Mais de um quinto das mulheres que procuram a Clínica dos Arcos, em Lisboa, um dos três estabelecimentos privados certificados no País IVG´s até às dez semanas, já terão ultrapassado esse prazo de gestação. Yolanda Hernandez, a directora da clínica, que apresenta este dado com base em extrapolação diz que não tem resposta para elas uma vez que a Clínica está acreditada apenas para fazer interrupções até às dez semanas. Quanto aos motivos por que as mulheres aparecem nessas circunstâncias Yolanda Hernandez considera que nuns casos as mulheres não sabem bem de quanto tempo estão, noutros saberão mas querem ver se passa. E outras haverá ainda que nem conhecem bem a lei.
Às perguntas do DN "O que acontece a estas mulheres? Remetem-nas para as clínicas espanholas do mesmo grupo (onde se fazem interrupções até mais tarde)? A resposta de Yolanda não é directa. "Elas sabem qual a forma de solucionar o problema. As pessoas sempre souberam, não é?"
Três meses após a entrada em vigor da nova legislação, é normal que haja ainda muita gente mal informada ou até sem informação nenhuma. Passar em tão pouco tempo de uma situação em que o aborto só era permitido em casos muito específicos (violação, perigo para saúde física e psíquica da mulher, malformações fetais) e que era lida pela generalidade da população como uma proibição total, para uma situação em que, tendo havido legalização até às dez semanas, poderá ficar a ideia de uma "liberalização total" (ideia que foi, aliás, propagandeada pelos opositores da mudança da alteração legislativa) pode resultar em total confusão. "Sei de três casos em que mulheres foram a farmácias comprar Cytotec [misoprostol, um medicamento para o estômago com potencialidades abortivas], dizendo a quem as atendeu que era para abortar. E o medicamento foi-lhes vendido. Nem elas nem as farmácias pareciam ter consciência de que é ilegal o aborto efectuado fora dos estabelecimentos autorizados. É possível que haja ainda muita gente mal informada, que julga que como a lei mudou vale tudo, que passou a ser legal em todos os casos." Para esta técnica de saúde, são situações "extremamente preocupantes": "As pessoas continuam a correr o risco do ponto de vista da saúde e da vida, além do risco de serem processadas criminalmente. E tudo isto sem necessidade nenhuma." Porquê, então? "Uma disse-me que achou que o sistema legal era muito complicado e demorado, por causa do período de reflexão, e que ela queria despachar-se. Mas será que era isso?" De facto, nem todos os "erros" se deverão a confusões ou ignorância. O dono de um consultório do centro de Lisboa que se especializou em abortos (ilegais) até às 12 semanas confirma a ideia de que a informação não abunda, mas que o problema não será só esse. "Temos tido, obviamente e como seria de esperar, muito menos pedidos. Mas ainda há senhoras que chegam aqui sem saber que podem recorrer ao sistema público. É espantoso, até porque o meu tipo de clientela não é de classe baixa". Com preços entre os 600 e os 700 euros e instalações de luxo, este clínico recebe também ainda mulheres que, embora informadas da mudança de lei, "ou pensam que é muito recente e que não vale a pena ir ao sistema público ou não querem expor o seu caso". Para além das que "estão nas nove semanas e não querem esperar mais, ou as que já passaram as 10". Se o tempo de gestação não ultrapassar as doze, o médico assume fazer esses abortos. "Mas desde Julho tenho feito muito poucos. Uns três ou quatro por mês". Quanto ao número de clientes que apareceram nestes três meses para esse acto específico, terão sido "de 60 a 90". A maioria, garante, "foi reencaminhada para os centros legais. Não tenho interesse em continuar a fazer isto nestes termos, não vale a pena o risco nem para mim nem para as clientes."Uma enfermeira da zona de Lisboa que há mais de uma década leva a cabo interrupções de gravidez até às 8 semanas num quarto dos fundos da sua casa garante que também ela quer parar, apesar de continuar a ter "solicitações". "Algumas aparecem já com mais de dez semanas, outras ainda antes das oito. Às primeiras digo, como sempre disse, não; à maioria da outras remeto para a estrutura legal." Ainda assim, houve quem ainda encontrasse nela a solução para "o problema". Quatro ou cinco, garante, não mais. "Gente que não quer ser exposta, algumas repetentes... Pessoas por que tenho consideração. Não as quis deixar 'na mão'". Gente que prefere a clandestinidade e pagar mais - o preço dela, antes da nova lei, andava nos 500 euros, um aborto no sistema público é gratuito e nas clínicas privadas legais fica por menos 400 - e que a própria diz compreender mal. "Acho que não há necessidade de recorrer a pessoas como eu, que não têm as condições ideais." Aliás, garante ter vontade de fechar "este capítulo da vida". "Já não tenho emocionalmente vontade, não me estimula, quero dedicar-me a outras coisas. Fazia-o para resolver a situação, porque achava injusto ser proibido. As pessoas podem sempre dizer que era pelo dinheiro - mas não era, embora, claro, o dinheiro dê sempre jeito."
