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ESCOLA VERSUS IGUALDADE DE OPORTUNIDADES (IX)

Sílvia Madureira - professora de matemática*
JOGOS COM MATEMÁTICA -http://jogoscommatematica-silvia.blogspot.com



A escola promove a igualdade de oportunidades?


Na minha opinião...não. Apesar de, ainda existirem bons estabelecimentos de ensino em Portugal, estes ficam muito aquém daqueles que efectivamente deveriam existir. Mas...vou justificando a minha resposta ao longo deste texto.

Neste momento estou a leccionar numa escola básica com 3ºciclo no Norte de Portugal, situada numa zona pouco evoluída em termos educacionais, pouco civilizada...na qual existem muitas carências económicas e afectivas. Fui colocada nesta escola em Novembro devido à substituição de uma professora com uma gravidez de risco. Esta escola fica a quarenta e cinco minutos da minha habitação, deslocando-me na minha viatura diariamente para a escola. Por vezes, observo a vida dos outros colegas que chegam de terras mais distantes. Houve um período no qual não podiam vir à escola pois a estrada pela qual passavam foi interrompida pela GNR devido à neve. Uma das minhas colegas, professora mais velha com a qual simpatizo devido ao seu espírito juvenil, teve inclusive um acidente devido ao nevão na serra. Esta professora já tem muitos anos de serviço mas diz que a área dela que é Português está "sem vagas" na sua zona. Muitas vezes os alunos ficam sem aulas devido a estas situações, não seria mais benéfico tentar colocar os professores mais perto das suas habitações? Claro que as vagas não chegam para todos mas...deveria-se evitar situações como estas: um professor do Norte a leccionar no Algarve e um professor da mesma área do Algarve a leccionar no Norte.


Denoto que, naquela escola existem professores muito empenhados, trabalhadores cujo trabalho se estende a toda a comunidade escolar.

Relembro a professora de Educação Visual que fez uma campanha para a defesa do rio do Vale do Bestança, tendo efectuado trabalhos com os alunos e estes demonstraram-se muito motivados com esta actividade, no âmbito da Área Projecto. Mas...denoto na maioria dos professores um certo desgaste psicológico, uma certa melancolia. Reparo também que, as mudanças no sistema educativo têm indignado alguns colegas.


Eu sou a favor de uma mudança que tenha em atenção os horários dos alunos, que coloque os professores próximo das suas áreas de residência dentro das possibilidades, que promova o bom relacionamento entre colegas, que verifique o funcionamento das faculdades e incuta nos futuros professores a diversificação de estratégias no ensino...esta era a mudança que poderia sugerir, não esquecendo o Conselho Executivo das escolas que deveria ser escolhido tendo a devida consciência que é o núcleo fundamental da Escola.


Hoje em dia, ser-se bom professor acarreta um despesismo que a maioria dos professores não se sujeita, acarreta uma entrega que prejudica uma vida pessoal...Porque é que estou a dizer isto?


Este ano estou bem em termos de despesas mas o ano passado fui para Tavira com um horário de doze horas cujo ordenado fica muito aquém de um ordenado completo. Eu costumava dizer que "andava a pagar para leccionar". Nesse ano pagando casa, alguns manuais e deslocamento...posso dizer que tive um prejuízo substancial. Eu gostei da experiência, os alunos eram bem comportados, a cultura era diferente, o clima era agradável...mas não gostei como é óbvio da minha sobrecarga económica.


Este ano tenho uma turma CEF (cursos de educação e formação) que não têm manuais. Os tinteiros são caros e fichas todas as semanas torna-se uma tremenda desorganização e eles esquecem-se delas...Estou a pensar neste momento levar os meus manuais (uns cinco) para os colocar a fazer exercícios em grupo. Mas...a maioria destes manuais foram comprados por mim...apenas me dão os adoptados na escola. Esta ideia foi-me sugerida numa formação que frequentei a semana passada...mas...quantos professores farão isto?


Nesta turma é muito complicado leccionar porque além de não terem pré-requisitos nas disciplinas, estão ali porque têm que estar. A semana passada tomei medidas para com um aluno que não fez nada durante a aula. Já tinha tentado a conversação com ele inúmeras vezes...mas não adiantou. Na reunião que fazemos semanalmente, um dos colegas mais velhos diz-me: "o aluno desde que não incomode pode estar a fazer o que entender segundo a lei." Eu pergunto-me a mim mesma "em quantas aulas o aluno não fará nada?".


