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SOLIDÃO



"O isolamento social prejudica a saúde e pode ser tão nocivo quanto fumar."

John Cacioppo, renomado investigador e professor de psicologia na Universidade de Chicago.

Há quem diga também que a solidão mata e que é um dos principais males do século XXI. Mas o que é realmente a solidão? Será o afastamento físico dos nossos semelhantes? Será a incompreensão que nos leva a que, mesmo acompanhados, caminhemos sozinhos? Será a segregação que nos empurra para um gueto quando se verificam certas características ou situações? Será a falta de confiança que nos deixa isolados mesmo quando interagimos com os outros?
Talvez na prática a solidão seja tudo isso resumido num conceito amargo.

John Cacioppo quer entender a solidão para entender a linguagem humana. Uma linguagem que está para além dos gestos e das palavras e que desce à essência do ser desprovido de tudo o que o aquece e motiva para a vida. Pesquisando sobre a solidão nos Estados Unidos este cientista conclui que a solidão é tão forte e tão determinante que pode alterar certas funções do cérebro. Cacioppo referia-se aqui àquela solidão concentrada num reduto final, soma de todas as solidões vividas e interiorizadas pelo ser humano que, à semelhança da maioria das espécies animais, não nasceu para viver sozinho nem se realiza com todos os laços cortados.

"Devido aos sentimentos de isolamento social, indivíduos solitários podem ser levados a buscar um certo conforto em prazeres não sociais", disse Cacioppo. O professor cita como exemplos comer ou beber demais.

De acordo com uma reportagem sobre o estudo publicada pelo jornal britânico Daily Telegraph, a solidão prejudica a imunidade, provoca depressão, aumenta o stress e a pressão sanguínea e também aumenta as possibilidades de uma pessoa desenvolver o Mal de Alzheimer.

A solidão, como a dor física, teria evoluído nos humanos de forma a produzir uma mudança no comportamento. Esse mecanismo, de acordo com Cacioppo, sinaliza a necessidade ancestral do homem de se agregar socialmente.

Curiosamente, este estudo elaborado nos USA, ou seja numa sociedade paradigmática das relações sociais num contexto de industrialização e desenvolvimento, apresenta-se como uma pedrada no charco evidenciando os perigos e perversidades dessas mesmas sociedades de individualismo marcante. E isto porque os projectos de vida se focalizam na obtenção de bens materiais e de poder e os desafios da multiculturalidade e do desenraizamento trouxeram alterações profundas às redes de sociabilidade.
A solidão trazida pela pressão humana sobre as grandes cidades, a ausência de equipamentos sociais e infra-estruturas que permitam às crianças desenvolverem-se em ambientes naturais e aos velhos terminarem neles o seu ciclo de vida, degrada a potencialidade de afectos e recusa toda a espécie de partilha.

Cada vez mais olhamos para os outros e para os diferentes fenómenos que acompanham estas sociedades em decomposição como se eles nos fossem estranhos, como se não fizessem parte da mesma família.

Por isso discriminamos e morremos por dentro.


27 comentários:

Eme disse...

Há um tipo de solidão resultante da separação fisíca das pessoas com quem se partilhava a vida e essa é a mais visível e mais facilmente combatida, quer convivendo com outros, quer procurando e recebendo o afecto das pessoas que o rodeiam. Penso que a mais fácil de ultrapassar.
Agora a verdadeira solidão, a exterior tão acentuada que acaba por tornar-se interior, acredito profundamente que provoque um grande sofrimento e para além de doenças psicológicas também contribui para o aparecimento de certos tipos de cancro. O mecanismo é de díficl entendimento mas confirma-se grandemente esta associação solidão/sofrimento/cancro.
Urge combatê-la entre os grupos que se encontram ou são susceptiveis de serem mais afectados. Mas como Lídia, como, se esta sociedade tantas vezes vive virada para o próprio umbigo e completamente escrava do trabalho e do tempo??

Um bom tema.

Beijo. Não te sabia regressada. Fui avisada por uns mimos na minha caixa de mail.

Paula Raposo disse...

E fazem parte. Bjs

C Valente disse...

bom texto Saudações amigas e bom fim de semana

alex disse...

A Solidão interior é nefasta como um cancro.
A solidão exterior ou o estar sózinho para mim é imprescindível, para um melhor conhecimento de nós próprios. Para nos amarmos,para nos aceitarmos com os nossos defeitos e qualidades. Gosto de estar sózinha comigo, mesmo que isso me dê vontade de chorar ,não serei a melhor das companhias.A solidão também pode ser uma amiga. bjx

Zé Povinho disse...

