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IRONIAS


Vivemos num mundo em que já nada espanta. Não sei se o mundo será pior do que quando eu não existia mas que exibe com despudor a sua hipocrisia, disso não me restam dúvidas.

Já não me bastava ver George W.Bush preocupado com os direitos humanos na China. -Não que eu ache que a China não viola os direitos humanos. Só que não deixa de ser irónico este apelo vindo dum fazedor da guerra do Iraque e do presidente dum País em que a pena de morte continua a ser aplicada, nomeadamente no Estado do Texas em que, enquanto governador, George W. Bush assinou qualquer coisa como 152 penas capitais. -

Mas dizia eu, já não me bastava ver George W.Bush preocupado com os direitos humanos na China, como ainda tive que saber que o espectáculo de abertura do Jogos Olímpicos, era um espectáculo viciado que revela o quanto beleza pode esconder a fealdade das intenções.

Ainda perdoo que, parte do espectáculo do fogo de artifício, fosse pura ficção dos computadores. Agora que a organização dos Jogos Olímpicos optasse por escolher Lin Miaoke, de 9 anos, para cantar em playback porque Yang Peiyi, a dona da voz que encantou o mundo, não era suficientemente bonita para ser mostrada, é algo que revela a postura dum país fechado sobre si mesmo numa ideologia pobre de valores humanos.

E nós por cá? Não temos as nossas ironias? Claro que temos e optei por uma que achei realmente ilustrativa de quanto pode a manipulação dos números.

O INE acaba de publicar o resultado dum Inquérito às Despesas da Família que revela que as famílias portuguesas têm, em média, um rendimento líquido mensal de 1.845 euros.

Fiquei baralhada. Outros dados indicam que 47 por cento das famílias portuguesas vivem ou viveram, pelo menos num determinado período, em situação de pobreza, que o ordenado mínimo nacional é dos mais baixos da Europa, que continua a proliferar os contratos precários de 500 euros. Como é que chegamos então a um valor médio de rendimento aparentemente satisfatório?

Bem sei que o estudo é de 2005-2006, algo que deveria impedir que os jornais o colocassem em grandes parangonas até porque a realidade se altera a cada momento num mundo de desactualizações extremamente rápidas. Porém, esta forma de atirar com os números, é algo equivalente a colocar a criança bonita com a voz da criança feia. Porque há uma verdade menos agradável que se encobre quando se soma e divide para achar a média.

Há um Portugal desigual em que as pensões e ordenados máximos são exponencialmente superiores ao que eram antes do 25 de Abril. Existe um fosso cada vez mais visível entre ricos e pobres com todos os privilégios que os avanços tecnológicos proporcionam em lazer e em conforto a uns e estão ausentes nos outros.

Não me custa aceitar que existam diferenças. Mas custa-me a aceitar que essas diferenças possibilitem a uns uma alimentação e cuidados de saúde adequados e a outros o sofrimento e o abandono.

E para isto não há médias.


34 comentários:

sideny disse...

lidia
como esta?
familia com rendimentos de 1 e tal euros,algumas poucas agora de 500 e
ja ha mais ,entao e as das reformas de 230 sao aos molhos.
mal da para comer quanto mais viver.(ha e nao podem ser doentes)
beijo

SILÊNCIO CULPADO disse...

Sidney
Minha querida que bom a tua visita. Estou em falta contigo mas tenho estado muito ocupada. Depois conto.

Beijos

sideny disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
amigona avó e a neta princesa disse...

Deixo um GRANDE abraço de amizade...beijocas amiga...

Pata Negra disse...

O/A Silêncio, quando quer apontar a sua arma ao sítio certo, acerta mesmo! Não fui atingido mas rendo-me às tuas palavras! Acrescento ao teu completo e certeiro texto:
- Adorei o espectáculo - via TV - da abertura! Mas que China é aquela, tão moderna, que ignora a pobreza que tem para além dessas portas? Por detrás dos grandes Jerónimos, conventos de Mafra, Expos, Euros, existe sempre a pobreza envergonhada, abafada, humilhada, conformada e... encantada com o espectáculo do excesso!
Enquanto faltar um pão numa mesa, nunca deitarei um foguete!
Porra! Esta saiu-me, vou repetir:
Enquanto falar uma mesa num pão, não deitarei um foguete!
Pois, por vezes é melhor não repetir! Um abraço de quem segue o teu pensamento em Silêncio e com Culpa

Isabel Filipe disse...

Olá Lidia,

Bom dia.

