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AMOR EM TEMPO DE ESTIGMA

De súbito vejo-lhe os olhos embaciados, diferentes daquele olhar em que as emoções eram partilhadas. De súbito uma distância próxima tomou conta do espaço que devia ser só nosso.
Fico atónita e impreparada para esta mudança. Nós que partilhávamos tudo, mesmo as coisas mais simples, subitamente não havia mais nada. Era como se o registo íntimo duma realidade anterior tivesse sido apagado e não deixasse rasto.
Olho para o silêncio violento como nunca o vira. As palavras, que sempre eram as certas, já não eram precisas porque as pontes caíram.
Alguém me disse um dia que as dores eram diferentes mas eu não entendi. Há as dores da vida e das quedas e há as dores de se ser pisado. As primeiras podem ajudar-nos a crescer e a superar os escolhos do caminho. Mas as segundas geram ódios, incompreensões e perda de sentido.
Num olhar baço, que excluia a minha amizade, essa realidade foi-me revelada.
Sim, eu escrevi e lutei contra o estigma mas não o senti na pele. Por isso confio e não odeio. Por isso defendo a lealdade e o princípio. Não me tiraram tudo as dores da vida. Deixaram-me a mim própria como um reduto donde recomeço.
Desconheço o estigma, é certo, mas combato-o. Combato-o para que não tenha que enfrentar esses olhares desconhecidos que me acusam sem que a consciência me pese.
Combato-o para não sentir dentro de mim a perda irreparável duma Amizade que me enchia a vida.
Combato-o porque ainda acredito nos valores que defendem o direito à diferença e ao amor entre as pessoas.

8 comentários:

alma disse...

Vale sempre a pena lutar por algo que nos alimente a vida.

Sem culpas ou estigmas que vivamos em plenitude na vertical.

bj

São disse...

Pois que jamais esmoreças nesse digno e corajoso combate, minha Amiga!

Um abraço apertado.

Luma Rosa disse...

Numa relação à dois, se é que entendo, penso que amar sozinho e sabê-lo somente tarde, corta o coração, pelo sentir traído, enganado, descompensado... é como uma parte de nós morrer em vida!
Beijus,

José Lopes disse...

Que as forças nunca te faltem e que o desanimo não te ocorra, porque são combatentes dessa fibra que as grandes e pequenas causas necessitam.
Cumps

Unknown disse...

Pelo o amor,pela a amizade vale sempre a pena lutar.

Abraço.

Branca disse...

Lídia,

Fico contente por essa tua permanente força na luta de causas maiores.
Fico contente por te ver aparecer pelos blogues por estes dias, já tinha saudades. Sabes que vou pouco ao Facebook, são os amigos que me vão enfeitando a página. Por isso gostei imenso de te ler por aqui, pareceu-me há tempos que tinhas os blogues parados e eu também tenho tido algumas mudanças que me têm permitido pouco tempo.
Vi que as tuas páginas estão com outro aspecto e muito interessantes em tudo o mais, já não encontrei o Silêncio Culpado - Carreira, tudo está renovado e agora que sei que ainda andas por aqui venho mais vezes.
Li na São que estes tempos também não têm sido amenos para ti, trago-te um grande abraço e que tudo melhore.

Beijos
Branca

Beijinhos
Branca

O Árabe disse...

... e enquanto combatermos, Lídia, seremos dignos da felicidade. Boa semana, amiga; fica bem.

Mª João C.Martins disse...

Lídia

É simplesmente extraordinário, este texto!
Nem sempre é fácil para qualquer humilde e comum mortal, compreender as reacções de outra pessoa e o quanto elas estão impregnadas de sofrimento físico e psíquico. Tantas vexes, fruto de caminhadas violentas; curtas ou prolongadas, mas sempre dolorosas!
Escondida na recusa de um perdão, na palavra ou no acto inconsequente, pode viver o mais profundo medo da agressão e da rejeição, onde se incluí a de si próprio. Um sentir marginal, impregnado na pele, ao ritmo do crescimento das células.
Não é fácil, para qualquer comum e humilde mortal, esperar que o amor vença a batalha( porque ele está lá, aninhado para não morrer!) , sem nunca desistir de compreender no outro, o lado mais sombrio da cortina.
Às vezes, o homem é insuportavelmente cruel e , por isso..
...às vezes, a dor de caminhar transforma o caminho.
Quando isso acontece, até a mais pura seda, pode rasgar a pele, Uma pele que aprender a não sentir de outra maneira.

Um abraço