.



ESCOLA VERSUS IGUALDADE DE OPORTUNIDADES (VII)

Carol Pinto - Licenciada de Ensino de Inglês/Português

Há alguns anos atrás, decidi ser professora de Inglês e de Língua Portuguesa. O ensino surgiu no meu horizonte por duas razões primordiais: adorava línguas e a literatura era algo que me fascinava e dava imenso prazer. Assim, poder transmitir a outros esse gozo, esse prazer de descobrir e jogar com as palavras afigurou-se-me uma perspectiva bem agradável. Ainda considerei a hipótese da Psicologia e do Jornalismo, mas o ensino levou a melhor.

A licenciatura decorreu sem grandes sobressaltos, embora me parecesse demasiado teórica e pouco estimulante. Entretanto, dei aulas durante dois anos. Pensava eu que tinha iniciado a minha carreira docente, mas estava enganada. Depois disso, não voltei a ter colocação...

A minha experiência no ensino foi, apesar de todos os contratempos, bastante positiva. Leccionei em duas escolas da mesma localidade, mas totalmente diferentes.

A primeira, uma escola secundária, é o exemplo daquilo que grassa pelo país. O ambiente de trabalho era péssimo. Os professores, na sua grande maioria efectivos, não mostravam qualquer orgulho ou prazer na sua profissão. Para além disso, qualquer tipo de aproximação, de estreitar de relações com os alunos era muito mal encarado. Ali, os alunos não tinham nome. Eram tão somente números. A sua história enquanto indivíduos era considerada irrelevante e o que interessava era deixá-los passar de ano, para que pudessem concluir o ensino obrigatório o mais depressa possível, independentemente do esforço, do interesse e dos conhecimentos que tivessem. Claro que havia excepções, mas a maioria dos meus colegas pensava desta forma. Felizmente, tive o privilégio de trabalhar com aqueles que constituíam a minoria e trabalhámos bastante em equipa, em prol de um ensino mais exigente, mas com maior igualdade de oportunidades.

Lembro-me particularmente da turma de Língua Portuguesa de 9º ano – bastante homogénea, tanto nos condicionalismos sócio-económicos, como na falta de interesse e motivação para o trabalho escolar. Alguns desses alunos viviam numa instituição de solidariedade social, onde tinham sido depositados pelo Estado ou abandonados à sua sorte pelos pais.

As primeiras aulas foram um suplício! O desinteresse era geral e absoluto. Fui, por diversas vezes, insultada, humilhada, ameaçada e, até, assediada. No entanto, e depois de procurar saber mais sobre o «background» deles, percebi que essas atitudes eram, na sua maioria, reflexo da revolta que sentiam pela falta de amor, carinho e oportunidades que a vida lhes tinha dado.

Recorri a diversas estratégias e metodologias para motivá-los e despertar o interesse pelas aulas. O ensino d' Os Lusíadas foi feito através do recurso à banda desenhada; com a colaboração de amigos, filmei a representação de diversas cenas dos Autos de Gil Vicente; ofereci livros e gramáticas que me pertenciam aos alunos com menos recursos económicos...

Foi um processo árduo, mas divertido e, aos poucos, consegui com que a turma ganhasse interesse e entusiasmo pela disciplina. Aos poucos, tornei-me a amiga, a irmã mais velha com quem podiam falar e desabafar, mostrar os seus receios e contar os seus sonhos. Mas eles também me ensinaram algo de muito importante. Com eles aprendi a valorizar a família e a perceber que muito do que sou hoje a ela o devo!

A segunda escola era uma básica de 2º e 3º ciclos. Aí, o ambiente de trabalho era muito diferente. Os professores, na sua maioria jovens, trabalhavam em equipa, promoviam a multidisciplinaridade. Aos alunos era exigido esforço e muito trabalho, mas havia uma entrega real e sincera do corpo docente.

Nesta escola vivi uma realidade muito diferente, com outros problemas. O caso que vou recordar é o de uma turma de 7º ano, de Inglês, que incluí diversos alunos com Necessidades Educativas Especiais. Nunca tinha lidado com essa realidade e, apesar de ter sido uma experiência enriquecedora, podia ter sido catastrófica pois não tinha sido minimamente preparada para ela.

Investiguei, falei com técnicos especializados, pedi a ajuda a colegas mais experientes. Não optei pelo caminho mais fácil, que seria o de os ignorar nas aulas, avaliar com base em testes de nível I e passá-los com nota final de três. Trabalhei arduamente, exigi esforço e empenho aos alunos em causa, mas hoje tenho orgulho em saber o percurso escolar que alguns desenvolveram. Claro que, outros, não conseguiram alcançar os objectivos propostos, mas tentaram e isso acho que é fundamental.

