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O DIREITO DE MATAR



No passado dia 1 de Maio Delara Darabi, uma linda jovem iraniana de 23 anos foi enforcada. Era pintora e amava a vida. Até ao último momento esperou uma salvação que não veio.

Foram grandes as pressões internacionais para que não fosse executada e, por isso, quando menos se esperava foi morta à revelia do seu advogado que instruía o processo com novas provas para a ilibar.

A manhã de sexta-feira ficou marcada pelo grito desesperado de Delara numa chamada telefónica para os seus pais a partir a sua cela.

O correspondente da BBC em Teerão afirma que a jovem terá dito: - Mãe, eles vão me executar, por favor, me salve. E na dor suprema duma mãe que ouve este apelo sem nada poder fazer o carcereiro terá tomado o telefone das mãos de Delara afirmando: - Vamos executar a sua filha e não há nada que vocês possam fazer.

E assim num ápice se apagaram todos os sonhos de Delara, todas as suas pinturas e o seu gosto pela arte. Momentos depois seria um despojo de um cadafalso que permite legalmente tirar a vida.

Delara Darabi tinha 17 anos quando foi presa acusada de ter matado com uma punhalada a prima de 58 anos de idade. Ela também respondeu por furto na casa da prima morta e por manter relacionamento sexual com o namorado Amir Hossain de 19 anos de idade.

No Irão, sexo só pode ser feito após o casamento e a adúltera recebe pena capital.Pelo roubo e pela intimidade com o namorado, a jovem cumpriu três anos de cadeia e recebeu 50 chicotadas em público pelo furto e mais 20 pelas relações amorosas. Porém o enforcamento viria como punição por ter sido considerada autora da punhalada, com intenção de matar.

Delara negou ser a autora do crime mas o que vale a palavra de Delara num País onde os Direitos Humanos são letra morta e que, desde 1990, executou 42 pessoas que haviam cometido crimes antes dos 18 anos, em desacordo com as leis internacionais?

Não é pois de estranhar que, após a Justiça Iraniana ter concedido uma suspensão da execução por dois meses, as autoridades prisionais ignorassem a ordem e a executassem sem aviso prévio ao seu advogado.

Um advogado que dizia ter em seu poder resultados periciais que ilibavam Delara. É que tanto o advogado como as organizações internacionais dos direitos humanos garantem ter sido provado por laudo pericial oficial e único que Delara Darabi é inocente. Os peritos afirmam que o golpe de punhal só podia ter sido desferido por uma pessoa destra e Delara era canhota.

O caso de Delara Darabi gerou grande atenção internacional após as pinturas e desenhos dramáticos criados por ela na sua cela terem sido divulgados por todo o mundo.

A Amnistia Internacional está escandalizada com a execução de Delara Darabi, particularmente por o seu advogado não ter sido informado e por a jovem não ter tido sequer direito a um julgamento justo.

Junto o meu grito ao da Amnistia Internacional e ao de todos aqueles que se insurgem contra a pena de morte não só pelo princípio em si como pelo facto de ser irreversível perante um erro.

Delara Darabi tinha apenas 23 anos e, provavelmente, estaria inocente do crime pelo qual a executaram.


Todos nós morremos um pouco com Delara Darabi porque continuamos vivos e somos culpados. Culpados por não calarmos quem tem estas leis.



38 comentários:

Meg disse...

Lídia,

Segui este caso e foi com horror que soube do "assassinato", porque na verdade foi o que aconteceu.
Não tenho mais palavras, só uma grande revolta...

A Amnistia Internacional está escandalizada com a execução de Delara Darabi...

SÓ ESCANDALIZADA???

Afinal para que existe? De que meios dispõe para agir ou fazer agir, para impedir que crimes destes aconteçam no séc.XXI?
Escandalizados ficamos nós todos com a certeza da impunidade com que se vão contunuar a praticar as maiores barbaridades...
IMPUNEMENTE!!!

Um abraço inconformado

Mª João C.Martins disse...

Lídia

São inúmeras as injustiças praticadas contra as mulheres por esse mundo fora, neste exacto segundo em que escrevo esta frase.
Existem diferenças culturais obvias que toldam a nossa capacidade para entender a razão de ser de tais brutalidades, mas existem razões, também obvias, para nos indignarmos com todos os actos despidos da dignidade e do direito que é devido a todo o ser humano, independentemente do género,idade, cor, religião ou país onde viva.
Há vários anos atrás, li vários testemunhos de mulheres, cujas vidas foram autenticos infernos causados por leis morais, culturais e sociais terriveis.
Fiquei chocada na altura, por desconhecer tal realidade. Hoje choca-me ela ainda existir.
A morte é a última das injustiças, a maior, a irreparável... infelizmente, talvez não seja a mais dolorosa!
É como dizes : "Todos nós morremos um pouco com Delara Darabi porque continuamos vivos e somos culpados. Culpados por não calarmos quem tem estas leis."