Os conselhos que tenho recebido dos colegas é "a gente faz que não vê muita coisa". Mas...como eu vejo com olhos de ver e como tenho que atribuir uma nota aos alunos digo como disse na reunião perante professores mais velhos e da minha idade "este aluno há-de sair daqui a saber multiplicar, somar e dividir."


Sei que às vezes erro...não sou perfeita e sei que terei muitas arestas para limar até ser uma excelente professora. Mas...tenho-me esforçado. Não gosto quando os professores apresentam passividade perante os alunos que dá-me dó: "deixa lá, a Liliana é limitada."
Ser bom professor implica muita dedicação na preparação de aulas motivantes e com diferentes estratégias...quantos professores terão esta preocupação? Este espírito penso que deveria ser incutido na raiz ou seja na faculdade.


O maior problema é que quando a turma não tem um núcleo de professores unidos o resultado reflecte-se na própria turma.


Bem...apesar de conhecer a opinião de muitos alunos porque todos os anos faço a auto-avaliação gostaria de ouvi-los para saber o que realmente vai nas suas almas para além do que já sei.


E...assim me vou construindo conjuntamente com os alunos nesta tarefa de importância muito relevante que é educar e seguindo a profissão por mim escolhida que é das mais bonitas de todo o mundo.



*Sílvia Madureira, Professora de Matemática, com licenciatura no Ramo Educacional, com 28 anos de idade, já leccionou no Sul do país, em Trás-os-Montes, no Norte e para além destas funções trabalhou num centro de explicações em Penafiel.

67 comentários:

SILÊNCIO CULPADO disse...

Silvia
É com orgulho que encerro este conjunto de textos de que nos dão uma visão do que é a escola na perspectiva do professor.
E é com orgulho que publico o teu texto. O texto duma pessoa de grande riqueza humana e de grande entrega ao ensino. A minha mais jovem contribuidora do lado da docência, alguém que foi amadurecendo, abrindo e acompanhando a par e passo, procurando corrigir, melhorar e aceitar novos desafios.
Agradeço do fundo do coração ao António Almeida que te tenha instigado a apresentar o texto.
Um texto que comentarei depois. Para abertura eu tinha que te dizer isto.

Teresa Durães disse...

(já percorreu portugal a ensinar...)

neste país tem de se ser cigano para dar aulas. montar a caravana fazer paragens ao lado da escola do ano.

enfim.

bons e maus profs,como em todas as profissões

quintarantino disse...

Apreciei. E deixo um desafio: nunca chegue ao ponto daqueles que lhe dizem "deixa lá, fulana é limitada". Os que assim sabem se pensassem, saberiam que estava a dizer que são eles que não conseguem lá chegar!

7 disse...

Mais um excelente comentário na 1ª pessoa. Aprecei a sua forma de estar para com a vida. Tudo o que disse foi muito importante, mas aponto estas frases em anexo do que disse, como um acto de quem disse tudo: "Ser bom professor implica muita dedicação na preparação de aulas motivantes e com diferentes estratégias...quantos professores terão esta preocupação? Este espírito penso que deveria ser incutido na raiz ou seja na faculdade."...."Claro que as vagas não chegam para todos mas...deveria-se evitar situações como estas: um professor do Norte a leccionar no Algarve e um professor da mesma área do Algarve a leccionar no Norte."
É gritante ver as injustiças das colocações, ao serem feitas desta maneira. Em segundo lugar, realmente à professores, que eles é que estão "limitados" e não as "Lilianas". Para terminar acrescento um ponto já focado noutras situações, a educação dos alunos, a educação dos seus pais e a educação que estes deveriam ter quando se fala em escola. Não se está a falar de um estabelecimento prisional. Há que mudar várias mentalidades, para que o sistema de ensino não "morra". As mentalidades foram se perdendo com a passagem dos anos e pergunto: Como? E porquê? No meu tempo não era assim...e só tenho 34 anos.
Abraços Pecadores

Mary disse...

