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QUEDA DAS TAXAS DE NATALIDADE PODE «CONDENAR» PORTUGAL

Presentemente, a taxa de natalidade portuguesa é demasiado baixa, facto que se traduz num “sintoma de uma sociedade doente”, que não apoia os progenitores. As conclusões são de Mariano Ayala, médico de saúde pública do Hospital de Faro, à margem do Dia Universal das Crianças, instituído pelas Nações Unidas em 1954, que se comemora hoje. Em declarações à Lusa, o médico precisou que “a sociedade portuguesa está a ter um comportamento suicida generalizado”. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) estão à vista e indicam que cada mulher portuguesa tem, em média, 1,3 bebés, um valor que o médico considera ser demasiadamente baixo, relembrando, que, para manter a população portuguesa constante (ou seja, para que os nascimentos e os óbitos estejam em valores semelhantes), as mulheres deveriam ter, em média, 2,1 bebés ao longo da vida. Contudo, Mariano Ayala destaca que esta tendência para a baixa natalidade se regista um pouco por toda a Europa.“Portugal, com os portugueses de hoje, vai ter tendência a desaparecer”, assegura o médico, que insiste em sublinhar que esta constatação não tem por base qualquer sentimento racista ou xenófobo, servindo apenas para advertir que uma baixa taxa de natalidade [1,3 de média] é sintoma de uma “sociedade doente”, que não apoia os progenitores e as crianças. “Um valor pavoroso”, que sugere que o “País, tal como o conhecemos, está com a morte marcada”, considera Mariano Ayala, que é também o responsável pela investigação do cancro da mama no Algarve e coordenador de um rastreio realizado nos últimos dois anos na região. Envelhecimento da população marca actualidadeDados do INE demonstram que, desde os anos 30 do século passado, a população portuguesa aumentou de sete milhões para mais de 10 milhões de pessoas, mas esta subida explica-se essencialmente com o aumento da esperança média de vida, o que, aliado às baixas taxas de natalidade, levaram a um envelhecimento da população lusa. Também é de notar, a este propósito, que a taxa bruta de natalidade diminuiu de 28 por cento em 1935 para 10 por centro no ano passado; em 1976, a taxa bruta de natalidade já tinha diminuído para 20 por cento e, passados 10 anos, em 1986, já tinha descido para os 12,6 por cento. Os dados provisórios de 2006 apontam para a taxa mais baixa de sempre: A rondar os 10 por cento. Daniel Pereira da Silva, antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Ginecologia (SPOG), considera que a descendência portuguesa está ameaçada por falta de uma política demográfica séria. “Corremos o risco de sermos uma «cambada de velhinhos», cuja descendência está seriamente ameaçada”, observou Daniel Pereira da Silva, reflectindo que uma das principais causas para a diminuição de nascimentos em Portugal se deve ao facto de a mulher portuguesa “ser a que mais está no mercado de trabalho em comparação com o resto da Europa” e de não estar a ser substituída (pelo homem) nas tarefas domésticas tradicionais. O ex-presidente da SPOG recordou que, até há poucos anos, a legislação laboral era mais protectora, nomeadamente nos horários de trabalho. Porém, actualmente, a mulher está quase em permanência no trabalho. O profissional de medicina reconhece a urgência em criar “incentivos económicos verdadeiros”, no sentido de “inverter paradigmas e combater a baixa natalidade”. Deste modo, a sociedade portuguesa poderá vir a ser profundamente abalada e substituída por algo completamente diferente, com as populações estrangeiras a tomarem o lugar anteriormente ocupado pelos portugueses, reflectiu Daniel Pereira da Silva, salvaguardando também qualquer racismo ou xenofobia nesta análise.Crise nacional prejudica maternidadePaula, de 32 anos, trabalha e vive em Coimbra e não tem filhos. “Com salários de 500 euros é impossível dar alguma qualidade de vida a um filho”, reage quando se lhe pergunta por que escolheu não ter descendência até ao momento. “A culpa é do Governo”, dispara, assegurando que se o apoio estatal fosse justo, teria filhos com toda a certeza. “Se fosse como em França, que dão por cada criança um subsídio aos pais durante três anos, se houvesse incentivos, eu teria um filho, mas com salários de 500 euros é uma questão de responsabilidade, porque há coisas incontornáveis, nomeadamente a alimentação e as fraldas”, diz.A instabilidade laboral, o trabalho precário e os abonos de família “ridículos” são as razões para Paula não ter filhos, embora frise que tem vontade de ser mãe. Também na casa dos trinta e a trabalhar numa empresa de Aveiro, Ana, casada e com um filho de três anos, conta à Lusa que, provavelmente, não voltará a ser mãe, porque ter um segundo bebé implicaria “mudar de casa, mudar de carro e voltar a ter o ordenado congelado por pedir ausências para acompanhar o filho na doença”. “Quando não tinha filhos, via aumentos de ordenados de 10 a 15 por cento por ano, depois da licença da maternidade o meu salário praticamente congelou, com aumentos na ordem dos três ou quatro por cento”, diz, explicando que só terá um segundo rebento quando lhe puder dar a mesma qualidade de vida que está a dar ao primogénito.“No Luxemburgo, por exemplo, tenho familiares que, por terem um bebé, recebem de presente 2500 euros e, mensalmente, um subsídio superior ao ordenado mínimo nacional”, diz a jovem mãe.A falta de tempo e a disponibilidade emocional para conseguir brincar com um filho, nem que seja apenas uma hora por dia, faz-lhe também pensar em quão difícil seria ter duas crianças em casa. “Se eu tivesse mais um filho, dava em louca”, diz Ana, referindo que os horários laborais e o ritmo diário não permitem ter tempo para o mais importante: As crianças. Falta de tempo também está na origem Ana Luísa Amorim, 56 anos, funcionária em Faro numa empresa de capitais mistos, só teve uma filha, mas hoje reconhece que sente “falta de mais um descendente”. A incompatibilidade de horários com os do marido quando ainda trabalhava em Lisboa, a falta de tempo para estar com a filha e o dinheiro “contado” para o colégio são as causas que recorda por não ter tido mais filhos quando era mais nova. “Depois, perdi o comboio e não arrisquei com medo de complicações para a minha saúde e do bebé”, explicou.Kátia Ferreira, 31 anos e três filhos entre os sete meses e os sete anos é, nos tempos que correm, um caso raro. O Estado português dá-lhe mensalmente vinte euros por cada filho, mas tem esperança de, em 2008, ter aumentos consideráveis de benefícios fiscais depois do recente crescimento da prole.*
Espaços verdes são diminutos