Um beijinho

Zé do Cão disse...

Silencio
Foi um pouco de ti minha amiga, que partiu com a pobre iraniana.
Os tiranos também morrem é certo. Mas é uma raça que se multiplica e que enquanto estão no poder, ninguém lhes pode fazer frente.


beijocas

Ângela disse...

Oi Lídia!!!
Este enforcamento foi realmente um ato bárbaro.
Não se pode crer, uma pessoa inocente e não ter direito a defesa é um verdadeiro absurdo.
Abraço, amiga.
Angela

Elvira Carvalho disse...

Nem tenho palavras para descrever toda a revolta que este acto me provoca.
A vida do ser humano vale muito pouco nestes países e a das mulheres vale ainda menos.
Um abraço amigo

Raul Almeida disse...

É sempre chocante depararmo-nos com noticias de execuções aberrantes e bárbaras como esta de Delara. Os especialistas em dar noticias, munem-se de pormenores que têm o efeito fermento em fazer crescer a nossa revolta como é o caso do telefonema que ela fez para a mãe realçando a crueldade do carcereiro que lhe tira o telefone das mãos para dar mais um golpe na pobre mãe.
Convém não nos calarmos, para que não aconteçam mais Delaras. Convém não nos esquecermos das Delaras do passado recente entre as quais me salta à memória a Angel.
Convém não nos esquecermos das Delaras, queimadas na fogueira pela santa inquisição, que só não acontecem actualmente pois vivemos numa parte do mundo que evoluiu em termos de respeito pelos direitos humanos e pelo respeito à vida.
Até que ponto somos manipulados e usados para desenvolvermos ódios aos muçulmanos que justifiquem guerras e invasões rotuladas de libertação de povos, mas cujo conteúdo real se chama “ouro negro” e é essencial para aquilo a que chamamos desenvolvimento e progresso.
Até que ponto os culpados da morte de Delara somos nós que provocámos nos executores a necessidade de afirmação com a mensagem que nos transmitem “Aqui mandamos nós” .
É bom sermos cruzados na luta contra a pena de morte, pelos castigos bárbaros como chicotadas, pela mutilação genital feminina, pela garantia pelos direitos humanos.
É bom no entanto saber até que ponto somos manipulados sem nos apercebermos disso para intenções dissimuladas que visem guerras que iremos aceitar e que irão causar milhares de vítimas inocentes.
Olhando um pouco para o nosso umbigo, e para o mundo que dizemos civilizado o que vemos?
Uma senhora grávida que não obedece à ordem de paragem da polícia quando pára e sai do carro ser abatida a tiro pela polícia, nos EUA. Crianças sem lar serem abatidas num massacre horrível, no Brasil. Dissidentes políticos abatidos com um tiro na nuca na China, já para não falarmos do que está acontecendo no Tibete.
Muito mais poderia dizer mas não num simples comentário a um post. Desculpem-me os leitores a minha aparente insensibilidade ao caso Delara, que amanhã à semelhança de outros casos fará parte dos arquivos históricos. A minha guerra é pelo respeito pelos direitos humanos, pela mudança de mentalidades e por um mundo melhor. Uma guerra sem tréguas por todos os dias de minha vida em que cada dia travo uma nova batalha sendo que umas ganho outras perco. A batalha pela vida de Delara está perdida, no entanto mesmo sabendo-o não podemos bater em retirada e continuaremos a nossa luta na esperança de que novas Delaras, não aconteçam.
Abraços

R.Almeida disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alexa disse...

Lídia é triste algumas pessoas viverem no seculo XXI e outras viverem no seculo XVII onde o assassinio é permitido.
A Aministia Internacional está escandalizada então para que existe?
Escandalizadas temos o direito de estar nós,as pessoas que ainda acreditam em certas instituições
beijo

Susana Falhas disse...

Lidia: Desconhecia por completo esta história.Estou sem palavras com o teu post!
Bjs Susana

António de Almeida disse...

Talvez seja altura para alguns recordarem as palavras de D.José Policarpo quando proferiu declarações polémicas sobre os perigos que as mulheres correm em países islâmicos, por exemplo via casamento. A Igreja Católica (da qual não sou praticante há mais de 20 anos) tem defeitos? Tem, mas o Islão é infinitamente pior, dentro do Islão o Irão é dos piores países...