O facilitismo, para mim, nunca deve ser o caminho a seguir e é ridículo que não se exija a todos, professores e alunos, que se alcance o patamar mais alto, que se vá mais longe, que se procure desenvolver todas as capacidades e aptidões. Enquanto os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem não se mentalizarem disso, nunca se poderá modificar verdadeiramente a mentalidade de um povo e nunca se alcançará a desejada renovação.

Hoje em dia, sou proprietária de uma sala de estudo e explicações. Uma vez que não consegui colocação, decidi criar o meu próprio emprego mantendo a minha relação com o ensino e com os alunos. A meu lado trabalham três jovens professores e o nosso objectivo não é, apenas, dar explicações ou apoiar o aluno nas várias tarefas escolares. O nosso objectivo principal é formar melhores alunos e melhores pessoas, mostrar-lhes que podem sempre chegar mais além e esperar mais da vida.

Mas o problema é que neste país quase todos se demitiram da tarefa de educar e formar pessoas com valores, que tenham metas a atingir e que saibam que isso só depende delas. Portugal caiu na esparrela do “deixa andar”, “quem vier atrás que faça melhor”.

Os pais, na sua maioria, estão ausentes e não sabem nada sobre os seus filhos. Estão tão ocupados ou desinteressados que não se preocupam em conversar com eles, em saber quais os seus sonhos, ambições, dúvidas ou medos. Muitos dos meus explicandos vêm ter comigo para falar de coisas que eu falava com a minha mãe e a minha mãe não teve esta educação liberal de que muitos se gabam. É verdade que os pais procuram dar-lhes todas as novidades tecnológicas, mas muitos poucos se dão ao trabalho de ver um documentário e discuti-lo com os filhos!

Os professores, por seu lado, dividem-se simplesmente em duas categorias: os que o são por gosto e os outros. Um professor que ama a sua profissão tem orgulho nela, apesar de não ser respeitado, de ser mal pago e de ver a sua autoridade constantemente posta em causa. Um professor que o é por amor ao ensino é um profissional esforçado e, em cada momento da sua vida, revela o seu brio profissional. Um professor que ama o ensino, ama os seus alunos apesar dos comentários mordazes, das atitudes grosseiras.

Os outros dão o mesmo teste todos os anos, não sabem os nomes dos alunos e fingem que não os conhecem quando se encontram na rua. Os outros têm um trabalho, que desempenham única e exclusivamente com o objectivo de receber o ordenado no final do mês. Os outros não criam materiais para dar as aulas, não trabalham em casa para os alunos e acham que a sua função é a de debitar matéria. Os outros não são professores!

46 comentários:

São disse...

Gostei do texto, que dá um interessante testemunho da realidade vivida no Ensino português!
E tem toda a razão: " Os outros não são professores."
Que nunca desista!

Teresa Durães disse...

em todos os trabalhos existem os apaixonados e a obrigação de ganhar um ordenado. não consigo censurar, são humanos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Carol
Este é um texto com alma de mais uma pessoa que adoraria pessoalmente conhecer. Senti, em cada palavra, a paixão pelo que fazias o estímulo que essa paixão te dava mesmo quando as condições eram adversas. O meu filho adoptivo disse-me um dia destes que não gosta de professores velhos (leia-se professores a partir dos quarenta). Que os professores mais novos estão mais abertos à entrega e à aproximação.
Penso que não será sempre assim mas tu és, sem dúvida, um daqueles exemplos que fariam toda a diferença se fossem aproveitadas as suas reais aptidões.
E choca, nalgumas passagens do texto, a indiferença institucional perante quem tem tanta generosidade para ensinar. A escola é uma estatística e é uma perspectiva financeira. Falta uma rede de apoio pré-primária, faltam professores para que as turmas em escolas problemáticas possam ser mais pequenas, faltam apoios educativos a tantas crianças que ficam largas horas sozinhas depois das aulas.
Carol, nunca desistas. Nós não devemos desistir dos nossos sonhos, daquilo que amamos, dos caminhos que gostamos de trilhar.
E sobretudo nunca perder a esperança.

Silvia Madureira disse...

Carol:

Como professora digo sem sombra de dúvidas que são professoras como tu que fazem falta ao ensino português.

Talvez o corpo docente tenha professores que não deveria ter e deixe escapar os que não devia.

Conheço profundamente a realidade que me descreves e penso que sempre agiste de forma exemplar: gastando o teu dinheiro, pensando em como solucionar os problemas, tentando sempre uma boa adaptação à realidade que tinhas presente...