Cada vez se vêem menos crianças nas cidades porque os espaços citadinos não são construídos a pensar nelas, afirma Elsa Rocha, pediatra no Hospital de Faro e membro da Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI). A médica afirma mesmo que “as cidades não são feitas a pensar nas crianças e por isso cada vez se vêem menos”, adiantando que os espaços permitidos a crianças são diminutos, porque tudo é considerado perigoso, sublinha. Apesar da protecção e existência de ambientes seguros para viver e brincar serem direitos fundamentais da criança, os jardins-de-infância, as escolas ou parques infantis rodeados de grades são o que resta dentro das cidades para os mais novos brincarem, alerta.2007 regista oito crianças afogadas e 11 atropeladas e pelo menos 11 que caíram de edifícios, pelo que o Governo terá de tomar medidas urgentes, alerta a APSI, precisando ainda que muitos acidentes poderiam ser evitados com medidas mais restritivas.Com esse mesmo intuito, a Associação para a Promoção da Segurança Infantil vai pedir amanhã ao Governo a adopção de medidas para reduzir a mortalidade infantil e as incapacidades provocadas por acidentes às crianças.
FONTE: Noticias da Manhã

23 comentários:

São disse...

Como é possível ter crianças com emprego precário, juros a subir, falta de apoios na rectaguarda, horários cada vez mais alargados...Como?!
Abraço!

Sara Hendrix disse...

Na minha escola ainda somos muitos, mas já ouvi falar deste problema na televisão.
Olha, já pus no blogue o prémio. Obrigado.

Afonso Faria disse...

Este tema daria pano para mangas, costas,calças, um fato completo! À partida afirmo sou privilegiado, sou pai de três filhos, não tenho, ninguém tem alguém!
Creio que a razão da baixa natalidade prende-se não com um factor mas com um pacote.(social,laboral, económico etc.Há quem decida não ter,por comodismo, egoísmo e outros, e ponto.Há cada vez mais quem queira e não consiga (razões ambientais, distúrbios psi, várias outras razões),há quem queira e não se arrisque eseencialmente por razões económicas e de incerteza num futuro (globalização incluída).Em última instância há que incentivar efectivamente a natalidade, mas não num faz de conta.
Se realmente este é um problema de afirmação de continuidade de um Povo, não concebo que se crie "cenouras" para seduzir principalmente os pobres. Estaremos a criar em potencial mais pobres, embora isso satisfaça os mentores (ricos) da criação de instituições para tratar dos probresinhos, brincar às caridadesinhas.
Mais equidade, mais justiça, mais respeito pelo HOMEM seria um bom começo!
(ups que me alonguei!!!)

joshua disse...

