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O FIM DA ESTRADA

Jorge Palma diz que, enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar. E quando se acabar a estrada? Quando esgotarmos, em lutas inglórias, todas as nossas faculdades e as nossas forças, que nos restará?
O homem poderá ser uma construção de si próprio e também uma destruição de si próprio. O sonho democrático está a chegar ao fim num mundo onde as alternativas falham e as urgências multiplicam-se.
Numa Europa em crise, qual ilha de civilização e de modelo, vão-se fazendo cimeiras cada vez mais enfraquecidas, cada vez mais questionadas e cada vez mais centradas no poder dos mais fortes. O povo não é chamado a intervir nem sequer já sabe se quer mesmo intervir. Porque o povo está cansado, gasto, faminto de uma solidariedade cuja ausência o desestruturou.
Parece que brincam com ele, com este povo encarcerado em si próprio, nos medos e nos delírios que a comunicação do poder faz pender sobre ele.
Os PS, próximos de Sócrates, parecem querer agora dar um golpe de rins e fazer um referendo, tudo jogo político a ganhar casas ou a perder casas junto ao principal opositor: o PSD. As pessoas não contam para nada, são números que servem para o país não estar vazio e continuar a ser Portugal. Nunca puderam falar tanto mas a sua voz não conta. Ninguém as ouve nem mesmo quando gritam. Portugal está na cauda da UE mas toda a UE já estiolou e vive de glórias passadas.

Na Conferência “A Ciência Terá Limites?” que começou ontem na Gulbenkian, Steiner afirmou que a Europa está em tão mau estado que ninguém pode estar optimista. O ensaísta, e professor em Cambridge, considera que outras civilizações irão ocupar o seu lugar. E que as igrejas vazias são um símbolo do fim do cristianismo clássico numa Europa que enfrenta, hoje, uma grande crise de esperança.

«Desde a revolução francesa que a esperança tem estado sempre à esquerda. Mas hoje não há mais esquerda na Europa. O que os jovens vão querer? Vão querer dinheiro! A Europa actualmente é o cheiro do dinheiro, que é tão sufocante e pode vir a ser um grande Macau ou uma explosão enorme», afirma.A crise na cultura, por outro lado, levará a uma crise na ciência.«A seguir à religião algo virá, porque as pessoas têm dificuldade em viver na solidão, mas o que me assusta é que deste vazio saia o que é ´kitch`, ou o futebol», que considerou a actual grande religião.«Maradona substituiu Pascal», referiu.Com esta crise, disse Steiner, «não haverá mais Platões, nem mais Mozarts ou Bachs na Europa».«Eles vão aparecer na Índia ou noutros locais do planeta, mas não na Europa. É a vez deles», considerou.«Vou dizer uma coisa que vai deixar zangada muita gente: uma civilização que mata os seus judeus não recupera», disse ainda Steiner.Para o ensaísta, a chave para combater este quadro em que «a irracionalidade, a astrologia, o lixo 'new age' estão a flutuar nas nossas vidas», é o Ensino.«Até a nossa sociedade mudar e apoiar os professores, nada de bom acontecerá», salientou.

É o ensino, digo eu também. E que ensino numa sociedade desigual em que a igualdade de oportunidades é um mito?

29 comentários:

António de Almeida disse...