Eu também estou a tentar...não quer dizer que vá ter sucesso...mas estou a esforçar-me por ir ao encontro deles. Os mesmos métodos nem sempre resultam em turmas de carácter diferente...

Já uma vez disse que me têm "chuvido" desculpas ...deste modo penso que vou no "bom caminho"...mas só quando chegar à meta é que saberei...

Parabéns e é pena não seres uma colega minha (este ano)...porque o próximo não sei como será a minha vida.

Beijinhos para ti

SILÊNCIO CULPADO disse...

Sílvia
Tu és outro exemplo a seguir. Não desistas miúda. Tenho orgulho em ti.

Silvia Madureira disse...

Deixa só acrescentar:

"Eu penso e isso é o que me deixa mais triste que quem tenta deve ser louvado...porque o professor que não faz a mínima tentativa para melhorar seja o que for...é lamentável".

Mesmo que não desse certo penso que não é justo dizer "tem lá 2 ou 3 o resto não vale a pena". Isto desmotiva os alunos e os restantes colegas da turma.

Felicidades

amigona avó e a neta princesa disse...

Gostei muito do teu texto Carol. Sou uma das tais (cotas)e apaixonei-me pelas tuas palavras que senti como minhas! Só não concordei com

"...o problema é que neste país quase todos se demitiram da tarefa de educar e formar pessoas com valores...".

Não concordo, porque eu tiro o chapéu aos MUITOS professores que por esse País fora trabalham com e para os seus alunos, transformando vontades e ultrapassando barreiras...

Não concordo Carol porque, felizmente, ainda existem MUITOS professores!

Que não merecem o Governo nem o Ministério que têm...que fazem da palavra ESPERANÇA o nascer de todos os dias!

Também não concordo com a minha amiga Lídia/silêncio culpado quando refere as tais cotas! Apenas porque também aí a minha experiência de Vida de muitos anos me fez conhecer MUITOS professores EXTRAORDINÁRIOS que já tinham passado há muito a barreira dos quarenta!

No resto estou de alma e coração com tudo o que disseste...parabéns e continua assim,apaixonada pela Vida!
Beijo...

Luiz Santilli Jr disse...

Carol amiga

Você tocou num ponto fundamental que é a aptidão para o magistério!
Estou totalmente contigo nesse assunto, pois foi assim que pratiquei o ensino, ainda que exclusivamente no nível superior!
O professor é como um médico, não é apenas uma pessoa que vende seus conhecimentos pela melhor oferta.
Magistério é sacerdócio! Quem não tiver vocação nem se aproxime.
É evidente que temos que pagar nossas contas no fim de cada mês, como qualquer outro ser humano e para isso temos que ser remunerados.
Mas temos uma responsabilidade social muito grande pois, lidamos com a formação do caráter dos indivíduos, na etapa mais difícil que é a infância e a juventude.
O professor não é apenas um duplicador de conhecimentos.
O professor não é apenas um dador de aulas, sem nenhuma responsabilidade pela sua imagem junto aos alunos.
O professor é exemplo de muitas coisas como conduta,ética, educação, paciência, justiça, enfim, é um exemplo de como o ser humano correto deve agir!
E por que?
Porque ele representa a complementação do papel dos pais!
Então não é só dar sua aulinha e sair correndo da sala!
O aluno quer do professor mais do que os 50 minutos da aula, quer a compreensão do professor para com seus problemas!
A escola é a extensão do lar e nós respondemos por ela, não o diretor!
Isso vale para qualquer nível de ensino, seja básico, seja superior!
Os jovens nunca estiveram tão sós como hoje!
E nós podemos e devemos ser essa companhia de que eles tanto são carentes.
Quem assim não pensa não pode exercer o magistério, será um professor medíocre!
Fui assim por mais de trinta anos e repetiria essa tarefa com prazer, por mais trinta!
O professor deve se conscientizar de que o ensino tem que ser bom para o aluno, não para si, nem para os funcionários administrativos das escolas nem para o diretor.
Melhores condições de ensino são as que proporcionam melhores aulas!
Disso nunca abri mão!
Pelo menos na fase de graduação!

SILÊNCIO CULPADO disse...

Amigona
Eu sou cota, defendo os cotas e tenho uma alma de 20anos. O meu pequeno que tem 14 anos é que fez aquela afirmação. E eu pensei: o que ele quer é uma garota assim como a Carol ou a Silvia Madureira.
Efectivamente há pessoas e pessoas. Há pessoas jovens que sempre foram velhas e há outras que, apesar da idade, são sempre jovens. Mas há mais jovens nos jovens e mais velhos nos velhos.
Beijinhos, Amigona

Divinius disse...

