.



A NACIONALIZAÇÃO DO BPN E O PROVÁVEL INÍCIO DE UM NOVO CICLO



A actual conjuntura económica mostrou-se, aos olhos do mundo, com toda a sua nudez num cenário de crise sem precedentes que deitou por terra máscaras e paradigmas onde se escudam os reais interesses dum mercado em total liberdade de concorrência.

Os que defendiam as privatizações que permitiriam reduzir o Estado a um papel quase simbólico, começam a dar mostras de temor perante o monstro que criaram, e alimentaram, crentes que lhes seria fiel e jamais os trairia.

Mas quem cria monstros não pode esperar complacência das suas criações. Os monstros não conhecem dono nem se deixam dominar. Ávidos de alimento querem sempre mais e nada os farta e nada os demove porque não têm sensibilidade para se condoerem dos que são sacrificados para os alimentarem.

Que diferença lhes faria, portanto, que o seu crescimento se faça à custa do desemprego, do subemprego, ou de salários que não dão para subsistir? Que diferença lhes faz que haja uma saúde e uma educação para ricos e outra para pobres? Até é melhor que assim seja. As clivagens quanto maiores mais intimidam os revoltosos perante esse poder que os esmaga e que alimenta o ego de quem o possui.

Muitos, convencidos que são políticos de primeira água, defendem que a mão invisível do mercado moraliza e equilibra as forças em concorrência. Como se a ganância, a corrupção e a concupiscência fossem coisas do passado que a civilização hodierna não usasse nas suas actuações para ter mais e mais!...

Não há moral quando se vendeu a alma ao diabo para conseguir ouro. Um ouro que se guarda com avidez para que ninguém o veja nem possa ser partilhado.

Uma vez reduzido o papel do Estado a uma actuação simbólica, sob o argumento de que as entidades privadas têm lógicas de produtividade muito mais consistentes, caem por terra os obstáculos ao negócio do vale tudo.

O que se passa no BPN deveria servir para reflexão.

A Operação Furacão, iniciada em 2005, levou a que o Ministério Público detectasse uma operação de centenas de milhões de euros, sem qualquer suporte contabilístico, num Balcão virtual do Banco Insular de Cabo Verde que gerou um elevadíssimo valor incobrável. Segundo notícias, vinda a lume, foram detectados esquemas de branqueamento de capitais que funcionavam com recurso a off-shores, mas só agora, realizada a auditoria da SLN (Sociedade Lusa de Negócios) as autoridades perceberam a verdadeira dimensão do problema.

A PJ prepara-se para dar início a uma investigação de contornos inéditos. É que estão em causa mais de 700 milhões, que poderão ter sido desviados na sequência de operações financeiras duvidosas.

Para além dos desenvolvimentos que se seguirão, fica-nos a interrogação sobre quantos mais casos existirão que passaram às malhas.

E poder-se-á também reflectir sobre as implicações na vida dos cidadãos se, descartado o papel do Estado, fossem deixadas na mão dum mercado livre e traiçoeiro, poupanças, fundos de pensões, seguros de vida e de saúde.

42 comentários:

Maria disse...

Minha querida

Já vi este filme (ou parecido) noutros tempos.
Pode haver a investigação de tudo, do BPN, dos off-shores, das empresas que o BPN detém (e que não foram nacionalizadas!!!), que o resultado vai ser zero, em termos práticos.
Moralizar o sistema é preciso. Mas com quem lá está é impossível.

Um abraço

David disse...

Em relação a tudo isto apenas tenho a dizer que já sou dono de um banco...como diz a publicidade.

Não preciso de outro obrigado...


Cumprimentos

Isamar disse...

Querida amiga, agradeço-te as palavras, compreendi, mas estou a passar por um momento de saúde que não é fácil de debelar.Que a força me não falte. Há amigos virtuais, como tu, a quem muito devo.

Bem-hajas!

Beijinhos

Anónimo disse...

e então surgiram as contradições... defendiam eles acerrimamente que o Estado deve apenas ficar a ver passar os comboios, porque de negócio percebem eles e o Estado quando se mete só serve para estorvar...é bom que a mão caia bem pesada em cima destes vigaristas!

abraço para a Lídia.

José Lopes disse...

Não acredito muito que se venha a fazer justiça, como nunca acreditei que houvesse real regulação dos mercados. Se, e enfatizo o SE, houver alguma cautela e se quiserem evitar episódios desta natureza, os avales e o dinheiro emprestado aos bancos deve ser acompanhado duma fiscalização real, não só porque estes são dinheiros dos contribuintes, mas também porque as fraudes não podem continuar a ficar impunes só porque os montantes são estupidamente altos.
Cumps

Anónimo disse...

Os bancos estavam todos bem em Portugal. Palavra de governante. E depois isto.
Mais que sabido e esperado. Ainda é cedo para falar sobre isto... Deixa passar mais um tempinho. Haverá outros bancos? Seguradoras?
Talvez...

