Texto de José Carreira, também docente, e também meu sócio do Silêncio Culpado tal como eu sou do Cegueira Lusa - http://cegueiralusa.blogspot.com/.
A escola é um elemento necessário, ainda que não suficiente, para promover a mudança de atitudes ante a desigualdade social vigente e perfila-se como instituição fulcral na busca da igualdade de oportunidades para todos. Estão em voga as designações escola inclusiva e escola intercultural. Proliferam os escritos em torno destas temáticas.
Agora uma questão retórica: «Estará a Escola a realizar a sua tarefa de formação integral dos indivíduos promovendo uma sociedade moderna imbuída de uma nova mentalidade, alicerçada no respeito pelo outro? Julgo que todos sabemos a resposta!!!
Ser aluno no Porto ou em Lisboa, no interior ou no litoral, na cidade ou na aldeia, no privado ou no público acarreta disparidades de oportunidades enormíssima que vão cavando um fosso castrador e capaz de hipotecar o futuro de um aluno. Mas se estas realidades diferenciadores são preocupantes, o que dizer da selectividade na admissão de alunos em escolas e em turmas? Numa mesma cidade há escolas para meninos «BEM (?)» e escolas para meninos enfim…como dizem os Gato Fedorento…«fraquinhos»…«fraquinhos»…«Fraq….»…«F…». Igualdade de Oportunidades?
Blá…Blá…Blá…Pior, quem esteve ou está ligado à educação, sabe que digo a verdade, dentro de uma escola é promovida a desigualdade. São constituídas as turmas tendo por base critérios nebulosos. É facilmente constatável que há turmas boas (os alunos são escolhidos «a dedo») e as más para onde são «atirados» alunos que posteriormente são atribuídas ao professor que chega à escola nesse ano, o contratado (- É novo (?), caiu aqui de pára-quedas, que se aguente à bronca!).
A putativa igualdade de oportunidades, promovida na e pela Escola, para que passe da utopia à prática terá que calcorrear trajectos distintos daqueles que hoje estão a ser trilhados.
O senhor presidente da república poderia oferecer um daqueles aparelhómetros (GPS) que ofereceu ao rei de Espanha à equipa de Maria de Lurdes Rodrigues para reorientarem as políticas educativas.
34 comentários:
Concordo com tudo o que foi dito neste texto.
Como professora tenho uma turma com alunos com mais dificuldades que ainda por cima é a mais numerosa. Ora, estando todos juntos prolifera a preguiça, a falta de estudo, a desmotivação...Nessa turma fico sempre mais atrasada na matéria porque o barulho e as vezes que mando silenciar são inúmeras.
Naquela turma tem alunos com todo o tipo de problemas. Note-se que é a mais numerosa.
Outra ...tens os meninos do centro da cidade: a filha da senhora da secretaria, o filho da senhora do bar...embora não sendo excelentes alunos têm outras motivações bem notórias comparadas com os que referi inicialmente.
Um dos professores da escola uma vez disse: assim é melhor porque posso fazer um teste mais fácil para a turma mais fraca e um mais difícil para a turma melhor...tenho um aluno bom na turma fraca que se estivesse noutra turma poderia ter melhores notas.
Na altura estava cansada e disse: tens razão.
Mas...depois de pensar concluí: não tem que haver testes mais fáceis nem mais difíceis...temos que exigir o mesmo de todos os alunos. Colocando a maioria dos alunos fracos todos juntos só dificulta o processo ensino-aprendizagem porque vão-se tornando cada vez mais fracos.
Note-se que esta atitude já vem do 1º ciclo...eles já estão habituados a terem colegas mais fraquinhos em termos cognitivos junto deles.
E é esta mentalidade que tem o meu colega e mais não sei quantos que vai distanciando os maus alunos, vai criando mais mais alunos, e cria-se um mau ensino.
Quem faz as turmas? Deveria apurar-se isso.