A luz...que te deixo...é da cor da minha vida...*

"Estou neste blog agora:)

SEMPRE disse...

A Carol põe em confronto dois estilos distintos de exercer a docência. Há os professores que têm um espírito de missão que os encaminha para uma entrega total na busca de soluções que correspondam às necessidades duma escola em que, cada vez mais, os alunos chegam em estado bruto em termos de capacidade de integrar um grupo que tem um líder que é o mestre. Professores que fazem das tripas coração e que, muitas vezes, até são mal compreendidos e quase nunca devidamente recompensados.
Outros há que vêem na docência o seu ganha pão em troca de debitarem a matéria que vem nos programas. Estes resistem melhor porque sofrem menos desgaste emocional neste tipo de relação distante.
Um bom professor é aquele que ama aquilo que faz pois só esse está à altura de formar as gerações futuras.
Lamentável que tenhamos um Ministério da Educação incapaz de distinguir uns e outros e dar resposta às novas necessidades educativas/formativas.
Beijinhos, Carol

Zé Povinho disse...

Continuo a acompanhar o tema e a ler experiências diversas. Como pai e avô apenas faço um pequeno reparo sobre o acompanhamento dos pais aos alunos: há muitos pais ausentes , demasiados até mesmo considerando as dificuldades em termos de cargas horárias de pais e filhos. Outro aspecto menos consensual é o acompanhamento escolar e a ajuda nesse campo, pois aí as limitações são enormes, mesmo para quem tem formação superior, tais as modificações havidas nos últimos 30 anos.
Abraço do Zé

Silvia Madureira disse...

Silêncio Culpado:

Obrigada pela imagem que tens de mim...isso encoraja.


Só queria dizer mais uma coisa...eu venero e adoro os professores mais velhos. Chego a ter tanto admiração e respeito por eles que não consigo chamar-lhes a não ser professores. A minha experiência é tão boa com colegas mais velhos que fico emocionada quando me lembro deles...

Eles têm cedido material, conselhos oriundos das suas experiências, têm cedido palavras de conforto, eles têm sido para além de colegas, professores e amigos.

Aqui ninguém desvalorizou os professores mais velhos e eles para mim têm sido essências. Digamos que além de serem exemplos a seguir, têm sido a minha bengala em muitas situações.

Uma vez fiz uma substituição de uma professora mais velha e estava com algumas dificuldades porque cheguei à escola na etapa final do período. Esta professora ajudou-me na sua própria casa, conversou comigo como se fossemos da mesma idade e os alunos falavam dela com imenso carinho.

Do fundo do coração, eu amo a experiência dos professores mais velhos e na sua grande maioria gostaria de ser como eles.

uma boa continuação

São disse...

Volto para dizer que é pena não haver mais preocupação na Formação da carreira docente, quer na de base quer na permanente.

O meu caro amigo Luiz Santilli tem razão : um professor deve ser bom tecnicamente e um exemplo a seguir.

Quanto à idade , não me parece factor relevante para o desempenho da função.

Boa noite.

Luís Galego disse...

a ler e reler este post...

Robin Hood disse...

É um relato encantador de coragem, dedicação na perseguição dum sonho que lhe escapa.
Carol vi aqui o link para o seu blog e fui logo ver. A Carol tinha que ser poetisa.
A desigualdade de oportunidades, nua e crua, a Carol retrata-a nesta passagem: Ali, os alunos não tinham nome. Eram tão somente números. A sua história enquanto indivíduos era considerada irrelevante e o que interessava era deixá-los passar de ano, para que pudessem concluir o ensino obrigatório o mais depressa possível, independentemente do esforço, do interesse e dos conhecimentos que tivessem.

Quando um País não tem resposta para estas situações é um país do nada que não merece uma Carol nem outros apaixonados da educação que tenho lido aqui nos últimos dias.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Carol, li e reli o teu texto, que adorei!!!
Minha amiga, aqui está uma visão de como anda o ensino em Portugal.
Deixo-te muitos beijihos de carinho e amizade.
Fernandinha

António de Almeida disse...

