Paulo Arnaldo, da revista CAIS, em conjunto com o grupo 21 1/2 (Plataforma Independente de Transgressão Artística), lançou, na passada terça-feira, mais um projecto com vista ao “despertar de consciências” em torno de problemas sociais profundos.
Depois do projecto “Descartáveis”, apresentado na edição de Maio, a CAIS exibe agora, de 17 e 31 de Julho, em Lisboa, trabalhos resultantes da interacção com os sem-abrigo, de 16 artistas consagrados (portugueses e estrangeiros), de diferentes áreas. Este projecto, inédito, conta com vários trabalhos que estão expostos em mupis - Mobiliário para Informação Urbana - ao longo da Avenida da Liberdade.
Depois do sucesso obtido com projectos em que os artistas interagiam com deficientes mentais, o grupo 21 1/2 aposta agora em algo dentro da mesma linha. Assim, aos artistas convidados foi pedido que divagassem pelas ruas de Lisboa com total liberdade para interagir com os sem-abrigo que encontrassem, de forma a criar trabalhos artísticos que espelhem os sentimentos destas pessoas. O nome “Descartáveis” vem da ideia de que estes seres carenciados, muitas deles já sem esperança e força para acreditar num novo rumo, serão dispensáveis numa sociedade em que “o valor das pessoas é visto de acordo com aquilo que produzem”. Este projecto surge pois com o objectivo de levar a arte a pessoas que, por norma, não frequentam espaços culturais e, simultaneamente, alertar a sociedade para a dimensão humana dos problemas que as diferentes peças explicitam. Segundo responsáveis pelo projecto, o mesmo tornou-se possível porque existe ainda, em cada um de nós, um forte capital de solidariedade. Os artistas convidados sabiam, à partida, que não haveria qualquer recompensa monetária, porque o grupo 21 1/2 não tem outros apoios para além de alguns patrocínios insuficientes para empreendimentos desta envergadura. A escolha dos artistas foi pensada ao pormenor, de forma a incluir não só artistas que estão já habituados a realizar trabalhos deste tipo, mas também artistas que nunca participaram em projectos semelhantes. Procurou-se assim tirar o máximo partido de percepções diferentes e ímpares sobre o modo como pode ser vista esta realidade. Para além de artistas nacionais a residir no País, foram também convidados outros artistas portugueses, que residem há vários anos fora de Portugal, bem como artistas estrangeiros, como a conhecida brasileira Sandra Cinto. Os projectos expostos retratam, de forma acutilante e diversificada (vídeos, cor, fotografia, desenho, etc.) o modo como os sem-abrigo vivem e sobrevivem nas ruas da cidade. Dá-se particular realce àquilo que deveria ser considerado como um direito básico: ter uma cama - local onde nascemos e deveríamos morrer - bem como a todo um conjunto de factores que vão do sonho da elevação à realidade da decadência. Também não é esquecida a situação, cada vez mais comum, de imigrantes que vêm em busca de uma vida melhor e acabam nas ruas, sem dinheiro para sequer regressar ao seu país, esperando o dia em que esse sonho possa ser possível.
1 comentário:
Maravilha. Não vou deixar de ir.
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