Este relato comoveu-me pela simplicidade e pelo espírito de sacrifício com que a Sílvia se entregou à nobre missão de ensinar. E fiquei indignada com o muro de indiferença que parece abater-se sobre a realidade dos professores que, segundo parece, vem enformada de procuras individuais para suplantar problemas difíceis sem os necessários apoios do sistema.
Também retive essa saga penosa de andar de terra em terra, com sacrifícios de vária ordem. Pensar que se podia obviar a maioria dos inconvenientes havendo da parte dos governantes preocupações humanistas para com quem ensina. Estas preocupações não envolveriam encargos financeiros mas apenas respeito como é o caso de não se colocar um professor o Norte no Algarve e um do Algarve no Norte.
Sílvia os meus parabéns por seres quem és e pelas capacidades que exibes.

carlos filipe disse...

Triste sina, triste sina
deste país recessado
como sofre esta menina
na área do professorado.

Dá tudo e pouco recebe
mas ainda assim persiste,
neste Portugal que insiste
em ter reis e ter plebe.

Silvia, jovem e guerreira
capaz de muito lutar
hás-de conseguir vencer
e o sucesso alcançar.

Nesta merda de país
que te abandona e não aquece
só é rei quem é juiz
e nunca quem o merece.

Silvia Madureira disse...

Silêncio Culpado:

A minha filosofia de vida é tentar ser cada vez melhor naquilo que faço e naquilo que sou...tenho a agradecer ao ensino pois o facto de conviver com pessoas tão diferentes e alunos com situações tão difíceis faz-me ver o mundo com outros olhos.

Este teu blog também me permitiu umas excelentes reflexões.

beijo

Silvia Madureira disse...

Teresa Durães:

Tens toda a razão:

num ano estive um mês em Vila Real e depois parto para Tavira. Nem me cheguei a adaptar à casa de Vila Real.

beijo

Silvia Madureira disse...

Quintarantino:

Concordo contigo. Mas...quando se apercebem que nos regemos por princípios diferentes dos deles começam a "olhar de lado" para aquele professor que se preocupa com isto ou com aquilo...

Para alguns professores quanto menos trabalho menor e se eu incomodo muitas vezes o director de turma...começo a ser a chata...mas eu aguento.

beijo

Silvia Madureira disse...

7 pecados mortais:

O ensino tem piorado de forma vertiginosa. No meu tempo e tenho 28 anos sinto muitas diferenças, sinto que o ensino era movido por motivação de alunos e professores em prol de um objectivo.

Desde essa época vejo que piora de dia para dia com leis e mais leis sem reflexo...onde vai parar?

beijo

Silvia Madureira disse...

Mary:

Obrigada mas sinto que ainda tenho muito para aprender...sei que tenho sacrificado a minha vida pessoal em prol da minha profissão, sinto que faço esforços de ordem económica e que os terei que agradecer aos meus pais...mas ainda poderei ser muito melhor.

Acredito que quem comanda o sistema educacional conseguirá um dia entender o caos que se está a criar.

Obrigada pelas palavras de incentivo.

beijinhos

avelaneiraflorida disse...

Depois de ler este texto da colega Silvia, gostaria de perguntar: e como conciliar esta vontade expressa de ser PROFESSOR com o novel Documento que regulamenta o estatuto do Aluno????
Que é mais importante, desenvolver a prática pedagógica com alunos diferenciados ou trabalhar para "estatísticas" maciças, de avaliações ditas de sucesso, quando a realidade é bem diferente????
Se os professores, neste momento, estão três anos numa escola, e são os colegas contratados que "apagam os fogos" das substituições temporárias, como conseguir que reúnam esforços para um trabalho CONJUNTO em proveito da qualidade das aprendizagens?
não são perguntas directas para a colega Sílvia, naturalmente! foi mais um pensar por escrito...
Bom Trabalho, colega Sílvia!!!

Silvia Madureira disse...

boris:

lindo poema...é verdade já chorei algumas vezes quando a senhoria da casa no Algarve me exigia mais dinheiro e eu não tinha para lhe dar. Chorei quando deixei os meus colegas aqui...
Mas...os alunos foram fantásticos nesse ano e é isso que guardo.

beijo

Silvia Madureira disse...

Avelaneiraflorida:

É verdade que mudanças de professor não ajuda em nada, quer ao trabalho do professor quer ao trabalho dos alunos...mas estas mudanças muitas vezes ocorrem por situações de distanciamento. Existe um professor que entretanto arranja uma escola mais perto de casa e abandona a que se encontra mais distante.