-A estrada não tem fim, mas a Europa terá de se refundar ela própria, convencida que estava da sua superioridade moral e civilizacional, foi ultrapassada, primeiro pelos Estados Unidos, mais tarde pela Austrália, Japão, brevemente pela China e India, a continuar ainda acabaremos também atrás da Indonésia, e alguns países africanos por ora adormecidos. O modelo social europeu está esgotado, queiram ou não o liberalismo é a doutrina triunfante, pelo menos nos tempos mais próximos, pode ser implementado com humanismo, ou de forma selvagem, pessoalmente prefiro a primeira hipótese, mas não será a Europa a decidir nada num mundo cada vez mais globalizado. Em todas as matérias que importam, desde o ambiente á economia, passando pela diplomacia ou pelo uso de força militar, onde pára a Europa? Tivemos a guerra dos Balcãs, uma vergonha para todo o continente, Russia, Alemanha e França puseram-se com rivalidades históricas, não contribuiram para a solução, agravaram o problema que só se resolveu após intervenção americana, agora é o Kosovo que ameaça cada vez mais tornar-se um grave problema, a Europa está ausente á espera de Washington, no Médio Oriente, temos boa vontade e pouca influência, no Iraque é bom nem falar, deixámos de ter influência no mundo, talvez por sofrermos de complexos de culpa coloniais, e passámos a importar valores alheios. Mesmo na construção da casa comum europeia, um sucesso por vivermos há 60 anos sem guerra, a Europa que se construiu até agora, foi uma Europa de políticos e burocratas, e não de cidadãos, basta inquirir em qualquer capital europeia, se alguém se considera Europeu. Ninguém, ou somos Portugueses, Espanhois, Alemães, Ingleses e por aí adiante. Quanto a nós, portugueses, juntemos-lhes a inveja, a mesquinhez e a intriga, basta ler Eça de Queiroz para verificar como em mais de cem anos se evoluiu tão pouco, e ficamos um pouco atrás da já de si, cada vez menos evoluida Europa.

SILÊNCIO CULPADO disse...

António Almeida
Eu entendo o que aqui escreveste e discordo. E discordo não por inveja dos que têm. Tenho uma situação económica desafogada e como quadro de empresa fiz uma carreira satisfatória.Até fui membro de um partido de direita. Isto é para que percebas que compreendo o que dizes e que não é a frustração que vai ditar o que a seguir vou dizer.
Não acredito no modelo neo-liberal nem numa globalização auto-reguladora. Também não acredito na face humanista de um monstro que se alimenta do sangue da miséria e do sofrimento alheio. E também não acredito que haja paz e felicidade quando pretendemos edificar uma fortaleza armada no meio de pessoas que não têm o básico para viverem.
Lutei muito comigo própria durante muito tempo. Mas agora, ainda que em convalesvença, vejo claramente que o caminho nunca poderá ser por aí. E sinto-me em paz por assumir isso. Tu justificas-te muito porque dentro de ti próprio, e és um homem inteligente, tens muitas interrogações. Não tenhas. Não há que ter medo.

Tiago R Cardoso disse...

E tem razão, é o ensino, mas ensinar tb a forte personalidade, o espírito de indignação e de opinião, incentivar o perguntar porquê, ensinar a não resignação perante o estado das coisas, ensinar o espirito participativo, ensinar que a critica pela critica não interessa, interessa sim levantar a cabeça e partir para acção.

SILÊNCIO CULPADO disse...

Força, Tiago, é assim mesmo!

Anónimo disse...

gostei principalmnt da primeira parte do texto :)

por vezes optamos por estradas da vida k não têm saida.. mas podemos sp fazer marcha atras :) eheh

como tudo, nada é certo e perfeito, e é preciso errar mtas vezes na estrada para encontrar e dar valor à certa.
Sim, cada vez é mais dificil encontrar esse caminho perfeito.. mas para seres imperfeitos k somos, não é a perfeição k acaba, por na verdade, fazer a diferença.

:) beijinhos

quintarantino disse...

Discordo profundamente do António de Almeida embora tenho de admitir que na lógica dos valores que perfilha, tenha razão.
O problema é que a receita que nos querem fazer experimentar (ou que já nos estão a obrigar a experimentar) parece conduzir a uma manobra de inversão de marcha rumo aos primórdios da Revolução Industrial.
É que o amigo parece esqucer-se que a aposta é no modelo selvagem. Pense bem no que significa "flexigurança" para os nossos empresários modelo do Vale do Ave, por exemplo.
No demais, concordo plenamente que a Europa vive um fim de ciclo dramático. O conformismo, individualismo, o pacifismo a qualquer preço (esquecendo a máxima que se queres a paz, prepara-te para a guerra), a incapacidade em ultrapassar querelas antigas e a infecção do politicamente correcto minam até ao tútano as nossas sociedades.
A aposta devia passar pelo Ensino e pela Educação, mas com novas agentes e expurgada desses neologismos e chavões da escola inclusiva, das retenções e quejandos.

