todos os outros, sempre uns maiores que os outros é que os políticos representam a sociedade, i.e. todos nós.
Esta é a merda de ser português, vá-se lá saber por quê.
Cada vez mais nos confrontamos com situações semelhantes infelizmente, somos tratados como números sem o cuidado de se verem analisadas as situações, não vem para o caso ser professor, ou ter outra profissão qualquer, mas sim que é um ser humano e merece o respeito por isso só, respeito e consideração.
Beijos.
A que ponto chegamosésta gente só vê $$$$$$
Saudações amigas
Muitas vezes sinto-me envorgonhado se de ser portugues ao saber como o estado trata estes profissionais em caso de doença. Profissionais que tem a responsabilidade de elevar o espirito de todos aqueles que vão à escola em busca de saber seja em que nivel for. De certo que esta realidade não dignifica esta profissão que era, em tempos, muito dignificante e respeitada...para onde caminhamos?
um abraço
Antonio Delgado
Obrigado pelos comentários mas tenho tido uma vida profissional extremamente complicada, que me impede de dar "assistência" ao blog.
Contudo os meus mais sinceros agradecimentos
PTT
Boas a todos ,
Este é mais um caso vergonhoso ,até quando o governo vai ficar calado em relação não só a este mas a muitos casos de pessoas que manifestamente não podem trabalhar por incapacidades fisicas mais do que visiveis e as juntas médicas recusam aquilo que seria mais lógico ou seja a reforma ou redução de horário ou outra coisa qualquer adequada a cada situação.É dificil não questionarmos a capacidade psicológica e profissional das pessoas que constituem as juntas médicas para tomarem essas decisões.
JOY
Com a cegueira das poupanças, estes senhores teimam em cortar no essencial continuando a esbanjar no supérfluo.
Abraço do Zé
Pois...
Jocas
Olá.
Muito boa noite.
Devo dizer-te que estou verdadeiramente surpreendido, pela positiva, com o movimento solidário que conseguinos dinamizar.
Esta dinâmica comprova que os portugueses são solidários e que se preocupam com o outro.
Quanto à tua sugestão, aguardarei, até amanhã, para fazer um post de agradecimento a todos (foram muitos, mesmo muitos)aqueles que ajudaram na denúncia desta situação vergonhosa.
Beijinhos,
José Carreira
Enviar um comentário