Os meus testes são iguais para todas as turmas...tenho é pena que não haja uniformidade nas turmas assim como existe uniformidade na minha avaliação...eu não exijo uma determinada capacidade de um aluno e outra capacidade de outro aluno...coloco todos em pé de igualdade e depois vou vendo a evolução. Sou contra o facilitismo do teste mais fácil para a turma pior pois cria cada vez mais facilitismo. Só facilito no caso das necessidades educativas especiais mas nestes casos estudo as capacidades máximas do aluno do que dá imenso trabalho, principalmente quando não existe um relatório das capacidades do aluno do ano anterior o que revela a boa organização das escolas.
beijo
A última pérola da educação que evidencia a falata de camaradagem entre a classe docente:
Chega um novo colega à escola e diz:
- Bom dia.
À saudação segue-se, sem demoras, uma questão:
- É professor ou é contratado?
Isto dá que pensar...
Concordo com o texto e o ponto de vista do Carreira.
Quando seria suposto todos lutarem pelo mesmo, efectivamente ensinarem com vista à construção de uma geração que permita continuar e melhorar Portugal, alguns perdem-se em lutas internas e questões de estatuto, todos em busca do melhor para si, esquecendo-se do bem comum.
José Carreira gosto do que escreves mas numa de frontalidade e amizade não posso deixar de dizer-te que esperava mais! O teu texto é pequeno para o que, penso, poderias escrever! Depois sinto-te demasiado derrotista e eu quero, mais uma vez, gritar desta tribuna não vá pensar-se que isto é tudo assim: existem em Portugal óptimos professores que, apesar da política educativa, teimam em ser BONS profissionais que chegam a saber fazer omeletes sem ovos!!! Existem em Portugal bons colegas que conseguem trabalhar em prol da comunidade educativa...
Acho que é MUITO injusto ignorar o trabalho desses profissionais que, ANONIMAMENTE, vão marcando aqueles que com eles trabalham: colegas e alunos.
O sentimento de injustiça confrange-me bastante por isso acho que temos que ser mais rigorosos nas nossas análises e abrir os braços ao que de BOM vamos encontrando por aí...
Desculpa a minha frontalidade mas não passo por aqui para dizer palavras de circunstância...muitas vezes também somos nós que nos fechamos ao que nos rodeia, que não ajudamos à mudança e conheço vários (muitos) que só sabem criticar, criticar, sem ver o esforço que outros fazem, às vezes, mesmo ao seu lado...beijo e (ainda) bom domingo...
Gostei do texto. Mais um retrato na 1ª pessoa. E quanto à descriminação entre os colegas, essa situação, faz-me lembrar o trabalho temporário, em que os efectivos perguntam aos novos? És da Randstad? (Empresa de trabalho temporário). Neste caso não é assim, mas a semelhança aproxima-se a grande escala. Todas as outras situações relatadas, são a verdade que toda a gente conhece, mas que alguns fecham os olhos...lamentável!
Bem...relativamente ao que disse Carreira nunca passei por essa situação, juro...directamente. Sinto que como contratada existe uma certa desconfiança relativamente ao meu potencial por não ser conhecida mas assim tão directamente...toda a gente me chama professora.
Relativamente à amigona avó, concordo com a sua perspectiva, sem dúvida. No entanto, penso que bons são cada vez menos e ser-se bom implica hoje em dia um esforço incomensurável e muita vezes o professor que tenta agir da melhor forma tentando actuar e não assistir placidamente à decadência da escola acaba por ser colocado à margem pelos outros colegas...
O ambiente "Escola" está muito complicado...colegas acusam colegas...colegas criticam modos de actuação uns dos outros e os miúdos nem sabem para que lado se vão voltar...
beijo
Ainda não passei os olhos sobre estes comentários. Todavia faço esta consideração.
Em 1944, repare-se, 1944 na Escola Comercial de Veiga Beirão, ali no largo do Carmo em Lisboa, já era assim que se fazia. Os alunos repetentes eram todos colocados numa turma e era asim que se iniciava o abandono. Portanto é um mal como A FAMA DO CONSTANTINO, JA VEM DE LONGE.
O pior é que não é só nas escolas em que é promovida a desigualdade. Infelizmente todos os dias nos deparamos com notícias que nos dão conta da mesma situação nas mais diversas àreas no nosso país.