Fonte: DN 21-10.2007
Às perguntas do DN "O que acontece a estas mulheres? Remetem-nas para as clínicas espanholas do mesmo grupo (onde se fazem interrupções até mais tarde)? A resposta de Yolanda não é directa. "Elas sabem qual a forma de solucionar o problema. As pessoas sempre souberam, não é?"
Três meses após a entrada em vigor da nova legislação, é normal que haja ainda muita gente mal informada ou até sem informação nenhuma. Passar em tão pouco tempo de uma situação em que o aborto só era permitido em casos muito específicos (violação, perigo para saúde física e psíquica da mulher, malformações fetais) e que era lida pela generalidade da população como uma proibição total, para uma situação em que, tendo havido legalização até às dez semanas, poderá ficar a ideia de uma "liberalização total" (ideia que foi, aliás, propagandeada pelos opositores da mudança da alteração legislativa) pode resultar em total confusão. "Sei de três casos em que mulheres foram a farmácias comprar Cytotec [misoprostol, um medicamento para o estômago com potencialidades abortivas], dizendo a quem as atendeu que era para abortar. E o medicamento foi-lhes vendido. Nem elas nem as farmácias pareciam ter consciência de que é ilegal o aborto efectuado fora dos estabelecimentos autorizados. É possível que haja ainda muita gente mal informada, que julga que como a lei mudou vale tudo, que passou a ser legal em todos os casos." Para esta técnica de saúde, são situações "extremamente preocupantes": "As pessoas continuam a correr o risco do ponto de vista da saúde e da vida, além do risco de serem processadas criminalmente. E tudo isto sem necessidade nenhuma." Porquê, então? "Uma disse-me que achou que o sistema legal era muito complicado e demorado, por causa do período de reflexão, e que ela queria despachar-se. Mas será que era isso?" De facto, nem todos os "erros" se deverão a confusões ou ignorância. O dono de um consultório do centro de Lisboa que se especializou em abortos (ilegais) até às 12 semanas confirma a ideia de que a informação não abunda, mas que o problema não será só esse. "Temos tido, obviamente e como seria de esperar, muito menos pedidos. Mas ainda há senhoras que chegam aqui sem saber que podem recorrer ao sistema público. É espantoso, até porque o meu tipo de clientela não é de classe baixa". Com preços entre os 600 e os 700 euros e instalações de luxo, este clínico recebe também ainda mulheres que, embora informadas da mudança de lei, "ou pensam que é muito recente e que não vale a pena ir ao sistema público ou não querem expor o seu caso". Para além das que "estão nas nove semanas e não querem esperar mais, ou as que já passaram as 10". Se o tempo de gestação não ultrapassar as doze, o médico assume fazer esses abortos. "Mas desde Julho tenho feito muito poucos. Uns três ou quatro por mês". Quanto ao número de clientes que apareceram nestes três meses para esse acto específico, terão sido "de 60 a 90". A maioria, garante, "foi reencaminhada para os centros legais. Não tenho interesse em continuar a fazer isto nestes termos, não vale a pena o risco nem para mim nem para as clientes."Uma enfermeira da zona de Lisboa que há mais de uma década leva a cabo interrupções de gravidez até às 8 semanas num quarto dos fundos da sua casa garante que também ela quer parar, apesar de continuar a ter "solicitações". "Algumas aparecem já com mais de dez semanas, outras