As estatíscas e números que saem cá para fora ... seja em que área forem ... são sempre manipulados ... só saem informações para deixar o governo ficar bem ... e ... como os nossos órgãos de informação tb são manipuláveis ... falsidades serão sempre as notícias que ouviremos...

familias com rendimentos de mil e tal euros ... só pode ser gozo ...

beijinhos

Arnaldo Reis Trindade disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Teresa Durães disse...

também não compreendo esses números :(

Susana Falhas disse...

Olá Silencio culpado,
de facto os numeros não demonstram a verdadeira realidade em que as familias portuguesas vivem hoje. Tal como a China, Portugal à sua maneira, preocupa-se em "colorir" a verdadeira realidade portuguesa para mostrar lá fora que, afinal não estamos tão mal, como andam por aí a pregar pelos quatro cantos...

SILÊNCIO CULPADO disse...

Sidney
Pois é. Por isso é que para o salário médio se situar perto dos 2.000 euros devem ter entrado os vencimentos do Governador do Banco de Portugal e de gestores públicos e daí por diante.
Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Amigona
Gostei de te ver.

Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Pata Negra
Quem fala assim merece ser ouvido. Não, não lançaremos foguetes quando na festa há quem chore, quanto há uma mesa que falta ao pão e um pão que falta à mesa, porque a ingratidão e ganância dos homens se compraz com a carência alheia.
Abraço sem culpa.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Isabel
Minha querida, o rendimento médio da família portuguesa perto dos 2.000 euros?!!!
Claro que para se achar a média entram certos vencimentos que nós sabemos.

Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Arnaldo Reis Trindade
Obrigada pelo longo comentário cheio de força e de convicção.
Porém é diferente do meu pensamento que não se revê nessas sociedades fechadas nem concebe que uma criança, por ter os dentes tordos, tenha que ficar na sombra. Claro que a criança aceita como se aceitam outras desigualdades e indignidades à luz dos valores ocidentais. A forma brutal do controlo da natalidade, a pena de morte absolutamente banalizada, a desvantagem social da mulher, e daí por diante. Claro que não foi o governo a organizar os jogos mas tudo vem na mesma linha que, aliás, tu identificas e muito bem. O bem colectivo, em meu entender, não pode ser obtido quando se parte do princípio que uns valem menos que outros por terem certas características. Claro que me vais dizer que eles não acham que isso é valer menos.
E essa de casarem os altos para reproduzirem filhos igualmente altos, faz-me lembrar algo que não quero referir aqui.Pelo menos não quero referir em resposta a um comentário teu dado o apreço em que te tenho.
Quanto à manipulação dos números... infelizmente ela é universal.
Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Teresa Durães

Amiga, não entendes os números? É simples: somas o teu vencimento ao do Vítor Constâncio e divides por dois.
E tens a média. Os usufrutos é que são diferentes.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Susana
Pois amiga mas chega uma altura que nos cansamos de tanta cosmética.
Isto porque sentimos os efeitos da recessão em tudo o que é sítio nomeadamente no turismo aquele turismo que não é de luxo.

Abraço

Peter disse...

Todos sabemos que se assiste no nosso país ao desaparecimento da chamada classe média, suporte de qualquer Estado. Os pedidos de comida já chegam por e-mail às organizações sociais, o que dá uma ideia da classe social do expedidor.

R.Almeida disse...

Perdido na selva urbana à procura de mim mesmo ainda não tinha tido a oportunidade de ler o teu texto.
Para quê comentar tão alta média de rendimentos, quando quem está no convento é que sabe o que vai lá por dentro. Acho que o INE, ainda não assimilou a entrada do euro e puseram os numeros em escudos. E ospois admirem-se.
Quanto aos jogos olimpicos estão a ser o que são e para além de tudo o que nos choca, a nossa representação portuguesa
(a maior de sempre) parece que está em sintonia com a criança a cantar em playback.Mandaram atadoletas, com boa figura para substituirem os atletas deficientes que nos para-olimpicos sempre trazem umas medalhas e aos quais ninguém liga.
Abraço

Compadre Alentejano disse...

Não acredito nas estatísticas manipuladas pela Central de Informação do governo de sócrates.
Não têm qualquer credibilidade.
Um beijinho
Compadre Alentejano

SILÊNCIO CULPADO disse...