Saudações e um sorriso

tagarelas disse...

Lidia- Desde que esta "crise mundial" teve inicio, que eu espero anciosa pelo efeito tsunami. E nao se trata de nenhum prazer sadico-massoquista mas porque espero com todo o fervor o seu desmoronamento que acredito nos conduzira a uma revolucao ideologica,
que questionara os valores com que nos deixamos conduzir actualmente.

amigona avó e a neta princesa disse...

Minha querida Lídia num País decente algumas pessoas estariam presas, aqui não! Com as pessoas que lá temos tomam-se medidas para ajudar os que foram prejudicados mas premeiam-se os culpados!!!
O grande capital sabe bem o que deve fazer!
infelizmente muitos de nós não avaliam a verdadeira dimensão do problema e continuam, teimosamente, a deixar-se enganar!!!

Beijocas...

São disse...

E será que o que se passa no BPN tem mesmo a ver com a crise?
Espero que todo este pântano deixe de feder!
Querida Lídia, se me deres o gosto de aceitares, tens flores paea ti lá em casa.
Um abraço fraterno.

Jorge P. Guedes disse...

O Estado de tudo se vai demitindo, chutando para o lado, para cima e para longe a bola pesada de lama que ele ajudou a sujar.

A pontos de me perguntar para que serve realmente!

Um abraço, Lídia. Gostei do artigo, cuidado e reflexivo como é teu timbre.

Anónimo disse...

Espero bem que haja um novo ciclo.

Jorge P. Guedes disse...

Ó LÍDIA, esqueci-me de te felicitar aqui pela Ordem do Comentador que recebeste do Grande King dos Bácoros.
O boneco é giríssimo e a distinção honrosa.
Parabéns, pois!

Um abraço do Sineiro.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Maria
Sem um combate eficaz à corrupção, nas suas mais diferentes vertentes, nunca conseguiremos a justiça social nem uma economia que sirva os interesses do País.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

David
Subentendo que dispensas ser dono de mais um Banco através da nacionalização. Bom, mas não é disso propriamente que se trata. Se a banca deve ou não ser nacionalizada isso já é outra questão que carece outro tipo de análises. Aqui o que está em causa é se o Estado deverá demitir-se do seu papel regulador e interventivo na economia ou se deve deixar o mercado em liberdade total.
Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Sophiamar

Eu senti isso, minha querida e vou acompanhando-te. Estou sempre aqui, nunca esqueças.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Polidor
Para que caia mão pesada sobre os vigaristas o Estado não pode perder a capacidade de poder intervir. Não estou a falar deste governo ou doutro. Estou a falar de que o mercado em total liberdade não funciona. Não funcionou nos USA como vai funcionar aqui?
Há empresas privadas de segurança social que faliram e deixaram sem nada os que para lá descontaram. Há pessoas que perderam tudo e não têm hoje qualquer tipo de protecção. Isso não assusta?
Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Guardião
Não há modelos nem soluções para as crises se não houver uma maior transparência de actuações. E os que têm havido deixam muito a desejar.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Mário Relvas

Pois eu concordo que ainda seja cedo mas antes cedo do que tarde de mais. Temos o direito de conhecer o que fazem com o nosso dinheiro e exigir que os corruptos sejam punidos exemplarmente. Doa a quem doer.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Tagarelas-Miamendes

Os valores que alguns não questionam são os valores da corrupção, da fraude e do compadrio. São os valores do branqueamento dos capitais por enriquecimento ilícito. Nunca me revi nesses valores nem por interesses nem por forma de estar. E como eu grande parte da população.
Não é com o aval dos que trabalham e lutam por uma vida melhor que esses senhores nos roubam.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Amigona
Minha querida tu já viste que em Portugal antes havia 8 corruptos condenados e agora já há 27. Quase o triplo. Ganda governo!... E como em Portugal só há 27 corruptos.....

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

São
Venham a sflores para que o seu aroma se espalhe e possamos esquecer esta podridão. Mas só por uns momentos, porque isso queriam certos senhores.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Jorge
Para que serve o Estado? Talvez para beneficiar os culpados.
Pelo menos e até que prove em contrário...


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

João Norte

Eu também espero que haja um novo ciclo em que o estado não se demitindo das suas funções actue e intervenha sempre que tal se justifique e onde tal se justifique.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Jorge

Fiquei muito sensibilizada por referires o prémio de comentador do Rei dos Leittoes. É um prémio muito especial vindo dum espaço que muito prezo.

Abraço

mfc disse...

Os yuppies continuarão insensíveis a todos os argumentos que contrariem os seus interesses.

António de Almeida disse...