-Carol, não a conhecendo pessoalmente, e dado o gosto que tem pelo ensino, não me custa pensar que estará a ser bem sucedida no seu negócio, já que o sistema burocrático do funcionalismo público, impede-a de leccionar, o que é um prazer para si. A Carol é precisamente um exemplo que tantas vezes tenho criticado, não a Carol obviamente, mas o absurdo, o actual sistema educativo, coloca professores por ordem de antiguidade, letras, residência, capaciade/incapacidade, e mais um sem número de condicionantes burocráticas, deixando de fora, alguns verdadeiramente capazes, apaixonados pela profissão. A Carol é um destes últimos, monta o seu negócio, e transmitirá conhecimento aos que podem pagar, enquanto nas escolas, entram lá alguns ás 9 da manhã, olhando para os relógios, ansiando pelo fim do dia, pensando no dia do aniversário, nunca mais chega a reforma, com estes perdem os alunos. Porquê? Não existe uma avaliação de desempenho com consequências ao nível das colocações. Sindicatos? O que defendem? Manter os lugares dos clientes, os que estão colocados, esquecendo os que estão de fora. Claro que nem todos podem ser colocados, não existem alunos suficientes, mas não seria essa razão suficiente, para colocar os melhores? Deixo á reflexão, nomeadamente daqueles que comentando, são professores, actividade pela qual nutro simpatia.

NÓMADA disse...

António Almeida
Acho excelente tudo o que afirma e que eu subscrevo na íntegra.

carlos filipe disse...

Triste sina, triste sina
deste país recessado
com tanto professor bom
e tanto aluno afastado.

Triste sina, triste sina
desta Carol tão valente
a lutar de pequenina
para vir a ser docente.

E afinal que acontece
neste país recessado,
que não dão a quem merece
mas dão a quem é bem fadado.

Mas eu sei minha Carol
que um dia irás encontrar
tudo aquilo que procuras
neste país a mudar.

avelaneiraflorida disse...

Ao fim de 33 anos de ensino...não me considero "desajustada" da profissão que sempre quis ter!!!!
apesar de hoje em dia a ridicularizarem, espezinharem , tentarem fazer dela um imenso vazio!!!!
Mas houve algo que aprendi ao longo de todo este tempo: aprendi a respeitar colegas mais velhos que me ensinaram e deram exemplos de excelentes profissionais!!!!
Aprendi também, continuo a aprender, com colegas mais novos que querem ser professores!!!!
Porque, a realidade é essa: nem todas as pessoas que estão no ensino QUEREM SER PROFESSORES!!!!
E cda vez mais isso irá pesar no fiel da balança!!!!
De qualquer modo, ainda acredito nos colegas que olham para os alunos e vêem neles seres humanos...e não números para estatísticas!!!!

errando por aí disse...

Esta Carol é um doce e comovo-me quando vejo ela dizer que tem alunos a pagarem valores simbólicos.
Mas há passagens que nos abanam quando as lemos.

«Mas o problema é que neste país quase todos se demitiram da tarefa de educar e formar pessoas com valores, que tenham metas a atingir e que saibam que isso só depende delas. Portugal caiu na esparrela do “deixa andar”, “quem vier atrás que faça melhor».
Carol, tu mereces e o teu "negócio" há-de ser um sucesso.

São disse...

Voltei.

As complexas questões da Educação, da Justiça, da Saúde não se resolvem despejando-lhes dinheiro em cima, mas sim gerido-o de uma maneira muito mais eficiente do que aquela que tem sido feita até agora, sempre o defendi.

Quanto aos objectivos dos Simdicatos, eu que fui sindicalista, penso que é importante o trabalhador ser sindicalizado. No entanto, estou completamente convencida da extrema necessidade de se repensar a estratégia sindical em Portugal, porque a situação, por vezes, é ainda mais grave do que António Almeida afirma.

Boa noite.

Laurentina disse...

Carol minha querida adorei a tua exposição.
Nunca desistas.

Ao ritmo a que as coisas têem vindo a acontecer desde o 25 de Abril é transparente para qualquer um que o maior fracasso da revolução esta a nível da EDUCAÇÃO.
-Os pais modernos na sua grande maioria põem uma playstation na mão dos putos, um dvd do Ruca ou do Noddy para que estes não lhes assem a paciência.
Incentivam os filhos á violência contra os professores, são demagógicos,e pseudo-intelectuais
Pobres crianças...
Normalmente os filhos não escolhem os pais que têm.
Mas não nos podemos esquecer que podemos escolher quem nos tenta chamar burros e nos põe a mão no bolso...

Num estado ditatorial e fascizante, quer-se o povo:
- Aparentemente Saudável
- Bem comportado
- Entretido
- Calado
- Sem poder de compra
- Sem poder de escolha

E viva a Monarquia... pelo menos só sustentavamos uma família...
Agora, com esta Democracia de pulhas... sustentar a família dos senhores ministros amigos e correlativos...IRRA QUE É DOSE.
Beijão grande para ti

zé lérias (?) disse...

É com esta humildade, conhecimento e amor à camisola que se faz um Professor.
Digo mais: SE FAZ UM PAÍS.
Porque bem vistas as coisas, na falta de pais e mães responsáveis (alienados pelos objectivos sobre-humanos impostos pelos patrões e, outros, marginalizados da sociedade), é na escola que reside a última fronteira para a salvação de muitos milhares de crianças - talvez mais do que aquelas que supomos.
Mesmo que o Estado, como é o nosso caso, pouco ou nada ajude.

