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RESPEITAR OS MAIS FRACOS











Nada há de mais pusilânime e grosseiramente violento que um indivíduo usar a sua supremacia, seja ela de força física ou de posição de força, para amachucar e ferir os que não estão em igualdade de circunstâncias para se defender.

Acontece na violência doméstica em que as mulheres, estando em desvantagem física, são agredidas selvaticamente e, por vezes assassinadas, em casos numericamente muito superiores à da posição contrária em que seria o homem a vítima da violência.

Mas a violência doméstica não acaba aqui. Quantas mulheres frustradas, perante uma autoridade que as oprime e não conseguem desafiar, descarregam sobre os filhos que, sem se poderem defender, são alvos de sevícias que os marcam para toda a vida? Quantas crianças dão entrada em urgências dos hospitais poli-traumatizadas pelos progenitores? E quantas sofrem em silêncio sem ninguém que as defenda sob a ameaça de que se contarem ainda levam mais?

Mas não são apenas as mulheres e as crianças as vítimas de agressões. Pensemos nos idosos maltratados na família, espoliados de identidade, e que não confessam, por vergonha, que os filhos lhes batem.

Também nas creches, escolas e lares, crianças e velhos são vítimas de maus-tratos. Talvez mais do que os números indicam porque o receio de maiores represálias esconde, como um túmulo, a dor e a vergonha que não deixam transparecer.

E crime dos crimes, aquele que se exerce sobre deficientes sobre os quais recai toda a espécie de sevícias nomeadamente as de violação.

Só neste ano foram assassinadas, em Portugal, 43 mulheres e participados cerca de 23.000 crimes de violência sobre as mesmas.

Relativamente às crianças o cenário não é mais tranquilo. O primeiro estudo global sobre violência infantil da ONU dá-nos conta que quase 550 milhões de crianças, em todo o mundo, sofrem violência familiar, trabalham em actividades de risco ou são alvo de mutilações… E é este mesmo relatório da ONU que acusa Portugal de estar entre os países onde o número de mortes de crianças devido a maus tratos e violência é mais elevado.

Em média, a cada dia que passa há, entre os casos conhecidos, pelo menos uma criança e um idoso a serem maltratados. Os mais recentes números revelam que a violência contra idosos tem vindo a aumentar, em Portugal, com os registos deste tipo de violência a triplicarem, nos últimos cinco anos.

Este cenário cruel vem-nos mostrar que as políticas educacionais falharam e que os governos falharam na construção de sociedades de feição humanista e solidária. Os valores não se transmitem nem se ensinam, salvo raras e honrosas excepções.

Caminhamos sempre mais vazios e solitários com os olhos postos no além, num além onde muitos vêem Deus ou algo transcendental onde afogam as mágoas desta terra madrasta.

Mágoas de todos e para todos, enquanto pensarmos que a construção é algo exterior a nós e que a nossa participação por diminuta em nada resulta.


34 comentários:

Meg disse...

Lídia,
A violência, seja ela qual for, será só uma questão de educação ou falta dela?
Não será antes um sinal de desumanidade, de degenerescência das referências que até há uns tempos ainda vingavam na nossa sociedade? Quanta falta de respeito para com os nossos idosos, tratados como lixo das famílias, com as desculpas mais absurdas.
Vim de África, onde os velhos têm um estatuto intocável. São respeitados pela sabedoria acumulada.

Quanto à violência sobre as crianças, é ignóbil também, especialmente quando praticada pelos próprios pais - alguns são autênticos seres abjectos. Vítimas de violência e de chantagem. muitos deles vão tornar-se em futuros agressores.

Irão reproduzir os comportamentos de que foram alvo e fá-lo-ão sem grandes remorsos. Foi a sua dura realidade.

Um abraço

Lúcia Laborda disse...