Boa semana.
-Aqui abstenho-me de comentar a realidade, por não conhecer o presente de forma aprofundada. Digo que, já no início dos anos 80, quando fui aluno do secundário, pude constatar existirem turmas de repetentes. Mas não existiam na altura quaisquer outras discriminações. No entanto, nós próprios alunos, a promoviamos, como? por exemplo, eu era um dos dois melhores a inglês, não me recordo em que ano, mas lembro-me que ficávamos os dois lado a lado, mas apenas a inglês, noutras disciplinas, competitivamente, buscávamos "melhores companhias"! lógicas de adolescentes!!!!
-Se mo permitirem, nomeadamente a Lídia/Silêncio Culpado, gostaria de lançar um repto, porque acompanho este assunto desde o primeiro post, e pela qualidade dos comentários evidenciados ao longo da série, solicitar á Silvia Madureira, com quem nem sempre estou de acordo, mas que respeito pela frontalidade com que expõe as suas ideias, e pelo respeito que manifesta, mesmo quando discorda, que nos possibilite a sua visão enquanto professora, sobre este tema, escrevendo um post.
Silêncio Culpado e António Almeida:
Obrigada pelo convite à primeira e obrigado à sugestão pelo segundo. Irei elaborar um texto e logo que esteja pronto enviarei para ti Lídia.
um beijo
P.S. eu sinto necessidade de falar destes temas até porque fazem parte da minha vida e como educadora me preocupam consideravelmente.
Não sei se separar as turmas de acordo com o aproveitamento é bom ou é mau. Tenho acompanhado estes posts e as opiniões várias, e o que me parece é que é numa rede de pré-primária que se criam as condições para não haver estas diferenças. Os professores contratados não devem assumir isso como uma inferioridade porque se assumem pôem-se a geito.
Este post mostra que quem o escreveu está desmoralizado o que é de todo inconcebível para um homem ainda novo. Nada é fácil mas não é desistindo e dizendo que tudo está mal que se chega lá.
Em grande parte perfilho o que disse a avó da neta princesa sobre quem faz omelete sem ovos e consegue desbravar caminho e transpor obstáculos.
Boa ideia a do GPS, boa ideia!
Feliz semana.
Voltei por dois motivos:
Agradecer a Lídia o prémio e, ainda mais, o convite!
Não se aborreçam, mas o termo correcto é
PRÉ- ESCOLAR!
Sim , até Jorge Sampaio disse "pré-primário": todos nós nos enganamos.
Feliz semana!
Dei aulas... Adorei os alunos... Mas o sistema... É estranho.
Fica bem,
Miguel
Um tema bem complicado e que saí em prejuizo das nossas crianças, as turmas não deviam ser feitas por notas e por nomes (filhos de fulano ou beltrano), eu já senti isso na pele e nunca vou conseguir avaliar o quanto foi prejudicial para a vida de um adolescente, mas acreditem que leva-os a descrer no sistema. Beijos
Professor contratado colocado dois anos consecutivos na Escola Secundária Carolina Michaelis, do Porto... na sala dos professores, dum clã, durante os dois anos, nunca ouvi um bom dia que fosse; doutras, durante alguns tempos, era o tradicional "é contratado, não é?".
A Metamorfose levanta aqui outra questão interessante e que quase nunca é aflorada ou sequer admitida: a selecção que as escolas fazem na constituição das turmas!
A falta de camaradagem entre professores é real, direi mesmo que entre estes existe canibalismo, ciúmes e vingança.
Quanto às turmas escolhidas, iso é um facto. Já por várias vezes referi o caso de Faro. Em todas as escolas da capital algarvia, há turmas de filhos de professores, empregados da escola e amigos.
O Ministério sabe mas nada faz.
Um abraço
Compadre Alentejano
Há escolas que, para serem piloto, nem aceitam meninos repetentes nem mal comportados. Há colégios para filhos família e, mesmo dentro desses, há turmas de elite e turmas "resto do mundo". Podia citar até nomes.
Os professores contratados são professores desautorizados também eles olhados como "turma do resto do mundo".