Novamente foco...as más colocações

beijo

René disse...

Um percurso, uma vida que ainda está no princípio e já está tão percorrida.
Como eu te entendo Sílvia quando dizes que o director não gosta de ser incomodado e os professores olham de lado, e dás tudo até ao limite e mesmo assim não chega.
Como eu te entendo!....

Robin Hood disse...

A Sílvia Madureira ainda é muito pura e ainda bem que ainda é muito pura porque isso lhe dá coragem para pôr dinheiro do bolso e manuais próprios à disposição dos alunos.O tempo contamina-nos e torna-nos maus.Vou ter pena se um dia destes a encontrar e já não for assim. Não lhe desejo felicidades porque seria hipocrisia da minha parte perante a situações que descreve o que lhe desejo é capacidade para resistir e que surjam melhores dias.

Silvia Madureira disse...

René:

Entendes pois...como eu existem centenas de professores e alguns infelizmente lutam por um lugar que nem recompensa económica lhes acarreta.

beijo

amigona avó e a neta princesa disse...

".... Uma das minhas colegas, professora mais velha com a qual simpatizo devido ao seu espírito juvenil...

...Esta professora já tem muitos anos de serviço...

...não seria mais benéfico tentar
colocar os professores mais perto das suas habitações?...

...Denoto que, naquela escola existem professores muito empenhados, trabalhadores cujo trabalho se estende a toda a comunidade escolar.

...Relembro a professora de Educação Visual que fez uma campanha para a defesa do rio...

...trabalhos com os alunos e estes demonstraram-se muito motivados com esta actividade, no âmbito da Área Projecto.

Mas...denoto na maioria dos professores um certo desgaste psicológico, uma certa melancolia.

.....o Conselho Executivo das escolas que deveria ser escolhido tendo a devida consciência que é o núcleo fundamental da Escola.

Sei que às vezes erro...não sou perfeita e sei que terei muitas arestas para limar até ser uma excelente professora. Mas...tenho-me esforçado...

Ser bom professor implica muita dedicação na preparação de aulas motivantes e com diferentes estratégias...

...a profissão por
mim escolhida que é das mais bonitas de todo o mundo..."

Eu também acho Silvia...também acho que é uma das profissões mais bonitas mas também de grande responsabilidade...Salientei algumas passagens do teu texto que considero muito importantes...mostram-me uma jovem professora, interessada, inquieta, disponível...já tens alguma experiência mas sei que com a tua vontade irás singrando na vida e conseguirás, tenho a certeza, ultrapassar grande parte dos obstáculos...outros deixar-te-ão sem saberes do teu norte, mas a vida é mesmo assim...
parabéns colega...parabéns amiga, permite que te trate assim...gostava de te ter conhecido...sei que, contigo, não ia haver problemas de idade...mas sabes, encontrei muitas Silvias por aí...hoje recordo com ternura os momentos de despedida e sei que do encontro da vida ficaram as marcas no nosso pensamento mas, muitas vezes, também na nossa conduta...sei que contigo é assim e vai continuar a ser assim...UMA APRENDIZAGEM permanente de dádiva e partilha que te fará um ser humano cada vez mais rico e que fará com que os alunos que se vão cruzando contigo se tornem, também eles, uns seres humanos melhores...
nunca desistas...a vida é um permanente desafio...está em nós sabermos, ou não, responder...
beijo...

Silvia Madureira disse...

Walter:

Tudo o que faço é por gosto, ou seja eu recebo uma recompensa económica enorme quando vejo os alunos aliciados com o que proponho fazer. É um esforço económico que faço...mas acredito que daqui a alguns tempos a educação terá dias melhores.

Como uma vez disse a um professor que apreciava imenso "obrigada pelo amor que dedicou à educação", se algum aluno me disser isto eu esqueço o resto.

Vamos em frente...

beijo

Silvia Madureira disse...

Amigona:

Muito obrigada pelas palavras carinhosas. Eu realmente tenho uma apetência para procurar colegas mais velhos...penso que têm muito para me ensinar...e eles reconhecem esse lado em mim e dão-me muitos mimos...

