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CIDADANIA E SENTIMENTO

Fala-se muito hoje em dia do conceito de Cidadania. Parece ser uma necessidade do Mundo Moderno apelar para uma espécie de farmácia dos males da sociedade humana. Uma sociedade que se individualiza no sentido do egoísmo exacerbado. Uma sociedade em que as pessoas se justificam mas não sabem ouvir as razões do outro.
A ignorância atinge-se quando se pensa que se sabe tudo. A liberdade perde-se não só quando os outros no-la tiram mas quando nos tornamos escravos de nós mesmos numa fobia irracional de pensarmos que servimos os outros.
O Homem quis ser pássaro mas não consegue voar pelo seu próprio corpo. O Homem quis ser livre e de tão escravo não respira. É o Mundo que o materializa e que olha com cobiça. É o seu ego que não aceita subalternizações. E no entanto nunca foi tão subalterno de tão dependente.
O Mundo materializado levou-lhe os afectos. As tecnologias varreram-lhe as ilusões. As injustiças sociais das quais ele participa para proveito próprio, trazem-lhe depressões e amargura.
O prazer das coisas simples há muito foi evacuado da sua esfera de prazeres. Frequentemente interroga-se se o amor existe.
Então subsiste nestas perdas e descompensações, em ambientes degradados e em mercados que, ao invés de terem a tal mão invisível, tiveram tubarões que deixaram pegadas de fome e de sangue num mundo desordenado e desigual.
Um mundo com recursos para todos mas onde quase mil milhões de pessoas morrem à fome e onde os 500 mais ricos consomem recursos equivalentes aos de 46 milhões dos mais pobres.
Um Mundo em que ninguém é feliz nem mesmo quem explora. Porque a ganância e a materialização extrema só traz insatisfação e solidão. Porque os afectos criados na base dos interesses não são afectos.
Vamos à Farmácia Cidadania buscar fármacos para os nossos interesses? Vamos falar de Cidadania porque entrou na rotina ser-se ritual nestes conceitos que ficam bem no cartaz que tapa um sem número de ausências?
Ou vamos insistir na Cidadania-Sentimento, aquela que partilha e nos melhora por dentro?
Aquela Cidadania que nos libertará pelo diálogo que permite a reposiçao dos valores afectivos que não são decreto mas o início do Caminho.
Lídia Soares

11 comentários:

Odele Souza disse...

Vamos insistir na Cidadania Sentimento Lidia. Vale a pena. Sempre valerá.

Forte abraço e um bom 2011.

Zé Povinho disse...

O que sentimos é mais importante do que o que dizemos. Sentir e praticar...
Abraço do Zé

Mar Arável disse...

Pelo sonho é que vamos

acordados

Zé do Cão disse...

Diz-me a experiência que o "Sonho nem sempre comanda a vida"


E quando a luta é muito desigual perco as forças para lutar.

Abracito

São disse...

Minha querida, vamos (tentar) passar da palavra à acção!

Um abraço radiante pelo teu tão ansiado regresso, Amiga!!

Pata Negra disse...

A boa filha, à casa torna! Vamos lá então recomeçar: não gosto do termo "cidadania" apenas por que foi banalizada pela língua oca dos de certa classe política, apodrecida nos seus discursos e disfarçada em bonitas gravatas.
Abraços continuados

SILÊNCIO CULPADO disse...

Pata Negra
Então tu achas que eu regressei para defender a Cidadania de fato e gravata?
Não vês que estou aqui para intervir com uma cidadania flamejante? Eu gosto desta cidadania.
Já vi que ainda estás de mau feitio pela minha ausência. Mas vais ver... Vais, vais.

Abraço de cidadania intensa e ao rubro

Pimenta disse...

Percebo que no noso país não existe a cidadania.Ela não é exercida,e o que é desconhecido não pode ser praticado.
Cidadania no meu ver simplório é a exigencia de cada indivíduo pelo bem comum.E só pode ser aplicada se reconhecida por um governo através da justiça.
Estes fatores não estão disponíveis no nosso país, pois a classe política que o governa vive em uma esfera diferente da civil dos comums.
Cidadania nos dá o direito de usar a maquina publica em prol da sociedade como um todo.Onde os excluídos e os necessitados são um foco de interesse primordial para a igualdade de direito.
Eu vejo isso aqui, em HK.
Eu nunca ví isso ai, no Brazil.
bjo

Mª João C.Martins disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mª João C.Martins disse...

Lídia

Pois por mais que os conceitos se banalizem, não deixam de fazer sentido e, talvez até por isso, o façam cada vez mais.
Cidadania é um termo de que se fala cada vez mais, como uma bandeira que fica bem a quem a deflagra, quase como um decreto que se cumpre porque fica bem e eleva o estatuto e não por convicção.
Mas o conceito, esse sim muito pouco interiorizado, faz de todos nós partículas de um todo, participantes e co-responsáveis por tudo o que acontece. É um sentimento, um principio de vida. Não se pensa nisso quando resolvemos assinar uma petição por algo que consideramos injusto, quando procuramos um caixote do lixo para deitar fora uma lata vazia ou quando agimos com o outro respeitando os princípios de civilidade. Fazemo-lo porque assim interiorizamos em nós e, por isso, não encolhemos os braços, só porque à nossa volta ninguém se mexe ou então por acharmos que não temos nada com isso, os culpados são os outros e eles é que têm esse dever. Enfim...
Agora, minha amiga, o mais difícil de conseguir, é tornar este conceito, numa sociedade cada vez mais; egoísta, competitiva e que luta pelos seus direitos esquecendo os deveres, como algo integrante na vida das pessoas, e não apenas um termo que está na actualidade e cujo significado p+oucos se interessam em verdadeiramente conhecer.

Um beijinho

Anónimo disse...

Acredito que um dia se dará o "estrangulamento" porque se os recursos são limitados inevitavelmente da revolta se fará a luta...

abraço