Sabes, Silêncio, só fui pai aos 36 anos. Ontem, portanto. Por irrealista que seja, Deus sabe, a minha mulher também, o quanto quero aumentar a minha família. Porém, os obstáculos são os que jazem expostos no teu texto mais os do meu contexto.

Trabalhar é como um escravo só para trocos. Uma pessoa tenta-se e, se não assalta bancos às segundas-feiras, imagina que lhe pode sorrir alguma coisa às sextas e sábados.

Quer dizer, nem me importo de gastar uns euritos preciosos no Euromilhões ou noutra coisa enganosa qualquer, a ver se, por um capricho improvável e impossível, me são abertas as condições com que conseguirei consumar o meu sonho de família.

Mas, pelo que vejo... Não há senão um horizonte de resignação acinzentando o meu caminho esforçado.

7 disse...

Um tema bem actual e que daria a bons debates. Em relação ao que foi dito, concordo com os dados fornecidos, não posso concordar totalmente é com as causas que levam a esses valores. Em tempos já pensei em ter um filho, não o tive e se calhar por egoísmo, dou a mão à palmatória. Contudo pergunto, na situação de desempregado actual assim como a minha companheira, como sustentaria hoje o meu possível filho? Um pau de dois bicos e com muita conversa à mistura. Sei que um filho é a alegria de uma casa, mas neste momento fico satisfeito por não ter tido essa opção, não queria que o meu filho sentisse na pele, as dificuldades do dia-a-dia. As crianças não têm culpa, sentem muito e sofrem muito com o que lhes rodeia. Numa boa educação está o futuro emocional delas. Neste momento (que já tem dois anos) penso que seria um mau Pai. Para terminar e acrescentar a estas minhas palavras, acrescento a frase do texto acima mencionada que traduz a minha realidade. - “Com salários de 500 euros é impossível dar alguma qualidade de vida a um filho”, reage quando se lhe pergunta por que escolheu não ter descendência até ao momento." - Perdoem o meu egoísmo, mas tem um propósito de não fazer sofrer um ser humano, para sofrer já basto eu....

António de Almeida disse...

-Um país que assegura gratuitamente a práctica de IVG através do SNS, e que ao invés, dificulta enormemente as consultas de auxílio á reprodução, pode esperar o quê? Sei que não existe dinheiro para tudo, mas as prioridades são definidas face á necessidade dum país, isto se Portugal fosse um país normal! Depois onde estão os incentivos fiscais, necessários aos objectivos dum país? Prioridades, ou antes a falta delas...

Marco Santos disse...

Ter um filho, hoje em dia, requer mais responsabilidade do que nunca. Responsabilidade a vários níveis.

Unknown disse...

Ter um filho revela-se um tarefa cada vez mais árdua.
As solicitações são mais do que muitas: a carreira profissional, a necessidade de formação ao longo da vida...
As respostas de apoio social não se coadunam com as necesidades das famílias.
Pior a crise económica, a asfixia dos casais (casas,carros, mobílias, electrodomésticos...) para pagar.
O desemprego espreita em cada esquina!
Que condições tem hoje um jovem adulto para contribuir para o aumento da taxa de natalidade?

Um problema sério que requer medidas de fundo e vontade, muita vontade, política.

Carreira

Pata Negra disse...

Silêncio,
isso da procriação e do aumento da população do planeta finito, tem muito que se lhe diga.
Voltarei com mais tempo. Tenho uma mensagem para nos entendermos em termos de imagem.
Um abraço imaginário

Francisco Castelo Branco disse...

Acho que este problema nao é só nosso. É global. Hoje em dia as pessoas, apesar de continuarem a ter relações estão mais ocupadas com os seus problemas e qualificações.
É um mal da nossa sociedade. Não é especifico de cada país.
Tem a ver com o mundo global e acelerado em que vivemos

Pata Negra disse...

Mas a coisa catrapisca! Julgo que teria a ver com o servidor onde está alojada a imagem!
Um abraço catrapisco

Manuel Veiga disse...

de grande interesse e oportunidade o teu post...

"Com salários de 500 euros é impossível dar alguma qualidade de vida a um filho..."

ANTONIO DELGADO disse...

Eu suponho que o maior anticonceptivo e impedimento à natalidade sao os modos de vida que as pessoas tem. Melhorar as suas condiçoes sociais e profissionais possivelmente ajudaria a sair desse quadro negro.

Um braço António

José Lopes disse...

Vivemos numa sociedade comandada pelo desígnio do lucro a qualquer custo, e somos dirigidos por governantes exclusivamente dedicados ao défice, e isso tem consequências. As políticas sociais são encaradas como previlégios, e sofrem cortes sucessivos. Os horários de tralho não são compatíveis com a vida familiar saudável, muito menos com um acompanhamento do crescimento dos filhos.
Os rendimentos são baixos e mesmo assim estamos sujeitos a qualquer momento, a engrossar as fileiras do desemprego. A protecção social é uma caricatura.
Falar em baixa demografia é uma redundância, porque todos sabemos a sua causa, os políticos também, embora prefiram estar calados como se nada se esteja a passar.
Cumps

tagarelas disse...