José Lopes disse...

O radicalismo, de qualquer espécie, é sempre significado de barbárie, e acaba invariavelmente por confundir o significado de Justiça.
Mais um caso lamentável, mais um assassinato, porque este é o adjectivo próprio.
Cumps

José Lopes disse...

O radicalismo, de qualquer espécie, é sempre significado de barbárie, e acaba invariavelmente por confundir o significado de Justiça.
Mais um caso lamentável, mais um assassinato, porque este é o adjectivo próprio.
Cumps

isabel mendes ferreira disse...

sim. todos culpados. pela incapacidade de mudar.


abraço grato pela denúncia.

aDesenhar disse...

Fico sem palavras perante tamanha
barbaridade.
É um país de loucos, com leis absurdas e retrogadas que me fazem lembrar a tenebrosa Idade Média.

:(

Unknown disse...

Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo .

Abraço querida amiga

SILÊNCIO CULPADO disse...

MEG e ALEXA

A Aministia Internacional foi apanhada de surpresa e isto porque a justiça iraniana havia concedido, em 24 de Abril, uma suspensão da execução por dois meses. Assim a execução estaria marcada para 24 de Junho o que daria tempo de sustentar a defesa e concertar estratégias de pressão com vista à comutação da pena. Só que as autoridades prisionais ignoraram a ordem e a enforcaram sem aviso prévio e sem conhecimento do próprio advogado.
Abraço

Eme disse...

é assassinio. não é sentença ou julgamento é assassínio. viola além do artigo 3º da Declaração Universal dos Direitos do Homem que enuncia o direito à vida, o artigo 11º que defende que toda a pessoa acusada de delito é presumível inocente até que a culpa seja legalmente provada no decurso de um processo público onde lhe seja garantida a defesa. Como Estado, o Irão arrisca-se a tornar-se ilegítimo aos olhos da comunidade internacional e o crime que cometeu não lhe diz respeito apenas a ele mas a todos os seres humanos com exigências morais.
Sou contra a pena de morte. mesmo que muitas vezes diga entredentes que tal individuo merece morrer devido ao crime que cometeu, sou absolutamente contra. viola os princípios da democracia, penso que as prisões são castigo suficiente e mais importante, o risco de se vir a descobrir uma eventual inocência é algo que nenhum Estado castigador deve transportar aos ombros.
Delara já não vive. Nada a fazer. Esperemos que os gritos de protesto sejam ouvidos e que gerem o receio de mais atitudes como esta. é que anda um caso prestes a acontecer, creio que no Laos. Uma britânica, ainda por cima grávida encontra-se presa no Laos acusada de tráfico de droga. Chama-se Samantha Orobator e também é bonita, se bem que o factor beleza não deva ser relevante. Está em vias de ser executada por um pelotão de fuzilamento e as autoridades proibem qualquer contacto entre ela e advogados que a possam vir dfender o que constitui a mesma violação dos direitos. O mundo prepare-se para assistir a mais um assassínio, por meio quilo de heroína...

SILÊNCIO CULPADO disse...

M.

Sei do caso da britânica que falas.Temos que nos insurgir. Somos poucos? Se todos fizeram algo deixamos de ser poucos.
Estes casos têm que ser divulgados. Temos que apelar a uma consciência colectiva.
Temos que romper o silêncio culpado.
Abraço

Peter disse...

Revoltante, absolutamente revoltante.
O meu desprezo para aqueles que se julgam "esquerdistas", sem o serem, que vêm defender estes actos, unicamente por se tratar de inimigos dos EUA.
Esquecem-se que eles são é inimigos da civilização ocidental. que, com todos os seus defeitos, é aquela a que pertencemos.

tagarelas disse...

Ola Silencio Culpado- Hoje neste seu artigo faz juz ao nome do seu blog. Sao casos como estes que tem que ser divulgados e diante os quais nao nos podemos calar. Os direitos humanos nao sao um dado adquirido, sao violados constantemente... e eu comeco a acreditar que isto de se ser humano, vai da sorte que temos..... do lugar em que nascemos....

São disse...

Lídia, minha querida Lídia, desculpa ...mas eu nem consigo comentar, não tenho palavras par clasificar um acto tão horrendo como este assassinato sem ponta de sentido...

Para ti, a minha estima e o meu respeito.

Manuel Veiga disse...

junto omeu grito ao teu, a todos os gritos de indignação e protesto...

abraço. forte.

Marta disse...

E de que forma, Lídia!

Doi. e doi a impotência. o "mea culpa" que fazemos. depois.

