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UM DEVER CÍVICO RECORDAR GISBERTA

Por tudo o que representa de exclusão e de sofrimento. Por tudo o que não representou no seu desaparecimento.
Morreu atirada vivo(a) para um poço, maltratatado(a) até ao limite, por um grupo de crianças, entregues a uma instituição, que não perceberam que Gisberta era gente. E era vivente. E tinha sentimentos como qualquer outra pessoa. Possivelmente nunca fez mal a ninguém mas foram muitos, quase todos, os que o (a) espezinharam. A sua morte ficaria no silêncio, no tal silêncio culpado, se não houvesse vozes que se erguessem, que questionassem, que não quisessem que se apague o caso de Gisberta. Para que não percamos assim a consciência e a capacidade de nos indignarmos.
Pedro Abrunhosa, no seu novo álbum "Luz", apresentado em 20-07-07 no Olga Cadaval em Sintra, incluiu uma canção para Gisberta que não resisto em transcrever:
Perdi-me do nome,
Hoje podes chamar-me de tua,
Dancei em palácios,
Hoje danço na rua.
Vesti-me de sonhos,
Hoje visto as bermas da estrada,
De que serve voltar
Quando se volta p’ró nada.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Sambei na avenida,
No escuro fui porta-estandarte,
Apagaram-se as luzes,
É o futuro que parte.
Escrevi o desejo,
Corações que já esqueci,
Com sedas matei
E com ferros morri.
Eu não sei se um Anjo me chama,
Eu não sei dos mil homens na cama
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva,
Eu não ouço o meu grito na treva,
E o fim vem-me buscar.
Trouxe pouco,
Levo menos,
E a distância até ao fundo é tão pequena,
No fundo, é tão pequena,
A queda.
E o amor é tão longe,
O amor é tão longe… (…)
E a dor é tão perto.

2 comentários:

SEMPRE disse...

Há muitas coisas que ficaram no ar, à volta deste caso, e que nunca foram bem esclarecidas. O tal inquérito às Oficinas de S.José (instituição onde estavam as crianças) em que é que ficou? A instituição continua a funcionar da mesma forma "educando" as crianças para a violência?

ARTUR MATEUS disse...

Foi uma coisa que me chocou muito. E depois todo o silêncio que se seguiu. Parece que o mundo "evoluído" não reconhece a todos a condição humana. Quem é pobre e excluído não tem os mesmos direitos. É bom que haja quem os lembre.