Daí, mais do que na maioria das outras profissões, penso ser exigível aos professores um comportamento como o preconizado pela autora deste poste. Não é pedir muito.

Um pedreiro pode cometer erros nas obras que efectua. Por não ter brio naquilo que faz nem querer assumir as suas limitações para poder evoluir.
Esse pedreiro acaba desacreditado. E mais grave para ele: perderá inevitavelmente o seu emprego ou a sua empresa.
Prejudicou pessoas. Mas, apesar disso, não influenciou nem influenciará os comportamentos cognitivos de ninguém.

Um advogado não terá clientes se não revelar as qualidades requeridas para a sua actividade. Cometerá erros se não se actualizar diariamente.
Perderá também a possibilidade de sobreviver com a profissão que escolheu.
Prejudicou pessoas. Mas, apesar disso, não influenciou nem influenciará os comportamentos cognitivos de ninguém.


Um camionista ... enfim!...

Os titulares das precedentes profissões, por culpa própria, perderam os seus empregos ou vivem com dificuldades.

Porém, não tiveram, não têm, nem virão a ter, nenhuma importância no desenvolvimento afectivo e caracterial de qualquer criança.
Criança que será o pai de amanhã. Passiva, marginal, ou activa e reinvidicativa dos seus legítimos direitos.

Mas um professor não.

Estou com a autora deste poste. Porque sinto serem sentidas as suas afirmações.
Não o fez, certamente, por retaliação nem para projectar a academia de ensino que foi forçada a criar. Mas sim para ter o prazer de continuar a ensinar e ter o seu ganha-pão.
Dou-lhe os parabéns.

Um abraço a todos.
Para a D. Lídia um abraço e obrigado pelo seu carinho.

Zé do Cão disse...

Este hino fascina-me.
Fui um pai como a maioria. Entreguei à mãe a tarefa de ir ás reuniões e de se preocupar com o andamento dos anos escolares dos nossos filhos. A mãe chegou a ser Presidente da Associação de Pais e quando os filhos deixaram a escola, viu-se e desejou-se para a nomeação de outro Presidente. Tive sorte, filhos exemplares nunca deram problemas, também não ademira com umas mãe destas.
Penetencio-me pela pela falta

Zé do Cão disse...

Voltei somente por isto.
Com uma mãe destas e com um pai que escreve ademira em vez de admira.
desculpem, é uma vergonha quando o tema é a cultura.
Bj. Zé

amigona avó e a neta princesa disse...

Vim rever o texto da Carol e ler os novos comentários.

Não concordo com a comentadora que diz:
"
E ainda há quem, de forma bem ignorante, apesar de toneladas de anos de experiência, venha clamar por mais gastos na Educação independentemente do nível de produção nacional conseguido... "

Acho que na Educação e na Saúde não pode haver razões economicistas nas políticas aprovadas...mas admito que possa ser ignorante e vai daí pensar assim! Mas se o mal é meu então posso estar sossegada - este Governo vai de vento em popa com as medidas que está a implementar!!!

Também não concordo com quem afirma:

"Sindicatos? O que defendem? Manter os lugares dos clientes, os que estão colocados, esquecendo os que estão de fora..."

O sindicalismo docente é muito complexo, com dezenas de organizações que conseguem dividir para reinar...mas organizações existem que defendem os professores numa perspectiva de uma ESCOLA inclusiva em que alunos e professores se revejam num ensinar/aprender...organizações existem que defendem os DIREITOS mas exigindo o cumprimento de DEVERES...ninguém me passou a recomendação, não pertenço à Direcção de nenhum Sindicato, mas aprendi que se não estamos sindicalizados como podemos falar em solidariedade?

Este não é o tema em debate mas como veio a lume aqui fica...

Quanto às cotas eu percebi Lídia mas achei que era bom colocar a questão porque não é o teu caso mas muta gente pensa assim...continua a ser um pouco o modo português de não acarinhar a experiência, a mais-valia...sabemos que não é a idade que conta mas uma professora com mais anos de idade pode e deve ser um manancial de experiências para os mais novos...assim como os mais novos ao interagirem com os mais velhos também são um vínculo de novos modelos e aprendizagens...todos devem aprender com todos...infelizmente nem sempre é assim...
Um beijinho Carol e como já muitos disseram não desistas! Quem sabe se um dia não poderás (como o Joshua e outros) voltar a ser professora de corpo inteiro?
Bem-hajas pelo teu testemunho...

