A realidade é sempre subjectiva. Depende dos olhos que a vêem e dos indicadores que a interpretam. Para a comunicação social a realidade é aquela que faz vender jornais ou subir as audiências televisivas através das emoções que cria.
Para o governo a realidade é aquela que justifica a sua governação. Para a oposição a realidade deverá ser aquela que pode deitar abaixo o governo e servir os seus propósitos de cativar mais uma fasquia de adeptos e, assim, ir ganhando espaço de intervenção e logo de poder.
E tudo isto muitas vezes à custa de um mau gosto que arrepia pela vulgaridade e pela falta de ética.
Nestes últimos dias, a comunicação social noticiou, por exemplo, que os portugueses compram menos pão. E isto como se tal facto fosse um indicador da crise que, indiscutivelmente, atinge a larga maioria da população.
Mas será que os portugueses deixaram mesmo de comer e estão em riscos de morrer com aquela fome endémica com que somos confrontados pelas notícias de países do terceiro mundo? Ou será, simplesmente, que os portugueses racionalizam melhor os consumos, nomeadamente o do pão que frequentemente aparecia em grandes quantidades nos caixotes do lixo?
Também a comunicação social apresentou, como um indicador de degradação de poder de compra, o uso do cartão de crédito em operações de baixo custo. Eu também o faço, não porque não tenha o dinheiro disponível no momento, mas porque os Bancos associam aos cartões de crédito um conjunto de benefícios a partir dum certo plafond.
Mas se estes são exemplos de pequena monta, pese embora o efeito corrosivo que terão sobre a confiança dos portugueses quanto à saída da crise, noutros casos já não será bem assim.
Por estes dias tem-se assistido à polémica dos vencimentos dos gestores públicos que o Governo diz não serem tão elevados quanto as noticias vindas a lume mas que, feitas as contas, teriam ficado, não no valor médio de 445 mil euros, mas em qualquer coisa como 323 mil euros ano, excluídos os gestores da Caixa Geral de Depósitos, entidade onde o accionista Estado mais paga.
Segundo os dados apresentados, os encargos com as administrações das empresas públicas terão subido 30% no ano transacto em virtude do acréscimo do número de administradores não executivos.
Para uma melhor compreensão da importância dos números de que estamos a tratar, importa referir que, um universo de 77 empresas com cerca de 90% da carteira de participações relevantes do Estado, recebeu deste qualquer coisa como 26,8 milhões de euros só no ano passado.
Enquanto isso Paulo Portas, num arremedo de populismo onde já perdeu a graça, fala na fiscalização do rendimento de inserção social como se a prioridade fossem as migalhas e não com os Himalaias.
Enquanto isso Paulo Portas, num arremedo de populismo onde já perdeu a graça, fala na fiscalização do rendimento de inserção social como se a prioridade fossem as migalhas e não com os Himalaias.
É que, ao exemplo que acima citei, muitos outros poderão ser acrescentados e que vão dos complementos de pensões, obtidos pelos deputados que passam pelo parlamento, a todo um conjunto de benesses que permitem que, em tempos de crise, refinem os sinais de status e de diferenciação da classe de topo.
Assim, há mais de 40.000 portugueses a usufruírem dum rendimento anual superior a 100.000 euros, sem que tenha aumentado o investimento privado no sentido da criação de riqueza e postos de trabalho.
41 comentários:
País sem rei nem roque.
País onde uns têm miséria de espírito e outros miséria em casa.
Quando nasci era assim, quando morrer está assim.
Como sempre, artigo de 1ª água, oportuno....arrepiante.
Beijinhos
Muito lúcido e muito contra-corrente este teu inteligente texto.
Parabéns, minha estimada Lídia!!
Excelente esta reflexão.
Não há dúvidade de que as "realidades" que nos fazem chegar são muito diversificadas e a sua divulgação tem, na maior parte dos casos, a ver com interesses inconfessados.
E as gritantes disparidades entre os rendimentos de uma minoria e as crescentes dificuldades que a maioria está a sentir, com particular realce para a chamada "classe média", parecem continuar em crescendo.
Lídia
Gandas ordenados. Não sei como com tanta cabeça boa e motivada o País não anda mais para a frente.
Já sei. Os pobres que paguem a crise.
Bjs
Lidia,
A má distribuição da renda acaba sempre por tornar uns muito ricos e outros muito pobres. E contra isto a luta tem sido inglória,mas mesmo assim´há que se continuar a mostrar aos que estão no poder que de bobo, o povo não tem nada. Bobos são eles que pensam que enganam o povo. E enquanto este quadro não muda, resta ao povo protestar e a cada eleição tentar mudar a situação nas urnas.