Também gosto dos colegas mais novos mas é diferente...procuro os mais velhos como se fossem o meu porto seguro...normalmente os mais novos têm a mesma visão que eu, enquanto que os mais velhos abrem os meus horizontes.

beijinho

SEMPRE disse...

Silvia
Estraordinário relato e depoimentos que revelam uma maturidade e consciência exemplares.
Que nunca a força de falte nem a recompensa que procuras.

Eternamente disse...

Efectivamente se os próprios professores se sentem em desigualdade uns perante outros, se acusam desgaste psicológico pelas circunstâncias adversas, como é que a escola pode ser inclusiva?
E se não há uma rede pré-escolar eficaz que permita equiparar as condições de partida, a desigualdade de oportunidades é uma certeza e o seu contrário um mito.
Um excelente relato, este que a Silvia nos proporcionou.

G.BRITO disse...

Gostei deste texto da Silvia, sim senhor. Revela trabalho e empenhamento na sua árdua missão de ensinar.
As dificuldades também as percebo mas é preciso dar tempo ao tempo porque os resultados das actuais reformas do ensino não se vêem dum momento para o outro.
Boa sorte para o futuro

Bloga Comigo disse...

Então queres blogar comigo! Ahahahah
Vamos lá seroar.

Bjos

O Puma disse...

BELO TEXTO

COM UM MINISTÉRIO INGRATO

Menina do Rio disse...

Difícil comentar, querida.
Aqui no Brasil as escolas são medidas pelo que se pode pagar; ou seja: Escola pública = Nível baixíssimo; poucos terão a chance de entrar pra faculdade e na verdade a maioria sai com diploma de nível médio e mal sabendo escrever a própria língua. Nas escolas pagas, o índice de aprovados varia de acordo com o preço da mensalidade e quanto maior esse valor, mais chance de ter um diploma e uma oportunidade melhor na vida. Como a maioria está fora do padrão por falta de recursos financeiros, o que se herda é um futuro incerto.

beijinhos

errando por aí disse...

A situação portuguesa não será tão desagradável como a apresentada pela Menina do Rio mas na prática o caminho que se pretende é esse. Embrulha-se a realidade em papel coloridos umas vezes mais bonito outras mais feio mas o que se pretende é que a escola não combata as desigualdades para que as elites continuem a reproduzir-se e a manter os seus privilégios.

Zé Povinho disse...

Ser professor não é fácil, porque não bastam as dificuldades naturais de cada profissão, ainda se junta a instabilidade e as reformas contínuas muitas vezes sem nexo e sem o envolvimento dos intervenientes no processo educativo.
Cada vez mais digo que para exercer uma profissão com qualidade é preciso gostar-se do que se faz.
Abraço do Zé

milhafre disse...

em primeiro lugar parabens pelo testemunho e pela frontalidade e clareza com que expoes o que sentes e e vives, depois parabens pela forma como te entregas a mais importante das tarefas do mundo ensinar.
estou dentro das atribulações da vida de professor... desta senda que é correr o país com a casa as costas, sem ter sequer tempo para nos fixarmos e estabilizar... as vezes pergunto-me o que é feito do ideario do professor como um interlocutor da comunidade conhecedor das pessoas e da cultura locais...
temo que esteja perdido...
pergunto-me também como é possivel querer criar enredos e elos que motivem os alunos a aprender e não chega a ser minimamente possivel,uma vez que se corre de escola em escola.
Depois há a velha história dos curriculos e das reformas para europeu ver que nem sequer tem em conta os professores e que lhe são impostas quase sem tempo de adaptação, tais como curriculos, cargas horárias, educações formação e assim.
Não digo que os cursos educação formação não são importantes, são-no de facto, são muitas vezes a oportunidade de regresso a escola,
não podem (e estão muitas vezes a faze-lo) é enveredar pelo mesmo erro que era fazer cursos de formação profissional apenas para fazer e cursos sem escolher o perfil de candidatos e sem aplicabilidade dos mesmos.
Urge repensar a escola e as suas funções sociais, mais do que os curricula, urge dignificar a figura dos professores e de todos aqueles que intervem na tarefa de ensinar.
Tens razão quando recusas a apatia e o conformismo, a tendencia a reduzirmos as pessoas as suas limitações é francamente errada.
nunca te rendas

bem ajas

sa bes que torço por ti

Tiago R Cardoso disse...