ainda antes das oito. Às primeiras digo, como sempre disse, não; à maioria da outras remeto para a estrutura legal." Ainda assim, houve quem ainda encontrasse nela a solução para "o problema". Quatro ou cinco, garante, não mais. "Gente que não quer ser exposta, algumas repetentes... Pessoas por que tenho consideração. Não as quis deixar 'na mão'". Gente que prefere a clandestinidade e pagar mais - o preço dela, antes da nova lei, andava nos 500 euros, um aborto no sistema público é gratuito e nas clínicas privadas legais fica por menos 400 - e que a própria diz compreender mal. "Acho que não há necessidade de recorrer a pessoas como eu, que não têm as condições ideais." Aliás, garante ter vontade de fechar "este capítulo da vida". "Já não tenho emocionalmente vontade, não me estimula, quero dedicar-me a outras coisas. Fazia-o para resolver a situação, porque achava injusto ser proibido. As pessoas podem sempre dizer que era pelo dinheiro - mas não era, embora, claro, o dinheiro dê sempre jeito."
Fonte: DN 21-10.2007
23 comentários:
PORTUGAL, 2007, EUROPA - Porreiro pá!
Olá ,
Aqui está o resultado de uma campanha mal conduzida quer pelos apoiantes a favor do aborto quer por aqueles que eram contra na altura do referendo.Ouve uma grande preocupação pelo sim ou pelo não sem um perfeito esclarecimento das pessoas .Este artigo prova que é preciso continuar a acompanhar e a informar as pessoas pessoas acerca do aborto.
JOY
-Declaração prévia, votei NÃO, por discordar desde logo que a IVG viesse a ser colocada no SNS, mal acreditava que ainda por cima o fosse gratuitamente. Mas vamos ao que interessa, em primeiro lugar, são factos, o número de IVG's realizado até agora está abaixo das estimativas, em matéria de adolescentes, então está muito abaixo. Agora alguém me explique por favor, sendo a IVG realizada gratuitamente no SNS, ainda por cima com confidencialidade, podendo a mulher optar por uma área bem longe da sua residência, como pensam sobreviver as clínicas privadas? Onde estarão a ser practicados os abortos para lá das 10 semanas? Expliquem-me!
Olá! Sou a favor da vida e contra o aborto!
bjs
O Sibarita
Sou a favor da Vida (tirando os casos previamente autorizados). Fizeram referendo, debates, explicações,("Guerras públicas"), para quê? Tendo sido aprovado e devendo respeitar a lei para não haver punições (antes já não havia de qualquer forma...) as mulheres continuam a errar sob o ponto de vista funcional das coisas. Será por falta de informação? Na minha opinião parece-me que não e continua-se assim desta forma quando se ultrapassa as 10 semanas de gravidez, a ter o total desrespeito pela vida do próximo, ou seja, do ser humano e neste caso, filho(a) do ser que a gerou. A mulher neste caso só pensa nela e nada mais. Já que criaram a lei cumprem-na! É absurdo...e isso serve para os apoiantes do não, ver que as datas impostas de pouco ou nada serviram! Falta de informação?? Não, mas sim de total desrespeito pela Vida, Vida de quem a própria Gerou. Desculpem, mas é assim que penso e não uso como defesa dos meus argumentos, figuras públicas, nem cores políticas, é a minha maneira de pensar e estar perante o Tema VIDA!
Não se muda as coisas acabando com as conseqüências.
Acho hipocrisia viver numa sociedade onde os bons frutos da ciência, da técnica, do conhecimento...Se torne monopólio de poucos...Gravidez indesejada e abortos são CONSEQUENCIA e não CAUSAS.