Lídia,
O problema é que as pessoas confundem o que vêem na comunicação social com notícias.
A verdade é que se vive neste momento um clima de exigência aos portugueses que só pode ser compreendido quando os que a impõem mostrarem que a sua obscena abundância, alimentada pelo erário público, também sofre as consequências da austeridade.
Beijinhos.
Quem vai, ou melhor , quem está a pagar a crise é a classe média. Este Sócrates, enquanto não nivelar a classe média pela pobre, não descansa...
Um abraço
Compadre Alentejano
Olá querida Lídia, um texto extremamente realista, com o qual
concordo na sua totalidade... Beijinhos de carinho,
Fernandinha
Excelente post cara amiga.
No essencial estou de acordo contigo.
No caso dos vencimentos dos gestores públicos, o caso é mais complexo do que parece à primeira vista, dado que mesmo com todo esse dinheiro o Estado paga menos que as empresas privadas. E se queremos bons gestores, temos que lhes pagar bem... de contrário a coisa pública será gerida por incompetentes... o que já acontece em muitos casos, de resto.
Beijinhos
Saudações amigas
Lídia querida, texto excelente, pois é como acontece por cá também
Falei com Aline sobre o teu convite pra almoçar. Vou te passar o email dela pra vcs fazerem contato, ok?
Achei melhor deixar que voces duas acertem como se dará o encontro e vou ficar muito feliz por vcs se conhecerem.
Desde já deixo-te um beijinho e obrigada pelo prazer de estarmos sempre nesse delicioso contato.
Fica bem querida.
Tua amiga deste lado
Lídia não achei teu email no perfil.
Vou deixar o email aqui e depois tu apagas, ok?
beijinhos
alineoliveiratoscano@gmail.com
Zé do Cão
Não nos podemos resignar, amigo. Temos todos que fazer uma forcinha para que a realidade mude naquilo que provou não ser justa.
Abraço
São
Obrigada pela visita e pelas palavras, minha querida amiga.
Abraço
Peciscas
Existe uma má consciência por parte das pessoas que, manipuladas por uma comunicação comprometida, vão atrás dos valores materiais deixando para trás outros valores que edificam o ser humano.
Depois há as injustiças sociais de todos conhecidas. Protesta-se mas pouco se faz para a criação duma consciência colectiva mais coesa e solidária. As pessoas estão muito individualizadas e mais preocupadas consigo mesmas do que com os outros.
Mas, apesar disso, acredito também na capacidade de regeneração das sociedades e na parte boa do ser humano.
Abraço
Mary
Pois. E o problema maior é que esses ordenados não correspondem, na maioria dos casos, a grandes competências mas sim a certos "expedientes" e a grandes cunhas.
Abraço
Odele Souza
Enquanto a igualdade de oportunidades for coisa de papel e não de prática real, as elites reproduzir-se-ão e as desigualdades também. E os pobres, por mais capazes que sejam, terão sempre, salvo excepções, as portas fechadas.
Abraço
Å®t Øf £övë
A comunicação social está a atingir níveis de qualidade muito baixos. E não apenas em Portugal. O objectivo de vender sobrepõe-se à qualidade da noticia.
E depois não podemos subestimar o facto da comunicação ser alimentada pelo poder seja ele económico seja político. Ora a comunicação tem que servir quem a alimenta e dar a noticia conforme convém aos seus "donos".
Abraço
Compadre Alentejano
Efectivamente a classe média tem pago a crise e continuará a pagar.Não vislumbro ventos de mudança.
Abraço
Fernanda
Obrigada, minha querida, pela visita e pelas palavras.
Abraço
Nilson Barcelli
Os gestores públicos são escolhidos pelos partidos políticos pela sua cor e para fazerem os fretes ao sector privado que suga até ao tutano muitas empresas do sector público.
Grande parte destes gestores públicos têm feito gestões ruinosas que originam pesados déficits pagos pelo contribuinte.
Para isto não são precisos grandes ordenados pagos também pelo contribuinte. Mas eles têm também grandes ordenados: uma parte declarada e outra dada por baixo da mesa: pagamento de telefones da residência, telemóveis, carros, cartões de crédito, facturas das mais diversas coisas pagas pelos fundos de maneio,viagens etc, etc.
Relativamente aos vencimentos dos gestores do sector privado a música já é outra. Eles são pagos por serem bons e para trabalhar.
Bom, mas dirás que temos também que recrutar gestores bons para gerir as nossas empresas e que aí temos que estar ao nível da concorrência no que oferecemos. Sim, mas recrutar só o que precisamos (repara que subiu o número de administradores não executivos), e exigir resultados. É que, por enquanto, dizem que se exige mas é o tanas. Vê as empresas públicas de transportes.