Admirável quando um professor se mantem fiel aos seus valores e luta todos os dias para não ser atropelado pelo sistema.
Enquanto uns desistem estão lá nas escolas mas deixaram de ensinar, passaram a transmitir informação, enquanto ouros continuam a lutar para ensinarem e dão o seu melhor, sabendo que ali à sua frente está o futuro de um país.
Talvez só passando por essas situações se possa realmente saber e dar valor a uma profissão fundamental na nossa sociedade.

Oliver Pickwick disse...

E a saga encerra-se com mais um brilhante artigo. Além do mais, escrito por uma professora de matemática, a minha disciplina preferida nos tempos de colégio.
Querida Lídia, aguardamos a próxima série, por certo tão esclarecedora como esta que se encerra.
Beijos! E para a Sílvia também.

ARTUR MATEUS disse...

Só a educação liberta o homem e pode proporcionar-lhe uma vida melhor. A educação que temos não tem estes objectivos.
Esta descrição nua e crua desta professora elucida quem não estiver elucidado.

Dalaila disse...

assim se é professor em toda a sua plenitude. Maravilhoso

NÓMADA disse...

A dignidade deverá ser uma referência na base de valores que nos são transmitidos na escola e na família. Quando aos professores lhes são retiradas as condições básicas necessárias para o exercício da docência com dignidade, toda as suas valências ficam restringidas. Porque educar é muita mais que ensinar matérias. Aliás a Sílvia explica como é ela como professora e como é o caso dos outros que entram no deixa andar.
Belíssimo relato, Silvia.
Beijinhos

Silvia Madureira disse...

Ninho de cuco:

Eu também peço para que a força nunca me falte e como todas as pessoas tenho os meus momentos de desânimo...isto porque sendo uma pessoa muito consciente sei que esta profissão está a atravessar um momento instável. Mas...eu acredito que a justiça vence sempre, embora possa demorar.

beijo

Silvia Madureira disse...

Louise:

Tens toda a razão e o pior é que todas as mudanças que ocorrem no ensino nunca são para melhorar o que realmente deve ser melhorado. As medidas que se tomam servem apenas para dizer que se faz alguma coisa.

beijo

Silvia Madureira disse...

Gil:

Eu nem sei se as medidas desta reforma serão as melhores...tenho as minhas dúvidas. No entanto, estou para o que der e vier.

beijo

Silvia Madureira disse...

Menina do rio:

Aqui está ficando muito próximo dessa realidade, infelizmente.

beijo

Silvia Madureira disse...

Sheila:

Eu tentei dizer isso mesmo à Menina do Rio...para lá iremos...infelizmente.

beijo

Silvia Madureira disse...

zé povinho:

É isso mesmo...e quem não o faz por gosto acaba por desistir com tantas dificuldades.

beijo

Silvia Madureira disse...

Pedro:

Sei que sim, que torces por mim.

Concordo com tudo o que dizes.

Enquanto o professor andar com malas às costas será muito difícil obter o reconhecimento de uma localidade.

beijo grande e força

Silvia Madureira disse...

Tiago:

É isso mesmo que me encoraja! Saber que não está tudo perdido e que posso ajudar muitos miúdos...

beijo

Silvia Madureira disse...

Oliver:

Obrigada e um beijo também para ti!

Silvia Madureira disse...

Abel:

É o conhecimento do papel da educação que me predomina na mente e me faz todos os dias tentar dar o meu melhor...ali no estrado, sendo o aluno rico ou pobre.

beijo

Silvia Madureira disse...

Dalaila:

Obrigada.

beijoca

Silvia Madureira disse...

Nómada:

Obrigada pelas tuas palavras. Muito bonitas e motivantes para mim.

beijo

O Árabe disse...

Pergunto-me, amiga, quando os governos atinarão para a cristalina verdade de que só a educação constrói um futuro melhor...

Teu mais que tudo disse...

A Sílvia Madureira expõe com precisão e realismo o que é a vida dum professor no contexto actual e qual o espaço de entrega que tem para os seus alunos.
Efectivamente há situações que retiram espaço de manobra e não abonam o nosso sistema de ensino.
Igualdade de oportunidades como?

Silvia Madureira disse...