Rafeiro Perfumado disse...

Assusta-me a facilidade com que hoje em dia se mete os miudos a "ter explicações". Estará o nosso ensino assim tão mau que têm de se socorrer de ajuda externa? Ou será apenas uma forma de os obrigar a estudar?

Robin Hood disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Robin Hood disse...

As políticas de educação deste governo falharam redondamente agravando as más políticas anteriores. Só-cretinos há muitos. Gente capaz há pouca não porque realmente não existam mas porque o país está cheio de taxistas que não querem sair de lá nem à lei da bala.Já perderam o contacto com o mundo real e estão-se cagando se há quem sofra.
Vejam onde votam nas próximas eleições.

joshua disse...

Pelo contrário, e ironicamente, eu tenho uma adoração completa pela mediocridade. Acho que são os medíocres os grandes construtores do Progresso e da História.

Se tu, Carol, não tiveres atingido esse patamar absoluto e não fores medíocre, se não tiveres uma cultura e uma preparação o mais rudimentar que possas, deves amargurar-te e arrepender-te.

Eu sou miserável e medíocre com toda a convicção e com toda a paixão que posso. Trabalhei toda a minha vida por sê-lo, fiz por isso, e hoje sou o medíocre mais feliz e mais naufragado que é possível. Nada na vida se faz sem a energia redentora e criativa de se ser um frustrado. Quem não é frustrado, não pode saber o que é a vida na sua completude complexíssima.

Umas das minhas maiores aquisições no plano da minha formação contínua e pessoal é ter tido a sorte de me sentir frustrado com tudo e com todos e o seu contrário. Aí, nesse abismo, é que me realizei melhor, mesmo como professor intermitente: alguém que não acredita nas palhaçadas de entretenimento e de alienação com que se disfarça a ignorância e a incapacidade de escutar pessoas por elas mesmas.

Só a mediocridade e a falta de talento nos podem salvar de duas coisas: do vício autolaudatório e da arrogância maniqueísta com que, por sermos jovens, gostamos de pintar o mundo.

O Medíocre é sempre Maniqueísta e não pode ver o mundo senão sob tal prisma. Por isso, a docência também nos converte em palhaços, em mal-interpretados, em vítimas da mediocridade inteligente e capaz dos mais capazes, os tais que, por serem jovens, tingem o mundo a duas cores: os bons e os maus. Os que são e os que não são.

Não ser medíocre é raro e é difícil: só aqueles que olham para o lado cinzento, pardo, ambíguo, complexo, da vida e se isentam de juízos salomónicos nela, só esses poucos é que não sabem ser medíocres como lhes compete. Fogem de sê-lo e não o são, de facto, para si mesmos. São-no para os outros.

Há, portanto, dois tipos de medíocres: os que o são para si. Os que o são para os outros. Ambos os tipos estão enganados e é necessário ler tudo ao contrário para se fazer justiça às pessoas concretas.

Esses são os que não preenchem as caixas de comentários de absolutamente ninguém nem com elogios nem com críticas e ficam no seu canto silencioso e culpado a aspergir génio e mérito a sós.

Sai-lhes isso pelos poros imparável.

PALAVROSSAVSVRS REX

Menina Marota disse...

Excelente texto! Por vezes as verdades são fáceis de digerir, o que leva a que cada um olhe só para o seu próprio umbigo.
É a primeira vez que aqui venho. Pessoa Amiga, chamou-me a atenção para este blogue.

Gostaria que aceitasse o prémio que está no meu blogue, Escritores da Liberdade... que o dedico com todo o afecto de uma Mãe.

Um abraço carinhoso e FELIZ 2008

Dalaila disse...

tem vida, alma e sentimentos este texto, tem verdades também, tem tudo aquilo que há noutras profissões, só que a educação cada vez deve ser um caminho de preocupação, aí se fazem muitos futuros

Tiago R Cardoso disse...

Excelente Carol, destes um grande contributo com o relato da tua experiência.
Todos deviam ser assim, gostarem do que fazem e não serem apenas transmissores de informação mas sim ensinar com dedicação, sabendo que estam a prepara pessoas e o futuro deste país.

São disse...

Sou eu de novo, Carol.

Gostei da complexidade de Joshua.

Continuo sem conseguir entender o que leva determinadas pessoas a serem ofensivas nas suas posições.

Para mim, o facto só demonstra a fraqueza das mesmas e a falta de argumentos válidos em sua defesa.

Pode-se estar nos antípodas do pensamento de alguém e rebater a respectivas bases sem ser nem deselegante nem grosseiro.

Será assim tão difícil?!

Saudações.

quintarantino disse...