Alexandre disse...

Isto vai de mal a pior em especial no que diz respeito à sociedade em geral e à relação entre as pessoas - isto vai descambar dentro de poucos anos porque é insustentável o estado de coisas actual.

Em Portugal os politicos esfregam as mãos quando aparecem casos que distraiam as pessoas e se não aparecerem inventam-nos porque o «importante» é o povo estar entretido para os senhores poderem usufruir das regalias sem serem incomodados!

Muitos beijinhos!!!

ARTUR MATEUS disse...

Um bom texto de reflexão num, sempre bom, espaço de opinião.
O capitalismo selvagem está a cavar a sua própria sepultura tanto na Europa como nos Estados Unidos. Um país só se desenvolve quando não alimenta antagonismos. Estamos, efectivamente, no fim da estrada em que, não haverá vencidos nem vencedores, mas todos perderemos se deixarmos os conflitos sociais chegarem às últimas consequências.

carlos filipe disse...

Eheheeheheeheeeheheeheh...
Estou-me a rir mas até acho o texto muito bom e muito bem escolhido. Mas o que tem mesmo graça é a educação. Concerteza a educação. Com a nossa sinistra, não é o que estamos a ver?

O Profeta disse...

Um aguaceiro ficou suspenso
O dia parou radiante
Detida a maré do desencanto
O mundo ficou cintilante


Bom fim de semana

G.BRITO disse...

A UE está em crise. Crise de valores e de identidade. É verdade o que esse texto fala. Nós conhecemos melhor o Mourinho que muitos e bons cientistas e pensaodres que temos. A criatividade está morta em frente ao software informático. Todoa nós somos já second life. Mas a fome e as dificuldades não são virtuais, infelizmente.

M.MENDES disse...

O liberalismo a doutrina triunfante:.. Aonde é que eu já ouvi isto? Não, não vai ser a doutrina triunfante porque o povo não é uma cambada de carneiros que vai sempre amochando. Sabe bem ao Sr. Doutor (concerteza) pelo modo de falar vê-se logo. Mas dizia eu sabe bem ao senhor António Almeida ser rico no meio dos pobres. E ainda lhe saberia melhor se os pobres beijassem o chão que o senhor pisa e tirassem a poeira do chão para o senhor passar sem sujar os sapatos. Mas nós, senhor antónio almeida, nós os pobres também somos gente e temos sangue nas veias e amamos pessoas e olhamos para quem passa.Não pretendemos ser ricos como o senhor mas não queremos viver das suas sobras quando o senhor lá do seu império decidir atirar umas migalhinhas da sua fortuna à maralha.

António de Almeida disse...

-Umas breves considerações para evitar equívocos. O protecionismo europeu e norte-americano, nomeadamente aos produtos agrícolas, são causa de fome e miséria no mundo. Aqui o liberalismo que defendo, e a globalização podem salvar vidas. O problema está na falência do modelo social-europeu, a flexisegurança não passa dum cuidado paliativo aplicado a um moribundo. Veremos no sec. XXI quem realmente triunfa económicamente, e desenvolverá o seu povo, e quem ficará para trás, infelizmente acredito que é a Europa que está a atrasar-se, infelizmente porque sou Europeu. Mais, a flexisegurança aplicada a Portugal será um desastre, porque Portugal está ainda mais atrasado, que a já de si atrasada Europa. São as políticas protecionistas a causa do nosso atraso, veja-se que apenas esta semana a Europa criou uma política de atração de quadros qualificados, algo que na América existe há décadas. Mas não se pense que existem sociedades perfeitas, em todas há hipótese de introduzir melhorias, reconheço existirem modelos diferentes daquele em que acredito, mas em Portugal o problema é agravado por não escolhermos modelo algum, ficando um pouco com o pior de todos eles, sem colher os benefícios. Assim não dá!