Acredito que a mulher deva ter direito ao próprio corpo. Mas também tem obrigações para com esse mesmo corpo. Gravidez é a conseqüência de um ato. Se esse ato é feito com responsabilidade.. Na maioria dos casos, o “ato” é feito com irresponsabilidade. Na hora do ato sexual, ninguém se preocupa com as conseqüências. E HÁ conseqüências!!! Não podemos considerar a gravidez como algo que ocorre sem mais nem menos. Se fosse assim, óbvio, todos deveriam ter que escolher. A gravidez é conseqüência de um ato consciente (não adianta culpar a bebida ou o tesão!). Na minha opinião, obviamente com a exceção de casos de estupro e de má-formação do feto, a mulher não tem direito nenhum a interrupção da gravidez. Fez? O problema é seu. Essa massa de mulheres que aborta por conta própria é só vítima da falta de educação. Criar clínicas “legais” evitaria muitas mortes, claro, mas só estimularia a irresponsabilidade com o aval do Estado. Transar é bom, é ótimo e não precisa de campanha a favor.
Bjim
Passando para desejar-te uma linda semana cheia de flores, beijos e muitos sorrisos!
Tema interessante e capaz de gerar polémica. Como já se vê. Votei SIM e voltaria a fazê-lo, mas não considero que votar "sim" signifique que se esteja contra a vida. Aliás, contra a vida de quem? E porquê?
No mais, as pressas dão nestas questões que já aqui foram afloradas.
nada disto me espanta!
era previsivel.. houve quem alertasse para esta situação!
O caso Cláudia, não está perdido. Mandem Mails a esta gente e não só:
geral@embaixadadobrasil.pt
Mas não digas palavras doces. Carrega um bocadinho no português "marracónico": envergonha-os, que é o que eu faço.
Pede a outros blogues que façam o mesmo.
Abraços.
Amiga Silêncio Culapado, muito feliz venho participar a você que seu blog e você são membros fundadores do projeto S.O.S Miséria. Façamos uma corrente dandos as mãos e colocando todo o nosso carinho neste trabalho. Parabens ! Com beijinho de Alda.
Estamos numa fase de transição, é perfeitamente normal que estas coisas aconteçam ainda.
Quantos anos com abortos ilegais?
Acredito que o prazo, um dia seja alargado para mais semanas.
Não vejo aqueles hipócritas do pró-vida, como se intitulavam na altura, a promover, agora, nenhum movimento de sensibilização antiaborto nessas clínicas e SNS.
Agora que sabem onde as mulheres fazem abortos, não têm desculpa.
Mas acho que isso do aborto, passou de moda agora.
Aborto= a aberração...
Doce beijo
Não vou comentar esta notícia porque pretendo fazer um texto de reflexão aprofundado. Esta matéria é demasiado séria para reflexões leves. Esse texto será postado no NOTAS SOLTAS, não esta semana porque já tenho outro tema destinado ao Notas. Fica para 4ª.feira da próxima semana.
E o negócio continua. Se calhar agora até mais forte.
A pouco e pouco tudo se vai clarificando. Agora até já percebo o interesse do PS na legalização do aborto. Onde há negócio há Sócrates caído.
quantos(as) terão votado "não" os(as) que recorrem à IVG? não vale a pena escamotear porque quem quer fazê-lo faz mesmo legal ou ilegalmente...
una pena sin duda!!!
gracias por pasar po mi blog!
Por aqui se vê o muito que falta caminhar para que deixemos de ser um país terceiro-mundista.
É assim que funcionam as coisas em Portugal. Campanhas mal conduzidas e negócios sórdidos é o que dão.
Eu sou contra o aborto e nunca se deveria ter aprovado semelhante aberração.
Os clandestinos não têm que ser clandestinos porque não tem que haver aborto.
Pois essa mulher terá feito o que muitas precisavam.
Agora, vamos a ver se o Estado cumpre a sua parte.
Obrigado pelo seu incitamento no meu blog.
Um abraço.
SOMOS O TAL PAÌS QUE ESTÀ A PRESIDIR À COMUNIDADE EUROPEIA, NÂO È??????
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