Árabe:

É verdade...penso que quem formula as leis tem que pensar mais na educação e não no seu proveito próprio. A verdade é que todas as leis que têm sido formuladas só visam o bem estar de quem as formula.

beijo

Silvia Madureira disse...

Joseph:

O meu texto foi um complemento do teu...embora eu ainda continue enraizada neste sistema...não posso dizer que é para toda a vida...

Neste momento estou de corpo e alma na educação.

Ser professor hoje também exige muita sensibilidade.

beijo

Silvia Madureira disse...

Carol:

Continuo a dizer que me dói ver pessoas como tu fora do ensino e saber que poderíamos ser colegas e não somos...acho que esta situação é injusta para ti e o facto de estar a trabalhar e ver pessoas como tu fora de uma escola faz-me sentir mal...muito mal...porque eu tenho direito e tu não? Este sistema é muito injusto.Sei que hoje estou e amanhã posso não estar mas...neste momento sinto-me mal.

beijo e parabéns pela tua dedicação

Rui Caetano disse...

Esxcelentes textos sem dúvida.

António de Almeida disse...

-Começo por acrescentar, não é exclusivo dos professores, mas para se ser bem sucedido, não importa a actividade, será necessária muita dedicação. Agora os professores, a política educativa, sofre cortes orçamentais, como tudo neste país, obrigando os profissionais a viver o dia em dia em perfeito miserabilismo. Isto vai afectar o desempenho, com consequência nos resultados. Quanto á deslocalização, é um factor com o qual estamos todos de acordo, mas nem sempre é possível. Claro que para mim o pecado original está no modelo social e político do país, com consequências ao nível da educação, mas isso é outra conversa, pelo que pude no entanto aqui constatar, a Silvia gosta mesmo do que faz, e isso é meio caminho andado para o sucesso. Continue e felicidades!

Laurentina disse...

Silvia,
minha querida fiquei tão entalada ao ler o teu texto que fui embora sem deixar comentario e agora voltei para o reler.
Guardei-o para mim para oportunamente apresentar num grupo de trabalho, espero que não te importes...
Quanta ternura,delicadeza e pureza de sentimentos ao descreveres a tua vivência profissional , nunca deixes de lutar, nem te deixes vencer.
Tens pouca experiência isso não é importante, mas mostras muito profissionalismo.
ES UMA BOA PROFESSORA.

Para ti um beijão muito grande

C.Coelho disse...

A Sílvia é daqueles professores que têm espírito de missão e fazem do ensino a sua vida. Uma verdeira professora a sério. Mas que país é este que se orgulha dum sistema de ensino que deixa os professores desmunidos perante tantas dificuldades?
Nunca desistas, Sílvia!

Manuel Veiga disse...

beijo. gostei muito de ler...

São disse...

Penso que ainda venho a tempo de dizer que é perfeitamente lamentável o pouco caso que em Potugal se dá á Educação, Sa+ude e Justiça!

Peço à Sílvia que se arme de resistência e brio para continuar a sua luta por um ensino melhor!

Bem haja!!

Mária Correia de Almeida disse...

Cara professora
Estou a fazer doutoramento sobre o professor António Augusto Lopes e sei que a professora Sílvia Madureira foi sua(dele)aluna.
Gostaria de entrar em contacto com a Sílvia para a entrevistar.
Se ela o autorizar, gostaria de ter seu(dela) mail.
Atenciosamente
Mária Almeida

Silvia Madureira disse...

António de Almeida:

É isso que vou fazer...com muito trabalho pela frente (eu sei) mas tb com muita força de vontade.

beijo

Silvia Madureira disse...

Laurentina:

Eu é que fiquei encasulada...eu sei que me dedico bastante, eu sei que me tenho esforçado...mas ainda tenho muito para percorrer.

Tu tens ajudado a este meu caminho este ano, tenho sentido muita mais confiança com as tuas palavras...

Podes usar o meu texto se isso ajudar outras pessoas que caminham para esta profissão...
Saliento: um professor tem que ser muito sensível hoje, porque senão começa a entrar numa fase de "deixa andar".

beijo

Silvia Madureira disse...

Mária Almeida:

O professor Doutor Augusto Lopes vai permanecer na minha memória toda a vida.