Um abraço
CValente
Obrigada pela visita, amigo.
Abraço
Menina do Rio
Oi querida. Realmente foi falha minha não ter indicado o mail (lnsoares@aeiou.pt).
Vou contactar a tua pequena.
Abraço
tão certas estas palavras...
-Este texto é dificilimo de comentar, por abordar vários pontos, que apenas vagamente estão relacionados, vou tentar parti-lo para poder ser compreendido:
-Redução do consumo de pão, não nego efeitos da subida de preço, mas alguma racionalização e mudança nos hábitos alimentares, também contribuem.
-Vencimento dos gestores públicos, considero um exemplo a atitude da administração da TAP, por oposição á prática generalizada, mas convém relembrar que são nas empresas públicas, institutos, direcções e entidades várias, que estagiam a maior parte dos "boys" ao serviço do bloco central de interesses. Se como defendo, diminuissemos de forma drástica o peso do estado, muitos desapareceriam, sendo obrigados a usar as suas capacidades e imaginação para criar riqueza, e com ela acabariam por criar também postos de trabalho, contribuindo de forma indirecta para a redistribuição e desenvolvimento económico. Nada disso acontece em Portugal, o nosso PSI 20, e 30 e 40, é uma vergonha, quantos gestores arriscam fortuna pessoal? O risco sim, esse deve ser recompensado, e não o carreirismo, financiado pelos nossos impostos, de forma directa ou indirecta, em negócios com o estado, como o programão de obras públicas que se avizinha.
-Paulo Portas é um político, tenta obviamente aproveitar-se duma situação á qual o seu partido também não foi capaz de pôr cobro, eu questiono os rendimentos sociais de inserção, excluindo idosos e deficientes, qualquer beneficiário deveria ser obrigado a prestar serviço comunitário. Se uma sociedade ajuda através dos seus impostos alguem carenciado, é justo receber algo em troca. Considero ter recebido algo em troca se alguém passa o dia em formação profissional, ou conclui um ano lectivo com aproveitamento, mas não recebo nada em troca, de alguém que foi vender DVD's pirateados numa feira, ou roupa de marca contrafeita, não declara rendimento, com o lucro compra um plasma ou uma playstation, transportada no Mercedes ou BMW estacionado á porta de casa, pela qual não paga renda, água ou luz. O RSI tem de ser fiscalizado, desde logo por uma questão de princípio.
-Os políticos estão mal pagos. Claro que a situação interessa aos mediocres carreiristas, que pouco fazem, obedecendo aos directorios partidários. Se pagassemos melhor aos deputados, poderiam até ser menos, e a despesa actual ficar equivalente, iriamos atrair pessoas mais qualificadas á política, o que não interessa de forma alguma aos actuais políticos. Para tal seria obrigatório introduzir circulos uninominais, responsabilizar os eleitos por decisões, entre outros factores que se torna fastidioso aqui enumerar.
Teresa Durães
Viva amiga. Obrigada pelo incentivo.
Abraço
António Almeida
Também o seu comentário toca em vários pontos mas, também eu, vou apenas relevar dois deles.
Relativamente ao rendimento de inserção social penso que deverá sempre ser acompanhado dum conjunto de medidas que conduzam efectivamente à reinserção do indivíduo quando este estiver em idade produtiva e com saúde para trabalhar. Os subsídios deverão ser para colmatar situações de emergência e não soluções de continuidade. A vigilância e uma boa exigência de critérios são em tudo desejáveis.
Neste aspecto, Paulo Portas até tem razão. O que me choca é o populismo do anúncio da medida que soa desfazada quando vêm a lume os 442 casos de corrupção que correm o risco de prescrever, o aumento da despesa com gestores públicos, nomeadamente através do aumento de administradores não-excutivos nas empresas e etc.
As medidas de combate à fraude, invasão fiscal e despesismo público deverão, em meu entender, fazer parte dum modelo abrangente, que englobe situações como as que atrás descrevo e não apenas dirigido aos que usufruem do rendimento social de inserção. É que até parece que é nestes últimos que está a salvação da pátria ou a sua perdição.
Lembro uma passagem do sermão do Padre António Vieira aos peixes em que Vieira dizia que o grande mal era os grandes comerem os pequenos. Porque se os pequenos comessem os grandes, um grande dava para muitos pequenos enquanto sendo os grandes a comerem os pequenos são precisos muitos pequenos para um só grande.
O segundo ponto a relevar tem a ver com o carreirismo de certos quadros no sector público onde a gestão por objectivos ainda está longe e onde quando se é mau gestor se tem como castigo ir para outra empresa do Estado com o mesmo ou ainda melhor vencimento.
Abraço
que tristeza este país, mas quase todos são assim
Bem observado!