Oie linda! Infelizmente real, viu? A violência doméstica está cada vez pior. Ainda ontem assistimos no jornal, um caso em que a filha batia violantamente na mãe e outro em que o neto batia porque queria dinheiro pra comprar droga e a senhora não tinha pra lhe dar.
Fatos reais e lamentáveis!
Bom fim de semana! Beijos

Peter disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Peter disse...

"relatório da ONU que acusa Portugal de estar entre os países onde o número de mortes de crianças devido a maus tratos e violência é mais elevado"

Lamentável!

Menina do Rio disse...

Lídia, concordo com a Meg; é tudo uma questão de educação, ou da falta dela...

Tem um ótimo final de semana querida

Beijos

O Árabe disse...

Se dermos voz à ternura que em nós existe, pelas crianças e pelos idosos, essa covardia se findará! Mais um belo post, amiga; bom fim de semana!

Anónimo disse...

Interessante, mais uma vez, esta tua análise. Acredito que os valores são questionados. Também acredito que a visibilidade dos crimes de violência doméstica, hoje, é bem maior e valem honra de abertura de telejornais e campanhas governativas. É positivo. Mas minha cara; penso que as dificuldades que aí estão à porta, a falta de horizontes profissionais e familiares poderá não trazer os resultados pretendidos. Também tenho pena dos homens que se deixam enredar na chantagem psicológica e até apanham uns tabefes bem fortes das mulheres e não se queixam por vergonha: são homens... É preciso não desarmar e informar. É preciso ter gente que se preocupe com a segurança dos jovens, dos idosos, classes etárias mais vulneráveis.
As crianças são flores a desabrochar e devem ser criadas com todo o respeito e carinho.Deve ser-lhes ministrada educação para combater as ervas daninhas, caso contrário... murcham!
Os mais idosos são flores vivas, com muito perfume, as mais antigas do jardim, que merecem ser cuidadas e que são a origem daquele florido todo. Sem elas não teria havido jardim algum. Elas podem inventariar toda a história do canteiro e explicar às flores mais novas como sobreviver e melhorar o jardim.

Todos somos necessários para melhorar a vida comum. Para a tornar mais razoável. É necessário a manutenção dos valores sociais. Por isso é necessário que funcionem bem as autoridades envolvidas e que a justiça concretize a acção, apurando a verdade correcta dos factos, segundo a lei vigente.

F
E
L
I
Z NATAL

Mar Arável disse...

é preciso resistir

também com palavras

mfc disse...

Parabéns por teres alargado o conceito de violência doméstica aos idosos e crianças, em vez do clichet, verdadeiro mas restritivo, de o aplicar só às mulheres.

Arnaldo Reis Trindade disse...

Amiga Lídia, desculpa o desaparecimento da minha pessoa da internet,é que me falta tempo, por inúmeros motivos, venho desde já agradecer a tua companhia em lutas tão belas, as vezes cruéis e quase que inconcebíveis contra as maus tratos do mundo, belos posts os teus , fico indignado com esse tipo de atitude de ferir alguém que ama, apenas pra tentar impor uma condição de respeito que por mais que se tente, atravéz da força vai se tornar apenas medo, eu não respeitaria alguém que me bate ou bate em seus filhos.
Quanto ao post sobre a pena de morte, como você mesma disse as maiores vitimas são os "culpados", criminosos que estão sendo condenados, estes por serem vítimas de uma sistema extremamente hostíl com a sociedade ou até da brutalidade e ignorancia de alguns lideres como os da Arábia e da China que são verdadeiros açogueiros e que por mais que tenham o poder em suas mãos, ainda são também vítimas de um sistema que os fez pensar que podem tudo ou que certas "Leis" não devem ser mudadas.

Abraços

António de Almeida disse...