Percebo o drama que está mais implícito que descrito e que faz com que tenha sentido um clique de simpatia pelo José Carreira.
Resista, homem. É tudo o que lhe posso dizer.
Este post revela a desigualdade levada ao limite. Já nem são só os alunos em desigualdade, são também os professores.
Não, não e não!!! Desculpem lá mas recuso-me a aceitar a divisória que aqui se está a fazer entre professores efectivos e contratados! Uma coisa é referirmos um ou outro caso mas quem lê estes comentários acaba a pensar que é uma desgraça completa!
Desculpem mas não aceito! Faço-o em nome dos mais de 30 anos de serviço e dos MUITOS milhares de professores que conheci em centenas de escolas...
É verdade que há situações de descriminação mas nem sempre são dos efectivos para os contratados!!! E o contrário, não há? Desculpem mas não posso deixar de referir aqui as muitas situações em que em momentos de luta muitos contratados se punham de fora mesmo quando a luta era pelos contratados!!!
Não aceito que me digam que fui eu que tive muita sorte! Há BONS professores, BONS colegas e não fora a política educativa seria possível falarmos de Educação...é preciso estarmos disponíveis para alterar o que consideramos errado e não cada um ficar enclausurado na sua cátedra atirando e rebendo pedras!
Às vezes vamos pelo caminho mais fácil mas ninguém disse que a Vida não era difícil...
O sentimento de ORGULHO que sinto pelos professores deste País obrigou-me a dizer-vos isto!
Amigona
Ainda bem que o disseste porque eu não sou do ensino e já estava a concluir aquilo que tu achas que não devo concluir.
Efectivamente eu acredito que o grande problema esteja no sitema em si que não tem permitido a coesão em torno de objectivos comuns de formar os jovens do futuro.
O modelo que se pretende implementar é um modelo viciado à partida.
Zé, acho que escreveste em nome de muitos de nós-esmagados. Atirados como reses para o matadouro da 'classe docente' e da Vida Cruel.
Eu sou um homem magoado por imensas razões Profissionais e por isso desenvolvi uma reserva mental em relação às pessoas que, de tão impermeáveis à unicidade do outro ser humano, enfermam de merda classificante dentro.
PALAVROSSAVRVS REX
Tenho andado com grandes dores de laringite e uma tosse que me deixa incomodado por isso nem vontade tenho tido de ligar o PC , pois nem sei se é gripe, com os medicamentos receitados pelo medico, ainda não fez efeito, por isso não tenho aparecido
As minhas desculpas
Saudações amigas
Olá amiga, mais um escelente texto de intervenção...continio a aprender contigo...
Doce beijo
A palavra ESTABILIDADE, não tem sido mencionada expressamente, mas parece que é um dos grandes problemas do nosso ensino.
Cumps
abraços. não poderia estar mais de acordo...
Há aqui opiniões quase antagónicas sobre as clivagens entre professores contratados e professores do quadro.
Posso dizer-vos, por experiência própria, que já sofri discriminações quer de colegas quer de alunos por ser contratada. Cada caso é um caso e se há pessoas que não sentiram esses efeitos isso não significa que outros não os sintam.
Põe sebo nessas canelas e vem assistir ao espectáculo gratuito no Cadeirão da Malta. Outro peixe mordeu o anzol. E as palavras serão balas nas cenas dos próximos capítulos.
Oie minha amiga! Pena que as desigualdades se alastram pelo mundo! Pena que as oportunidades não sejam iguais! Quando teremos um mundo igualitário? Quando as pessoas vão entender que o sol brilha para qualquer um, independente de raça, cor, credo, poder econômico, etc?
Que sua semana seja feliz!
Beijos
Zé estas tão derrotista homem.
Acredito nas tuas palvras de desanimo mas acho que é por nos entregarmos que a situação esta como esta ...normalmente quando se tenta lutar por algo ha sempre um grosso do pessoal que se encosta...
Como em todas as profissoes existem bons e maus profissionais, mas na nossa acredito que são mais os melhores do que os outros.
Beijão grande para ti meu amigo
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