Peter
A classe média tem sido a grande perdedora reduzindo o espaço de charneira entre os muito ricos e os muito pobres.
O fosso é enorme.
Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Raul
Não, meu querido, este número não é em escudos e eu acredito que a média seja mesmo essa. Significa que os que ganham muito têm ordenados 30 ou 40 vezes os daqueles que ganham menos.
Relativamente às medalhas olímpicas tem calma amigo. Não são só os atletas deficientes que fazem parte de grupos socialmente desvalorizados. As mulheres e os pretos também fazem e eu acredito que daí nos venham umas medalhas.
Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Compadre Alentejano
As estatísticas são como um biquini: mostram coisas interessantes mas escondem o essencial.
Acredito que a média de rendimento das famílias portuguesas seja mesmo os 1.845 euros. Só que essa média foi certamente encontrada com os vencimentos dos gestores pblicos e privados, dos políticos, etc e tal.
É a história do frango. Tu comes um frango inteiro eu não como nenhum mas estatísticamente comemos meio frango cada um.
A vergonha deste número não está no número em si mas sim na forma como é apresentado.
Abraço

C Valente disse...

Este mundo para onde vai
Quem salva este planeta
Saudações amigas

Zé Povinho disse...

A China é um império da falsificação, e não o nega,por cá temos quem manipule a informação e os números, mas com cara-de-pau e jurando dizer a verdade, palavra que desconhecem.
Abraço do Zé

Lúcia Laborda disse...

Oie linda! Pensamos exatamente iguais! Aliás até achei engraçado quando ele emitiu aquela opiniaum. Acho que ele esqueceu rapidamente do Iraque.
Bom domingo! Beijos

Zé do Cão disse...

Como a cantiga do António Mourão, podia ser aqui incorporada.
Que bem que assentava.

Podemos esperar por tudo destes governantes.
Antes de ler, cheguei a pensar que o sinal com o camelo, se referia a um Ministro que queria o aeroporto na Ota.
E aquela de mandarem fazer um inquérito para perceberem porque é que os portugueses se sentem inseguros?
Silencio (sem culpa), afinal o Silencio, está confirmado, não é a melhor arma.
Pela minha parte remeto-me ao Silencio, desejo morrer e que no meu funeral não façam baralho.

Beijinhos

Silvia Madureira disse...

De facto, as estatísticas por vezes podem criar ideias erradas...até porque nesta situação concreta uns têm demais e outros não têm nada...

Relativamente a esta questão, penso que não existe estatísticas capezes de demonstrar o esforço que cada português na generalidade faz para aguentar com as despesas até receber o próximo ordenado.

Não existe Estatísticas que demonstrem o quanto aguardamos pelo próximo ordenado como quem espera por uma benção...

Agora...se calhar gastámos mal...

Mas... que se vive angustiado com esta situação vive-se e cada vez mais se "corta" aos gastos ou melhor...se aperta o cinto.

beijo

SILÊNCIO CULPADO disse...

C.Valente

Salvamos nós, amigo.

Saudações amigas

SILÊNCIO CULPADO disse...

Zé Povinho
Será que os chineses assumem? Ou será que lhes faltam ainda muitos palmarés de estrada para chegarem à perícia dos nossos governantes?

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Ilhos de Mel
Oi querida nós tinhamos que estar mesmo em sintonia. Por isso eu simpatizo tanto com voc~e.
O Bush pode ter esquecido a guerra do Iraque mas não a esqueceram os muitos milhares de familiares dos que pereceram ou os outros que ficaram mutilados.
Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Zé do Cão
Não te remetas ao silêncio porque eu gosto de te ouvir.Mesmo na outra vida quero continuar a ouvir as tuas histórias. Bem, mas para isso temos tempo.
Quanto ao camelo..... há muitos, Zé, há muitos. Esse é apenas o sinal para não os deixarmos atropelarem-nos enquanto atravessamos o nosso deserto.

Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Silvia
Pois, querida amiga, é por eu saber quanta dificuldade as famílias experimentam para gerirem o seu orçamento familiar que me interrogo sobre a "realidade" dos 1.845 euros mensais (quase quatrocentos contos em moeda antiga). Não que esta verba seja uma fortuna mas com ela não haveria tantos "apertos".
Beijos

Arnaldo Reis Trindade disse...

Lídia,
descupe-me por ser muito "neutro" em alguns comentários, por parecer que não tenho sentimentos mas tenho amor pela História e por estudar a mesma, tento discernir cada coisa relacionada a uma cultura da forma mais simples possível, analizando a história do povo para ver o por que e desde quando eles têm tais valores.

Abraços e boa semana pra tí.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Arnaldo
Não peças desculpa por seres tão naturalmente saudável.
Abraço