Porquê?
Foi o professor que mais me marcou em todo o processo de ensino na faculdade, foi o professor que acreditou sempre em mim, foi o professor que me ouviu sempre que precisei...

Tenho todo o gosto em participar contigo...

Para além disso Ele foi o meu padrinho de curso...

o meu email é:
sildav@sapo.pt

um abraço

Kalinka disse...

É com orgulho que encontro estes posts muito interessantes, com casos de professores com exemplos, da realidade de como está este País.

Textos de que nos dão uma visão do que é a escola na perspectiva do professor.

PARABÉNS pela ideia.

Silvia Madureira disse...

Kalinka:

Desejo sinceramente que a tua sobrinha tenha um coração o mais rapidamente possível...se poderes faz um texto explicando o caso e eu faço propaganda no meu blog.

beijo de esperança

Zé do Cão disse...

Tive professores, e professoras, todos sem excepção muito bons. Juro, muito bons mesmo, mas quando aluno, não dei o devido valor a quem com tanto carinho dava tudo de si para ensinar. Só mais tarde sabemos e comprendemos quantos vezes fomos injustos com esta classe adorável.
Sempre foi uma profisão desgastante, mas nesta altura é uma profissão frustrante.

Silvia Madureira disse...

zé do cão:

tudo se há-de resolver...

beijo grande

joshua disse...

A Sílvia deu um testemunho genuíno de empenhamento, de pureza e fé na sua acção ensinante. É bom que aproveite esse espírito, enquanto dure.

Acho que entre os meus 26 e os meus 33 anos, fui bem como ela, muito puro e muito crente na minha acção docente e com entrega absoluta. Sentia que fazia a diferença. E fazia mesmo. Hoje sinto que faço a diferença, mas estou desanimado de mais para fazê-la: o discurso vigente e o que se vai fazendo instaura desânimo, envenena a confiança, cria milhares de grevistas de zelo porque onde se semeia a desesperança não se pode colher esperança e onde se semeia a desconsideração não se pode ir buscar empenho e entrega absolutas.

Agora sou um animal ferido, magoado na minha dignidade profissional, perseguido nela. Tornei-me feroz e cínico no meu olhar sobre todas as coisas do Ensino e da Política do Ensino. Só vejo ingratidão, petulância, abuso e ignorância rasgando de injustiça e maldade todo o Sistema. Vejo como todos bovinamente se submentem a tudo. Têm filhos. Esposas. Maridos. Submetem-se. Procuram agradar nervosamente ao colega do lado, ao Coordenador a quem bajulam de zelo todo o ano e junto de quem urdem murmúrios contra quem não bajula.

Vejo o triunfo da crueldade e da pedantaria: aqui, em O Silêncio Culpado, pude ler muitas das coisas que confirmam as minhas piores intuições e até conhecer colegas que se situam justamente nesse posto, embora o disfarcem com um paleio oposto.

Portugal, no que respeita ao Ensino, enlouqueceu.

Tenho de me afastar de essa loucura em que se tornou Portugal, no plano do Ensino. Não posso deixar-me contaminar com um espírito, que por vezes roçou esta caixa de comentários, de secura, de frieza, de uma objectividade assassina. Descobri que há sempre bloggers de quem nunca poderei gostar do coração por lhes ter radiografado nojenta malícia. São aqueles para quem a informação de nós é uma arma contra nós. São aqueles empedernidos de autossuficiência e que nunca degelam para a mortalidade e a falibilidade nas pessoas porque são sempre infalíveis e blindados.

Mas temos de estar gratos por todas as coisas que nos permitem acabar com ilusões. E até disso sou capaz de estar grato.

PALAVROSSAVRVS REX
Lídia, teria adorado que tivesses lido atentamente aquele artigo sobre o arcaísmo anacrónico do NeoFundamentalismo ou Neo-Obscurantismo Laico Europeu).

Hélder disse...

Um relato na primeira pessoa que muito esclarece sobre as vivências de um professor.

Destaco a vontade de crescer, a sinceridade de aprender, a persistência no ensinar e a coragem nos desafios.

Creio que são valores importantes em qualquer área, mas que ganham particular relevância no campo do ensino, onde também se apreende dos professores, não só se aprende.

Enquanto não assumirmos a educação, a saúde e segurança social como prioridades essencias na nossa sociedade, será impossível criarmos algo sustentável.