O homem é por natureza um ser social pelo que o isolamento é quase sempre a reacção a lago ou um sinal de inadaptação. Com o egoísmo cada vez mais acentuado desta sociedade actual são cada vez mais os indivíduos que se isolam, e isso tem consequências.
Abraço do Zé

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDA LÍDIA, CONCORDO COM O TEU TEXTO... A DOLIDÃO MUITA VEZ MATA... ALÉM DOS VÍCIOS APONTADOS POR TI... HÁ UMA ENORME GRAQUEZA QUE SE APUDERA DO INDIVÍDIO E O DESTROI COMPLELAMENTE... SUBLIME TEXTO AMIGA... UM BOM FIM DE SEBANA,
FERNANDINHA

mfc disse...

Por acaso falo de um tema parecido lá no Pé...
Coincidências.

Pata Negra disse...

Talvez por ser assim, assim por acaso, nunca conheci a solidão! Talvez por nunca ter conhecido a verdadeira solidão, gosto de estar só! Talvez tenha conhecido a "quase pobreza" e, talvez por isso, pelo "quase", nunca tenha conhecido a verdadeira solidão. Mas, talvez por isto, "detecte" facilmente a verdadeira solidão. Talvez eu tenha até muitos amigos porque "detecto" a verdadeira solidão. Estarei só nisto?! Nisto de os verdadeiors solitários gostarem de cultiverem comigo a verdadeira solidão?!
Não! Os que estão perto de mim, não experimentam a verdadeira solidão!
Que merda de sociedade é esta, de ruas cheias de carros e centros comerciais cheias de vultos, que permite a solidão?!
Que ninguém fique só! A revolução não tem dono!
Porra! Silêncio! A Pala foi apenas uma imberbidade!
Um abraço por aqui

Mar Arável disse...

Por vezes sós

mas de prefrencia

nunca isolados

Anónimo disse...

Solidão ou nem por isso?

Existem momentos de "solidão" que são refrescantes. Existem momentos de solidão que são depressivos. Existem momentos a que chamamos de solidão e que são apenas a não concordância com alguns dos comuns modos de vivência social que por aí encontramos a vulso. Bela solidão: a que nos faz ignorar o estúpido consumo, as frígidas marcas de luxo -que eu vendi-, que mais não passam de uma estranha sensação de querer mostrar poder ou capacidade económica, quando o poder é viver em verdade e coerência, sem subterfúgios.A vida é muito mais que uma simples aparência. Continuo a pensar que mais vale sê-lo que parecê-lo. Grande parte das pessoas querem parecer. Parecer que são ricas. Parecer que mandam e são alguém pelo poder/aparência/status. Observo-lhes a ignorância e uma despida falta de sentido de vida. São pessoas fortemente rodeadas de gente. Mostram-se exuberantes mas, são solitárias na sua falta de visão perante a realidade da vida. Na realidade ninguém lhes passa cartão. Temem-nas, ou precisam delas para este ou aquele objectivo. Vivem em frustração. Anseiam algo que ninguém jamais terá: certeza de que se é rico, ou que saberá algum dia tudo sobre o homem e sobre a vida. Existe gente desta, rodeada de muita gente, geralmente subalterna, que diz, prega e grita malabarismos de verdades e normalidades. A normalidade de alguns caducos é terem a barriga cheia e que os outros façam o que eles dizem do alto da sua sapiência que todos os dias questionam nos bastidores da sua verdadeira vida. Pior ainda, anseiam a juventude eterna. Temem que o sexo lhes fuja. Ou fogem do sexo com medo que este os puxe para fora da solidão. Ou escondem o sexo. Escondem o amor pela pessoa amada. Temem amar. Sentem--se confusos. Não sabem o que fazer. Mas não sabem o que é solidão. Solidão devem sentir, segundo eles, aqueles que comungam de pensamentos diversos sem certezas e abertos a quem lhe estende o pensamento. Estranhos enhores que são realemnte solitários. Morrerão, quiçá (in)felizes. No fundo escondem-se de si mesmo e escondem o amor que jamais poderão sentir. A vida é mais que a marca que se usa, de quem com um crocodilo ao peito pensa que os outros a engolem como sua. Existem pessoas que pensam que a estrelinha da Mercedes faz deles alguém. Ou que o hábito faz o monge... Quando os ouvimos a falar, pensamos: quem me dera ter um Mini; Mercedes é que não!
Enfim, a solidão é apenas um espaço na nossa imaginação. Existem os que a procuram fartos do egocentrismo dos nossos dias, outros porque, apenas, querem estar sossegados a viver a seu modo, fugindo da solidão dos outros. Será isso solidão? Devemos mostrar aos outros o que eles querem ver? devemos pensar que tudo o que vivemos no passado foi positivo e que teremos que viver tal e qual como há décadas atrás? Ou segundo aquelas normas e com aquelas pessoas, mesmo que só nos digam algo pela simbologia da recordação? Sim, eu sei que tudo são recordações. Sim, eu sei que gostei de viver naquele tempo, naqueles padrões. Sim, eu sei que naquele tempo fui enganado. Sim, eu sei que naquele tempo tudo fiz para viver naqueles parâmetros.Pela "solidão"; ou contra ela.
Gostaria que as pessoas procurassem entender os outros reciprocamente. Seria certamente um sinal de esperança e não de solidão. Se olhassem os outros sem ser de cima... ou de soslaio, não teriam problemas de solidão.
Bem, o que é a solidão? Pois, "ser ou não ser, eis a questão"!