-Concordo com grande parte do que escreve, mas discordo também, mais pelo que omite, de outra parte não menos importante. Vamos por partes:
-Em relação à violência doméstica subscrevo totalmente, mas aqui é também uma questão cultural, o velho ditado "entre marido e mullher...", ainda bem que passou a constituir crime público, pese a opinião contrária do demagogo dr. Marinho Pinto. No entanto apenas quando todos e cada um de nós, censurarmos de facto moralmente tal comportamento, olhando para um familiar que cometa tais práticas como certamente olhariamos se ele andasse a vender droga ou assaltar pessoas na rua, a violência doméstica não terminará, mas sofrerá uma forte redução, existindo como qualquer outro crime, de forma mais residual. Deixe-me apenas referir que ao que julgo saber, as mulheres por inferioridade física cometem um outro tipo de violência doméstica, a psicológica, não menos terrível para com as vítimas, embora existam mulheres que também cometem violência física, mas a vergonha aí aumenta exponencialmente, de resto tal como a violência nas relações homossexuais, só que o pudor impede a denúncia. Mas nem todo o exercício de autoridade sobre a parte mais fraca é forçosamente mau, já usei de autoridade para combater a xenofobia e racismo, e não me arrependo de a ter utilizado, afinal era o meio mais rápido e eficaz para obter um resultado, e olhe que valeu a pena, mas isso é outra história que poderei contar um dia...

Manuel Veiga disse...

abraço, abraço...
comovente e oportuno texto.

São disse...

Minha querida, a violência disfarça-se com tantas e tão diferentes máscaras...
Um grande, grande abraço.

Zé do Cão disse...

beijinhos, muitos muitos, para quem coração de oiro.

Zé Povinho disse...

Nada explica a violência, mas este mundo está cada vez mais a transformar-se numa verdadeira selva. Perante tanta indiferença e egoísmo, haja quem lance os alertas e fale na necessidade de sermos mais solidários e actuantes.
Abraço do Zé

SILÊNCIO CULPADO disse...

Meg

O teu comentário exprime o meu sentir e complementa o que escrevi.
Destaco:

"Vítimas de violência e de chantagem. muitos deles vão tornar-se em futuros agressores.

Irão reproduzir os comportamentos de que foram alvo e fá-lo-ão sem grandes remorsos. Foi a sua dura realidade."


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Olhos de Mel

No mundo da droga esses casos são infelizmente frequentes. Porém há quem não se drogue e exprima a sua face lunar de forma idêntica.


abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Peter

Lamentável e de que maneira.Revela bem o nosso atraso.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Menina do Rio

Que bom a tua visita. Já estava com saudades. Também estou um pouco faltosa porque estou com muita pressão em cima.
Mas não me esqueço de ti, isso não.


Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Árabe

Se déssemos voz à ternura...
Neste mundo cada vez mais cruel e egoísta a ternura é já um luxo a que nem todos têm acesso.

Abraço

amigona avó e a neta princesa disse...

Minha querida Lídia, acreditas que nestes momentos sinto um nó na garganta?!
Seja qual for a violência deve ser rejeitada por todos nós! Infelizmente é bem real e faz parte da vida de milhares e milhares de pessoas...
Enquanto professora trabalhei numa escola que tentou denunciar e combater a violência através dos valores que aí tentavamos transmitir (e praticar1): a amizade e solidariedade.
Hoje à ffrente duma Instituição denuncio os maus tratos existentes em Instituições similares e tenho MUITO orgulho em saber da felicidade que experimentam os que vivem junto de nós!
Saber que há famílias que têm os seus familiares connosco com grandes sacrifícios financeiros quando nalguns casos podiam não os ter, gastando muito menos, só nos faz muito, muito feliz!


Uma boa semana minha amiga...

Anónimo disse...