Sempre simpatica nas tuas visitas. Obrigda.
Eu tambem passo ca quase diariamente. O teu Blog tem substrato!
Quanto as taxas de natalidade...
Nao me parece que o problema seja o aumento do custo de vida. Detesto analizar tudo de uma forma economizista!Talvez o egoismo?! Preferir a carreira profissional, a situacao economica, o lazer e muitas outras desculpas prioritarias!
Eu acredito na liberdade individual. Mas em tudo ha' consequencias!
Um Pais envelhecido.

amigona avó e a neta princesa disse...

Houvesse outra política e outro galo (?) cantaria!
Amiga, desculpa mas a hiperligação não abre...está numa cor mais esbatida...ou então sou eu que não percebo nada...beijo...

quintarantino disse...

As taxas de natalidade baixas começam a ser, ou deveriam ser, um problema encarado de forma séria pelos estados e sociedades ocidentais.
O texto aqui escrito é
interessante, está bem estruturado e diz praticamente tudo.
Mais uma vez.

Tiago R Cardoso disse...

Desde já peço desculpa publicamente a amiga por comentar pouco ou algumas vezes desaparecer, mas ando extremamente cansado com a fisioterapia, mas pode ter a certeza que todos os dias passo por aqui e leio os seus textos.

É sem duvida um excelente texto, com o levantar de uma questão preocupante, ao falarmos da taxa de natalidade falamos do futuro de um país.

Cati disse...

Olá Silêncio!!!
Como tenho pouco tempo, vou só comentar a primeira parte do post - que é aquela que mais directamente me diz respeito!!!

Estou plenamente de acordo com a Paula, que citas no teu post. Como poderemos ter filhos com salários tão diminutos??

Como ter filhos sendo trabalhadora a recibos verdes??

Como ter filhos sem tempo nem condições para lhes prestar assistência? Sim, porque não é só pô-los no mundo...

Mais não digo agora porque ando a preparar um post sobre o assunto - depois vai lá espreitar!!!

Beijo grande!

Lúcia Laborda disse...

É minha amiga, vivemos realidades bem diferentes. Aqui não existe o menor controle de natalidade. Vimos o crescente número de crianças que nascem e ficam pelas ruas, sem a menor condição de sobreviver. Infelizmente, uma triste realidade. Nem tanto quanto aqui, nem tão pouco quanto aí
Fique com Deus!
Beijos

Jorge P. Guedes disse...

Bom dia!

É claro para mim que a baixíssima taxa de natalidade do país está directamente relacionada com o clima de profunda insegurança em matéria de estabilidade no trabalho.
Qualquer casal jovem, hoje, se não tiver "dinheiro de família",tem que pensar primeiro em pagar a casa, as prestações obrigatórias para ter um nível de vida minimamente agradável, as contas dos bens essenciais,... esó depois, se for lúcido, pode pensar em filhos.
Ora isso tem levado a que muitos não se casem ou constituam um agragado familiar antes dos 30 anos. Depois, vem a espera por uma estabilidade mínima que lhes permita criar um filho com um mínimo de conforto. Quandpo o conseguem, estão próximos dos 35 anos, o que faz, inquestionavelmente, que não cheguem a pensar num 2º filho, e isto quando chegam a ter um primeiro.
Claro está que os governos que temos tido não se têm mostrado minimaente preocupados com o facto da população estar a envelhecer.
Quanto menor o número de nascimentos, menos subsídios, menos abonos, menos despesas para o Estado.
É esta visão míope e economicista primária que vem reduzindo a população e que fará com que em 2050, o número de portugueses esteja calculado baixar para
8 milhões e meio.

Um abraço e já agora, aproveito para agradecer o "prémio" concedido ao Sino da Aldeia, mesmo sabendo com certeza que não sou grande adepto dessas iniciativas.
O meu reconhecido agradecimento, no entanto.

C Valente disse...

Com os estimulos do governo, é uma verdade.
Hoje não +e quem quer ter filhos, mas quem pode, e ai reside a maior dificuldade, emprego, custos tempo, eu sei lá é tudo a dificultar e chega-se a um ponto critico
Saudações amigas com u m beijo

Laurentina disse...

Ui este tema daria para muita tinta...
O estado deveria ser penalizado por também manter emprego precário, obrigar as mulheres a parir em ambulâncias,por,... por,... por,... por,...
O estado português já bateu no fundinho.

Beijão grande