-O problema não é falta de regulação, o sector bancário já é dos mais regulados. Quando agora se defende mais regulação, caso no futuro a mesma venha a revelar-se insuficiente, o remédio será ainda mais regulação? E caso esta volte a falhar? Será nacionalizar? Não! O problema é não sancionar a falta, aí é que reside o problema, a legislação é suficiente, a sanção dos prevaricadores não o é! Quanto ao liberalismo, ele continua a não passar duma utopia, embora tenha as costas muito largas e seja apontado como responsável por inumeras desgraças, a realidade é que não conheço nenhum país que seja governado segundo padrões liberais clássicos. Podemos sim apontar baterias ao capitalismo, que nada tem que ver com liberalismo, nem com a mão invisivel, porque existe demasiado protecionismo, por exemplo com a PAC ou os subsidios aos agricultores americanos do midwest, que impedem uma leal concorrência com produtos importados de países em desenvolvimento, que poderiam erradicar alguma pobreza em África ou na América Latina. A U.E. não é liberal, os EUA não são liberais, a China, India ou Brasil ainda menos.

Lúcia Laborda disse...

Oie linda! Embora vivamos realidades diferentes, em alguns casos chego a identificar semelhança com a nossa. Assino embaixo de tudo.
Beijos

Nuno Raimundo disse...

Olá...

Neste momento em particular para além do receio do dinheiro dos depositantes, temo o que poderá acontecer depois aos trabalhadores do BPN que nada fizeram para arcarem com tão graves consequências, fruto de uma gestão criminosa e acima de tudo danosa para toda a gente. ( contribuintes incluidos, apartir de agora).

Bjs

Pata Negra disse...

Duvido que o caso BPN tenha grandes desenvolvimentos. Concordo e aprovo sem nada a acrescentar. Parece-te pouco? Conversamos, aceno que sim sem frete, Lídia estamos na mesma mesa e no mesmo partido.

Um abraço para que o que é de todos seja de todos.

Menina do Rio disse...

Querida, nem me contou se já encontrou Aline... Ela agora tem um restaurante em Oeiras. Deixei até um link no Momentos.
Hoje estou tão cansada que vim só deixar um beijo

Hermínia Nadais disse...

Não há palavras para definir certas situações de tão embaraçosas que se nos apresentam.
Quantos BPNs andarão por aí ainda escondidos por debaixo de sombras aprazíveis!....
Que a força da razão ilumine esta sociedade que vive num mundo... que deveria ser de luz...
Abraço

C Valente disse...

Tudo nuvens passageiras, muito escuras que escondem muita coisa e nada vai mudar os interlocutores são os mesmos,
Saudações amigas

SILÊNCIO CULPADO disse...

mfc
Os movimentos que contrariam os seus interesses hão-de ser uma força e aí repararão neles.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

António Almeida
Concordo que não se deva sancionar as faltas. As faltas são para punir e para eliminar.
Relativamente áquilo que consideras a distorção da livre concorrência do mercado são, do meu ponto de vista, factores de menor peso que a corrupção, seja ela por peculato ou tráfico de influências que ocorrem quando se deixa o mercado entregue a si próprio sem regulação nem intervenção.
Hoje podemos conhecer os Países mais desenvolvidos através de relatórios fiáveis, com indicadores fiáveis, e visitando esses mesmos países fugindo às rotas turísticas e por tempo que nos permita perceber das suas realidades.
É só ver como eles fazem ainda que com realidades diferentes.
Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Nuno

Neste País quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão.
Espero que as tuas preocupações em relação aos trabalhadores não tenham razão de ser.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Olhos de Mel

Vivemos num mundo global e as realiaddes encontram sempre algumas semelhanças.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Pata Negra
Obrigada, amigo pela confiança.
Embora a nossa voz fique abafada nós vamos falando à mesa. Pode ser que alguém pare escute e olhe, como quando se atravessa uma passagem de nível.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Menina do Rio
Eu mal soube que a Aline morava a uns passos de mim, disse-lhe para marcar um almoço. Não tendo obtido resposta voltei, cerca de 2 meses depois, a reenviar o mail. Pediu-me desculpa e disse que estava a montar esse tal restaurante e que em breve me falaria.
Não nos encontrámos ainda.

Beijos (e descansa, pequena)

SILÊNCIO CULPADO disse...

Hermínia Nadais
Apesar dos nódulos onde a verdade emperra e dos interesses que fazem que eles existam, o facto é que as coisas vão-se sabendo e, deste modo, algo se vai corringindo.
Muito pouco, é certo, em relação às necessidades mas a construção faz-se pedra a pedra. Eu quero acreditar que sim.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

C.Valente

Os interlocutores são os mesmos mas algo me diz que eles serão forçados a mudar para sobreviverem face à avalanche em que se afundam.

Abraço

Nilson Barcelli disse...

No essencial concordo contigo.
Quando ouço falar da privatização da Caixa Geral de Depósitos, por exemplo, fico logo irritado...
Também não percebo a privatização da água e da energia eléctrica, muito embora sejam regras impostas pela União Europeia.
Post muito bom.
Beijinhos.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Nilson Barcelli

A União Europeia terá que fazer marcha à ré. Aliás já está a fazer e até os Estados Unidos já fizeram.

Abraço