Concordo com a visão da análise e não adianta dizer que nem tudo é assim. Globalmente a incapacidade de defesa ou de evitar que sucedam episódios de violência seja qual for a sua natureza é comum e bem longe, mais do que fazer justiça, encontrar os meios para que estes actos não se concretizem parece-me matéria difícil de contornar. Realmente o indivíduo caminha só pelos passeios...
abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Mário Relvas

Verdade tudo isso que dizes. Quanto a homens que levam uns tabefes das mulheres também conheço. Aliás conheci um fulano que era franzino e casado com uma matulona que lhe chegava a roupa ao pelo. Andava sempre marcado e a inventar desculpas. Mas são excepções porque, de uma forma geral, os homens têm mais força fisica e estão mais preparados para a porrada. Num confronto as mulheres ficam a perder e eles usam e abusam dessa circunstância. Houve este ano 43 mulheres assassinadas.
Mas há outras violências como as que se exercem sobre crianças. Um médico do Hospital S.Francisco Xavier disse, numa entrevista, que em média chegava àquele hospital uma criança politraumatizada de três em três dias, com marcas fisicas e psicológicas para toda a vida e por vezes causando a morte.
Em relação aos idosos há situações tenebrosas que as vítimas escondem dos outros por vergonha e para não acusarem os filhos.
Valores precisam-se. E penas pesadas para os infractores também.

Abraço

. intemporal . disse...

Olá Lídia

De facto, o conceito de violência doméstica é sempre entendido à priori como a prática de violência perante as mulheres.

No entanto, e tal como aqui é demonstrado, esta violência é mais abrangente e vasta, muito mais até, infelizmente.

Há que reunir esforços para combater este flagelo.

E enquanto o Homem não parar e rever o percurso no qual se encontra, dificilmente chegaremos a bom porto.

Um abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

mfc

É preciso resistir e é preciso mudar. Há que evoluir e ser gente. Há que ter valores e mudar comportamentos.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Arnaldo Reis Trindade
É um prazer reencontrar-te e para mim estás sempre presente mesmo quando não estás. Também eu não estou com a assiduidade que pretendia por razões várias e alheias à minha vontade.
Respeito não pode ser confundido com medo. Impôr a lei da força ao invés do diálogo é retirar a outrém a dignidade a que tem direito. E isso não tem perdão.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

António Almeida

O tema do meu post é respeitar os mais fracos. Não pretendi centrar-me exclusivamente na violência doméstica.
Mas concordo com tudo o que dizes nomeadamente sobre a violência em que a vítima é o homem ou entre casais homo que dificilmente será participada.
Relativamente à violência psicológica num casal ela pode existir tanto da parte do homem como da mulher. Há homens absolutamente insuportáveis na relação de domínio sobre a companheira. E mulheres também mas não é um exclusivo destas.
Quanto à força a que se recorre para defender aqueles que precisam, ela não é violência mas sim um elevado sentido de justiça.
Deixa-me admirar-te pelo que fozeste ao combateres a xenofobia.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Herético

Obrigada, amigo, pela visita e pelo incentivo.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

São

A violência disfarça-se de tantas e tantas formas e outras tantas vezes nem sequer se disfarça.

Não gosto da violência. A violência diminui-nos como seres humanos.


Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Zé do Cão

Retribuo os beijinhos. É sempre bom encontrar-te.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Zé Povinho

É verdade que este mundo se está a transformar numa verdadeira selva. Temos que resistir a deixarmo-nos transformar em feras. Bolas temos que ser gente Zé Povinho. É por isso que luto e outros lutam aqui na blogosfera. O teu espaço é um exemplo dessa luta. Temos que ir em frente.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Amigona

Imagino as experiências que tiveste como professora. Sabes, de todos os grupos vítimas de violência, a violência sobre as crianças é a que mais me dói.
Serem alvo de sevícias quando estão na fase de incorporar valores e de estruturar a personalidade é duma gravidade que trará reflexos no seu futuro e nas suas actuações.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Martelo

Não podemos continuar a caminhar só pelos passeios. Há que tocar a todas as portas neste despertar.
A violência é um crime que nos diminui.

Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Paulo
Efectivamente a violência doméstica não é só sobre as mulheres embora os crimes perpetrados contra mulheres sejam preocupantes até porque não têm parado de aumentar.
Porém os crimes sobre crianças são também um autêntico flagelo a que há que pôr cobro.

Abraço