OBRIGADA pelo teu alerta para estas questões!

um abraço

Marreta disse...

Casos destes são recorrentes por aquelas paragens. Ainda hoje li que mais um iraniano foi condenado à morte por lapidação, ou seja é enterrado até à cintura (no caso das mulheres é até ao peito) e depois apedrejado com calhaus que não podem exceder determinadas dimensões para não causar a morte rápida e assim aumentar o sofrimento.
O que se faz em nome da religião e da interpretação do Corão!
Parafraseando o meu amigo Ferroadas, diria: "Que merda de gente é esta?!"
E atenção que nada me move contra os muçulmanos, mas sim contra qualquer manifestação de fanatismo e radicalismo vindas elas de que que religião vierem.
Como não crente respeito quem tem opções diferentes e professa qualquer fé, mas tal aberração certamente nunca foi proferida nem incentivada por Deus, seja ele quem seja, esteja ele onde estiver.

Saudações do Marreta.

Maria Emília disse...

Junto o meu ao seu grito. É revoltante, é injustiça mas nós pouco mais poderemos fazer do que aquilo que estamos hoje a fazer aqui e esperar. Um dia virá em que a justiça se vai virar contra o justiceiro. A morte de todas as Delaras em tantos lugares deste mundo falam por si e farão justiça.
Um grande abraço,
Maria Emília

Mar Arável disse...

O sistema do mercado

do maxismo

e da injustiça social

devem ser sempre condenados

e combatidos

Dr. Mento disse...

Já conhecia esta história e confesso que a mesma me deixou particularmente impressionado.

Quanto à questão da Aministia Internacional, esta ONG não é como os capacetes azuis da ONU, pelo que não tem qualquer poder de intervenção física. Nem sequer é como a AMI ou a Cruz Vermelha.

A Amnistia Internacional é, sobretudo, uma ONG que usa como armas a pressão e a denúncia pública. No fundo, faz aquilo que, neste momento, todos nós estamos a fazer aqui, neste espaço... mas com mais meios e com um alcance infinitamente superior.

Anónimo disse...

Não entendo! Mesmo que ela tivesse assassinado a prima, alguém a assassinou! Um erro corrige o outro?

As instituições internacionais entraram para intervir no caso e nada adiantou. Pelo que entendo, elas nos representa. Como podemos ser culpados. Não concordo com essa barbaridade e por isso não me sinto culpada. :(

Beijus

Fatyly disse...

Já todos os comentadores falaram por mim...e estamos nós em pleno século XXI...

martelo disse...

confessemos... é um regime execrável.

abraço

Å®t Øf £övë disse...

Lídia,
É quase inacreditável como em pleno século XXI ainda há países que fazem tábua rasa dos direitos humanos, sem que sejam severamente punidos por isso.
Também eu junto a minha voz à tua, e sinto-me completamente indignado por este tipo de situaçõs acontecerem.
Beijinhos.

mfc disse...

Este mundo é mesmo uma trampa!

Compadre Alentejano disse...

O Irão é um dos países mais bárbaros deste mundo. A vida humana para aquela gente, não tem qualquer espécie de valor.
É pena.
Abraço
Compadre Alentejano

Pata Negra disse...

Parece impossível mas existem ainda muitos estados com pena de morte. Parte deles são até reconhecidos como democráticos e tal facto não impede que sejam normalmente aceites pela comunidade internacional. Pois para mim existem dois tipos de estados: os que têm e os que não têm a pena de morte!
Paz à alma de Delara e às de todas as mulheres que sofrem a barabarie das suas próprias culturas

maria disse...

Horrível

matar não pune pelo crime
pune um suposto crime
com um crime maior...

abraços

Jorge P. Guedes disse...

LÍDIA:

Deixo-te aqui o mesmo comentário que acabei de escrever num blogue que publicou este texto.

ESTE FOI UM CASO MEDIÁTICO! QUANTOS MAIS HÁ E ATÉ QUANDO, SÃO PERGUNTAS QUE SE IMPÕEM.

CABERÁ, EM PRIMEIRO LUGAR, ÀS CIDADÃS DOS PAÍSES ONDE ESTAS MONSTRUOSIDADES AINDA OCORREM, LUTAR ARDUAMENTE PELAS ALTERAÇÕES DAS LEIS BASEADAS SOBRETUDO EM CÓDIGOS RELIGIOSOS DE UM FANATISMO CEGO E CRUEL.

UM ABRAÇO E BOM FIM-DE-SEMANA.

LopesCaBlog disse...

Chocante :(

Unknown disse...

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