Um testemunho excelente que, por razões de laços familiares, me abstenho de comentar.
Se elogio a autora, sou suspeito.
E não tenho razões para a criticar.

Eu propunha era um misto entre o que ela diz e aquilo que o enorme Joshua (aquele abraço desde ontem) descreve e afirma. Por razões que quem me conhece e quem me ler sabe e conhece!

Eternamente disse...

Tenho acompanhado, desde o início, o desenrolar deste tema e verifico que há muito trabalho de primeira aqui desenvolvido tanto a nível de textos como de comentários.
Não vou repetir o que já foi dito mas enfatizar que a educação foi o maior falhanço do pós 25 de Abril e quer tenha sido paixão quer não tenha sido o resultado é sempre o mesmo: trampa.
Ver a educação pela forma como se manipulam estatísticas ou se fazem poupanças no Orçamento de Estado é um crime de lesa majestade.
Quem o comete deveria sentar-se no banco dos réus.
Deixar um país sem futuro, desequilibrado culturalmente e na mão de quem consegue safar-se porque os paizinhos são ricos e influentes, é CRIME.
Pode ser que um dia haja um julgamento.
A Carol é um exemplo do que não deve ser: desaproveitamento das reais capacidades de quem se disponibiliza a ensinar com vocação e entrega.

René disse...

Isto tá bom tá.Para que raio um índigena tira um curso de professor?
A Carol foi esperta em ter arranjado essa forma de tornear o desemprego mas não deve ter sido fácil, não.
Tudo o que diz mostra as diferenças de condições que nunca se atenuam e antes se densificam com o tempo.
A vida está para os ricos Carol e para os que têm tachos à pala dos partidos. E esses que têm tachos que o sistema alimenta são esses que não querem a escola para todos e muito menos uma educação suportada pelo Estado não lhes vá faltar o pilim para manterem o estatuto.
Mas tu mereces e por isso força garota e não desistas. Quem é lixo mas tem boas cunhas não tem que provar nada agora tu, que vales, tens que lutar a dobrar.

C Valente disse...

A realidade das realidades , que muitos não querem ver
Saudações amigas com um beijo

DS disse...

Um belo texto!
Infelizmente há sempre aqueles que fazem só por fazer e aqueles que dão o melhor de si! Mas acredito que, apesar do esforço, os segundos têm uma vida muito mais preenchida e enriquecedora.
Beijinhos!

7 disse...

Um grande testemunho, real e consequência do nosso sistema. Realmente existem os tais professores desinteressados, os alunos abastecidos de bens desnecessários oferecidos pelos pais, enfim...Contudo ainda existem os professores que se esforçam, como o caso aqui presente. Ainda bem que consegui estabelecer-se, pois infelizmente, ser colocado como professor está difícil. Abraços.

JOY disse...

Li com atenção a totalidade dos comentários que aqui foram deixados,e numa grande maioria existe um denominador comum , a vocação ou o gosto por aquilo que se faz que penso ser predicado indespensável para quem exerce tão nobre profissão.O estar nesta profissão por estar ou á espera de que apareça qualqur coisa mais de acordo com os desejos de cada um simplesmente porque necessita de um salário o que é um motivo compreensivel mas que terá efeitos negativos nos alunos uma vez que mais que provavélmente será uma pessoa desmotivada (existem pessoas nesta situação mas que com profissionalismo conseguem levar o barco ao seu porto )sem capacidade de captar a atenção dos seus alunos com os resultados dai resultantes.Depois do 25 de Abril já foram feitas um sem numero de reformas educativas com os resultados que se conhecem ,não há meio de se perceber que uma reforma da educação tem que sr feita a médio curto e longo prazo com a colaboração de governo e oposições e ser tranversal a várias legislaturas independentemente da força partidária que estiver no poder.
Carol pessoas como tu possuidoras desse predicado que é a vocação e o gosto pelo ensino deveriam estar a dar aulas e tenho pena que assim não seja .

JOY

SILÊNCIO CULPADO disse...

O Joy, na prática, fez o balanço que eu queria fazer. Resta-me agradecer à Carol e a todos os participantes os excelentes contributos que deram ao esclarecimento e análise deste tema.
Antes de passar a palavra a José Carreira, do Cegueira Lusa e também meu sócio do Silêncio Culpado, impõe-se-me fazer um curto intervalo para prestar um esclarecimento aos meus visitantes.
Mais uma vez obrigada a todos.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Obrigada, Bluegift.

Adriana disse...

Quem sabe se as pessoas do governo que lidassem com a educação pudessem ser da area ,como os professores houvesse uma esperança maior em resolver os problemas.Continuemos ...