Saudações e um sorriso!

Mª João C.Martins disse...

Sentir solidão é bem diferente de estar só. Na realidade esse sentimento perturbador que mina a alma até corroer o corpo é bem mais frequênte do que imaginamos.
Talvez seja sentido de uma forma mais intensa nas grandes cidades, onde as pessoas se cruzam e nem se olham, permanecendo na solidão dos afectos ou no deslumbramento enganador dos seus próprios umbigos.
Decidi comentar o seu texto Lídia, apenas para fazer uma referência especial à solidão de dois grupos etários distintos:
A solidão dos idosos, fruto de uma sociedade descartável, desprovida de respeito e dignidade por aquele que não sendo já um Ser produtivo, continua a Ser Humano com uma história e uma família que tantas vezes o despreza.
A solidão das crianças que em silêncio sofrem toda a espécie de violência e que na sua vulnerabilidade, não têm adultos que as protejam, sendo muitas vezes esses mesmos adultos que as condenam a uma solidão tão dolorosamente calada que se perpetuará no futuro.

Muito pertinente este seu trabalho.
Parabéns
Bom Carnaval

mundo azul disse...

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Muito bom esse texto!

Sim...A convivência e a interação entre as pessoas é muito importante!
Se nos isolamos, também acabamos muito centrados no próprio umbigo e isso não é nada bom...

Beijos de luz e um ótimo feriado!!!

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Branca disse...

Olá Lídia,

Trazes sempre temas muito interessantes à discussão. Para além de tudo o que de importante já foi dito não há dúvida que há um relacionamento forte entre isolamento e falta de saúde, somos seres sociais e difícilmente equilibrados se completamente desprovidos de contacto com os outros, sobretudo de contacto com afectos, afectos que vais transportar sempre contigo, mesmo quando estás só.
Beijinhos.
Branca

Paulo disse...

Haverá um lugar especial para os solitários?" Ou, para ser mais preciso em relação aos meus anseios, indago: "Haverá um lugar especial onde possamos estabelecer comunicação total com os semelhantes, sem precisar de palavras?" Fica a pergunta no ar...Mas acredito que não!

Paulo

Valsa Lenta disse...

Os momentos de solidão são necessários e benéficos. Contudo, não poderemos dizer o mesmo da solidão interior, do isolamento social que poderá levar a esta solidão nefasta.
Nesta sociedade cada vez mais acelarada e egoísta perdeu-se a sensibilidade para com o outro.
Já me senti só no meio de um grupo de amigos. É verdade que falava, ria, partilhava... mas, no meu íntimo sentia-a tão só! Imaginava se soubessem como realmente sou... será que continuariam a privar comigo? Não é fácil até porque a família se afastou.
Mas, como está um lindo dia vamos partilhá-lo com quem amamos!

Felicidades

Fatyly disse...

Um bom tema já que cada pessoa é uma pessoa e como sofre a solidão à sua maneira.

Para mim, não há pior solidão do que a que sentimos quando acompanhados. Dói e dói muito.

Uma boa reflexão e igualmente todos os comentários.

Beijos e um bom domingo

António de Almeida disse...

Existe solidão voluntária e involuntária, muita gente procura estar só, à frente duma televisão ou computador, sem que possamos tecnicamente falar em exclusão, eventualmente em alienação, o que é bem diferente. Não sei se ouviu ou leu a notícia do eremita, que vive numa caverna, e não levanta a prestação da segurança social, tendo uma verba razoavel a receber, mas pela qual não demonstra qualquer interesse. Um case study, mas ao qual não se podem fazer extrapolações, por ser único...

Sei que existes disse...

O ser humano mata-se lentamente a ele próprio.... o sentimento de solidão é uma das formas de ele se matar...
Beijo grande

Fatyly disse...

