A classe política; grupo de pessoas que de uma forma ou de outra estão intimamente ligadas às decisões legislativas e executivas do nosso país, alguns mandatados pelo povo, outros encostados aos primeiros e assim sucessivamente; não são mais do que pessoas, nascidas e educadas na nossa sociedade, fruto da árvore social que somos todos nós. São portanto, reflexo das nossas virtudes e defeitos, dos valores que cultivamos, transmitimos ou abdicamos, das necessidades que temos vindo a criar e da inversão de prioridades que temos feito ao longo do tempo.
Hoje, cresce a cada minuto o número de pessoas que se indignam com o estado em que tudo chegou, porque cada vez mais, são maiores as diferenças entre os que sobem e aqueles que servem de degrau e, por isso mesmo, descartáveis. Assim como os afectos que, lamentavelmente, também se transformaram em produto de consumo rápido, substituivel e perecível a curto prazo.
Apela-se a todas as vozes que não se deixem amordaçar e que lutem por si e pelos mais desprotegidos, para que a ninguém seja retirado o que, dignamente , lhes é devido e conquistado como um direito.
Mas, numa consciência cívica para uma cidadania verdadeiramente activa, é preciso fazer um pouco mais. E isso implica não só a luta pelos direitos, mas também a responsabilidade pelos deveres, deveres nossos, que são os direitos de outros e vise versa, num conceito intrínseco de liberdade, dignidade e justiça. É necessário ter a capacidade de olhar mais longe e acautelar a transformação do presente, no futuro que desejamos e que começa agora mesmo.
Como podemos desejar um futuro de igualdade e respeito uns pelos outros, em que as pessoas que escolhermos para nos governar não se deixem corromper pela ambição e poder, se ensinamos as nossas crianças ; a serem o eixo a partir do qual, tudo gira e tem de confluir a seu favor; a viverem na conquista fácil do prazer imediato, em que tudo é possível obter, não importando muito bem como; que tudo tem um preço e, portanto, a dignidade é coisa de somenos importância; que a palavra dada e o compromisso, podem mudar consoante o interesse que se tem ou não nas coisas; que o trabalho entristece e, contrariamente ao lazer, não produz alegria nem realização pessoal?!
Que futuro podemos desejar, quando ensinamos que os sucessos são nossos mas a responsabilidade dos fracassos é sempre dos demais; que o respeito não se conquista pela conduta e pela obra feita, mas pelo poder e influência que se exerce uns sobre os outros e que as minorias e os carenciados, são os fracos que vivem à margem, os coitados e os culpados de todos os males do mundo e por quem devemos ter apenas pena e dar a nossa caridade de vez em quando, porque nos fica bem?!
Como podemos desejar um futuro diferente deste presente, se não assumirmos que os valores com que educarmos agora os nossos filhos ( principios, palavras e exemplos), serão aqueles que veremos espelhados, um dia, naqueles que nos governarão e em todos os outros que serão também pais, educadores e cidadãos do mundo inteiro?!
Não podendo transformar o mundo, podemos através da educação daqueles que agora dependem de nós, assegurar que o futuro seja povoado por seres humanos melhores que aqueles que hoje, nos indignam, nos desrespeitam e nos envergonham tanto.
Para o futuro que desejamos, há muito para construir. E já estamos atrasados!
Maria João Martins
9 comentários:
Concordo de todo. Aliás,num post recente também fiz notar que os políticos e afins que chegam ao poder saem da cultura comum que a todos nos molda.
Também considero que a educação é a base de tudo, mas aprendi por experiência propria que não tem a força que eu sempre pensei. O que não sugnifica que dessista ou altere a minha opinião sobre a crucial necesidade de educar as pessoas.
Um bom fim de semana.
Cuidado
o Cavaco anda à solta
Votar é um dever?! Não! Dever é votar bem! E votar bem é votar em gente boa e simples!
Um abraço desacorçoado
Maria João
Este é um excelente texto de reflexão.
Porque é urgente despertar consciências. Porque a mediocridade se instalou e coabita connosco como se fosse legitima.
Porque se impõe uma revolução cultural que traga uma nova ordem em que as pessoas se respeitem e os lugares de topo sejam preenchidos pelo mérito. Porque não podemos conviver com a injustiça e com o desrespeito como se fossem regra.
É preciso educar. É preciso mudar. URGENTEMENTE.
Abraço
Estimada Amiga,
A minha vida profissional e associativa complicou-se de tal maneira que não tenho tido tempo praticamente nenhum para o meu blogue. E, apesar de me lembrar de todos vós, não tenho passeado por cá.
Mas, como mais vale tarde que nunca, aqui estou eu a desejar-te um ANO NOVO CHEIO DE FELICIDADE, sobretudo com muira Saúde, Amor e Paz.
Bjinhos
Maria Faia
Parabéns Maria João por este texto tão bem estruturado.É um excelente testemunho do que uma boa parte da nossa sociedade está a sentir.É um bom exercício de luta e é também um grito de revolta mas, infelizmente, sujeito as forças centríptas que nos estão a empurrar para um buraco negro.
Na minha infância sofria com a agonia e morte de peixes em límpidos rios do Norte quando o veneno de trovisco ou sulfato de cobre varria tudo o que na água vivia.Mas a natureza recompunha-se e algum tempo depois já havia de novo vida nos baixios e cachoeiras.
O que eu vejo não é um envenenamento ocasional.Vejo um lago lamacento e poluído.E como se pode despoluir um lago assim quando é alimentado por um rio envenenado sistemática e metodicamente na sua nascente?
Excelente texto para reflexão que leva à conscientização de que não podemos ser indolentes, passivos e portanto coniventes com o desrespeito aos nossos direitos e aos direitos de nossos irmãos.
Boa semana Lidia.
Perfeitamente de acordo. Tenho pena que exista neste país tão pouca consciência cívica e que muitos estejam sempre à espera que sejam os outros a mexer-se, a lutar.
Cumps
A diferença não é defeito. É um direito!
Há ricos e pobres, sábios e ignorantes, heterossexuais e homossexuais, mas não há superiores e inferiores na dignidade.
É prova de maturidade aceitar e respeitar as pessoas como são, não querer modificá-las à nossa imagem e semelhança, nem sempre estar a repreendê-las, porque não comungam das nossas preferências.
Claro que aceitar e respeitar os outros como pessoas não obriga a concordar com todas as suas ideias ou com todos os seus comportamentos. Temos o direito (muitas vezes, o dever) de propor outras ideias e atitudes, através do diálogo. Mas não é legitimo impor, pela força, as nossas convicções e os nossos gostos.
Uma relação humana saudável começa, quando se aceita a diferença e a liberdade dos outros.
É importante saber distinguir as pessoas e as suas ideias. As ideias podem ser discutidas. As pessoas não se discutem. Respeitam-se.
ABÍLIO DE SOUSA
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