Lidia:
Na minha opinião...falta:
- uma distribuição mais equilibrada de salários pela população portuguesa.
- diminuir o carácter consumista que uma grande fasquia da população possui e que é fomentada pela pouca duração dos produtos adquiridos (de propósito).
Estes são dois pontos que parecem uma pequena coisita mas...fazê-los obrigaria a mudar toda uma política governamental e a muito trabalho ao nível das nossa legislação...penso eu...uma jovem que pouco sabe das dificuldades da vida!
beijo
Lidia:
Na minha opinião...falta:
- uma distribuição mais equilibrada de salários pela população portuguesa.
- diminuir o carácter consumista que uma grande fasquia da população possui e que é fomentada pela pouca duração dos produtos adquiridos (de propósito).
Estes são dois pontos que parecem uma pequena coisita mas...fazê-los obrigaria a mudar toda uma política governamental e a muito trabalho ao nível das nossa legislação...penso eu...uma jovem que pouco sabe das dificuldades da vida!
beijo
Lidia:
Na minha opinião...falta:
- uma distribuição mais equilibrada de salários pela população portuguesa.
- diminuir o carácter consumista que uma grande fasquia da população possui e que é fomentada pela pouca duração dos produtos adquiridos (de propósito).
Estes são dois pontos que parecem uma pequena coisita mas...fazê-los obrigaria a mudar toda uma política governamental e a muito trabalho ao nível das nossa legislação...penso eu...uma jovem que pouco sabe das dificuldades da vida!
beijo
Muito bem observado. A distribuição da riqueza gerada é o calcanhar de Aquiles deste nosso Portugal, nunca se lembrando quem manda, do facto de os países mais prósperos da Europa serem exactamente os que têm menores disparidades salariais.
Cumps
Lidia:
desculpa meu último comentário aparecer 3 vezes...não entendi porquê...julgava só ter enviado 1 vez.
beijo
A subjectividade é que é sempre real...
Fica bem,
Miguel
Aqui nasceu o Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...
Comprei um máquina de fazer pão por 59 euros, muita gente tem feito como eu, será que é isso?
Em 2 meses fica paga e tenho sempre pão quente pela manhã. As padarias e as pastelarias são, desde há muitos anos, o melhor negócio deste país. Para mim acabaram!
Estamos fartos de números. Dos números que nos contam, sabemos que a fatia do rendimento social de inserção - do qual parte é distribuído indevidamente - não é nada quando comparada com o esbanjamento de ordenados e mordomias atribuídos a gestores - quase todos atribuídos com critérios político-partidários!
Força Paulo! Avança! Estou contigo!
Uma família recebe o rendimento social de inserção e tem duas "playstations"- crime! Uma família vive abastadamente porque um dos seus membros é gestor de empresa pública - tem de ser bem pagos!
Quando é que este povo abre os olhos?!
Um abraço de voto em riste
l
Lidia, como ja comentei...
Deixo-te um beijo e um abraço.
Juntas torçamos por nossa querida Odele!
Ray
Cara amiga,
Desde 1999 eu cortei assinatura de jornais e revistas!
Leio as coisas "por alto" quando ligo o computador.
Se a notícia trata de políticos ou de acidentes, nem perco meu tempo.
Se for do governo, nem olho!
Sabe por que?
Durante anos devorei jornais e revista, lia avidamente, escrevia frenéticamente para as colunas dos leitores1
Modéstia à parte, tenho uma boa redação, e com isso recolhi um infinadade de comentários que fiz ao Estado de São Paulo e à revista Veja, os veículos mais intelectualizados de informação!
Serviu de desabafo apenas, nada mudou!
Não, mudou sim, o PT chegou ao poder, e como eram quase todos pobres, hoje vivemos a maior robalheira liberada que este país já viu!
Mas veja que sorte a deles: o país nunca cresceu tanto, mais em função do momento positivo da economia mundial e dos empresários competentes!
Nunca o comercio vendeu tantos bens de consumo durável ou não!
A industria automobilistica todos os meses bate recordes de produção!
Então fico a pensar: qual é o certo e o errado!?!?!?
Então fico na minha, afinal já vivi a maior parte de minha vida!!
Agora quero paz, e viver com prazer!
Vão dizer, o cara é um alienado!!
Sou, sim, alienado mas profundamente feliz, pois o governo não mais me ofende!
Luiz
Salve! Silêncio bem audível!
Subscrevo na integra teu excelente texto.
Para mim a política portuguesa é uma coisa enviesada de tão incompreensível falta de senso, que creio nem os próprios Deuses do Olímpo sejam capazes de entender. É mesmo de uma estupidez maliciosa.
Salutas!
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