Só hoje consegui ver a foto...e é a minha Praia Grande...que gosto tanto quando está como a foto:)

Beijocas

Nilson Barcelli disse...

A solidão é uma coisa tramada.
Até para os bichinhos...
Bom Carnaval, beijo.

Mare Liberum disse...

Um tema muito interessante e muito pertinente. Quantas vezes nos sentimos sós no meio da multidão. Sinal de inadaptação? Talvez! Mas é difícil combatê-lo e vamos definhando.

Beijinhos

Bem-hajas,amiga!

C Valente disse...

a solidão pode levar ao suicidio, o que se deve evitar
saudações amigas

musqueteira disse...

viva silêncio culpado! há muita solidão nesta aldeia entre serras onde instalei o meu novo atelier. solidão é um estado que quando procurado: ilumina a alma e nos eleva em tais conversas, que entre palavras directas com tudo o que nos rodeia, nos direciona para o que somos no seu todo. eu sei!... que irá dizer que este retiro me coloca mais perto dos sentimentos que nos motivam ao processo criativo. postas em causa todas as cores...aqui tudo é pedra. há passaros que desconhecia. ausências e sabores que pensei que já não existiam. na montanha estamos mais perto de deus? talvez! a solidão pode ser desejada e não prejudicial... mas, na realidade a TV aqui não funciona e a rede da net é quase um milagre quando se consegue obter sinal. por isso, ddeixei de responder a comentãrios até tentar saber o "único" sitio onde o 2G lá vai conectando dando tempo para se fazer uma máquina de roupa. é uma experiência que nos leva a reflectir sobre outros básicos detalhes... que nas cidades nem damos conta que existem. bom... vim dizer-lhe estas palavras para suavizar o negativismo de quem se isola. temporariamente eu seo. mas em perfeito isolamento, até à exposição final. hoje lembrei-me do alentejo e da exposição que lá foi criada. tive saudades. dos passeios no final do dia para "esticar os ossos". aqui, nada de passeios pois as frieiras atacaram em cheio a quem as desconhecia. coisas da neve e do frio entre serras. um beijo, maria

JOY disse...

Olá Lidia,

A vida não está fácil e falta-me tempo para o blog, mas arranjei um tempo para te visitar e ler mas um texto no qual as pessoas devem meditar, é um facto que apesar de hoje estarmos muitas vezes rodeados de pessoas é como se na realidade estivesse-mos isolados, não há dialogo , compreensão, respeito pela opinião diferente e até pela diferença. Excelente este texto.

Abraço forte
Joy

Susana Falhas disse...

Olá! De facto a solidão afecta muito as pessoas, que pode mesmo conduzir à morte. O ser humano vive da amizade. Necessita de desabafar o que lhe vai na alma às pessoas mais próximas. E quando falha isso, pode falhar tudo o resto...como uma bola de neve: solidão- falta o amor próprio-chega a tristeza, depressões até chegar a um beco sem saída...Sem amigos, o ser humano não pode viver, por isso às vezes se diz que podemos" ter poucos, mas bons amigos",para que possa haver um bom equilíbrio emocional e uma verdadeira paixão pela vida.

Beijinhos, Susana

Lúcia Laborda disse...

Querida, belo post! A solidão leva as pessoas a depressão e mata sim. Porque dessa forma a pessoa desiste da vida e vai aos poucos se entregando.
Beijos

Anónimo disse...

Olá "Silêncio Culpado",

Estive fora da net e aqui venho ao teu blogue, mal cheguei a casa, vindo do Porto. Abri de imediato o computador, embora fosse só para regressar à net amanhã ou depois, porque sou um fervoroso adepto da verdade. E "A César o que é de César".
Num dos muitos e-mails que envio ou reencaminho, criei um com esta tua postagem, bem como com os comentários aqui existentes. Enviei para alguns contactos, entre eles o JN, jornal que praticamente leio todos os dias e para onde costumo enviar alguns textos de opinião. Um texto foi-me mostrado hoje, pelo meu velho pai e que eu não tinha lido...
"SOLIDÃO É UM DOS PRINCIPAIS MALES DO SÉCULO XXI".
Verifiquei então que o referido texto, embora comprimido, publicado no dia 23 de Fevereiro de 2009, é de tua autoria, e é este que aqui estou a comentar, e está assinado com o meu nome: Mário Relvas.
Por isso venho aqui repor a verdade.
Quando envio um texto para publicação nalgum jornal leva os necessários dados identificativos e também a vontade expressa no título. O que não foi o caso.
Assim, repondo aqui a verdade, vou fazer uma postagem no meu blog e enviar este texto para o JN.

Saudações e um sorriso