RDSER disse...

Alguém por aí viu a igualdade?
Não a encontro.
Bjim

David disse...

Costumo dizer que o problema português se deve essencialmente a um problema de cultura...não aquela cultura dos museus e afins...mas a mentalidade que nós temos. A forma muito sui generis de vermos e reagirmos perante determinadas situações.E isso só muda quando aprendermos a pensar. Actualmente o nosso sistema de ensino não privilegia quem pense...é quase uma produção em série...todos formatados

C.Coelho disse...

Eu concordo com a opinião do David Alves. Não somos ensinados a pensar e muito menos a questionar.

david santos disse...

Olá, silêncio culpado!
Estou de acordo. Aliás, a tua ideia é fantástica. Isso seria o ideal. Para isso, não precisas de ter muito trabalho. Se quiseres publicar com a mesma foto e com o texto em português, é só entrares na Vos do Povo, já está!
Se quiseres publicar em francês ou alemão, eu envio-te para o teu blogue ou Mail, como queiras. Se quiseres publicar em inglês, é só entrar no Blogue Universal, copiar e já está! Se quiseres publicar em espanhol, entras no meu blogue, copias e pronto.
Fazes como quiseres. O bom é que se faça.
Eu estou a publicar em vários idiomas para fazer visitas pelo mundo fora e convidar as pessoas a enviar mails para as embaixadas brasileiras nos seus países e denunciarem esta injustiça. A palavra de ordem é sempre a mesma e em qualquer idioma. Eu escrevo-a sempre por baixo da foto da menina.
O fundamental, segundo a minha perspectiva, claro, é fazer visitas e pedir às pessoas que enviem mails de "desagrado" nas embaixadas brasileiras.
Agora estou a publicar em espanhol. Eu já tenho a certeza de muitos que enviaram os referidos mais, não só do idioma espanhol, mas de muitos outros.
Agora faz como quiseres. O fundamental era que tu entrasses nesta luta. É uma luta muito dura. Não podemos parar do dia para a noite. Convém, e esta é a minha perspectiva, parar, quando as autoridades brasileiras tiverem vergonha.
Estou-te sinceramente grato e tudo o que precisares, só me dizes.
Convida mais pessoas a fazer o mesmo.
Obrigado e que tudo te corra como aquilo que mais desejares, a ti e aos teus.
Abraços

David Santos

david santos disse...

Muito bem.
Depois é só visitar os outros blogues e pedir-lhes para enviarem mails à embaixada do Brasil em portugal para que faça pressão junto das autoridades brasileiras, para que estas resolvam o caso.

Bom fim-de-semana

David Santos

david santos disse...

Desculpa. O meu está em espanhol. Por isso, para publicares em português, entras no meu blogue, logo debaixo do profile tem blogues de interesse, linkas na Vos do Povo, que é logo o segundo, entras lá e já está!
É só copiares e mais nada.
Obrigada.

david santos disse...

Eu concordo em pleno com a opinião do David Alves e descordo plenamente que América do Norte seja exemplo de algo positivo, seja no que for, a mostrar ao mundo.
Sendo América do Norte um País em que a base da sua economia assenta em material bélico, na guerra, nunca este País poderá ser exemplo, no campo positivo, claro, para ninguém.
Será, isto sim, um exemplo para o terrorismo internacional. Aliás, a América actual é um grande centro do terrorismo, sendo, por isso, governada e dirigida por terroristas, nada mais.
Abraços

NÓMADA disse...

David Santos.
Concordo contigo.

SEMPRE disse...

O António Almeida é um querido mas não consegue convencer-me.

Pata Negra disse...

Mais um Silêncio em que não resisto ao ruído de um comentário e, no entanto, trocam-se-me as teclas à procura de palavras.
A estrada acabará como quase todas numa encruzilhada, desatentos que estamos aos sinais o mais certo é o despiste ou o choque, mortos e feridos...
Sócrates é o sinal de fim de esperança, o polícia que manda avançar a toda a velocidade para uma encruzilhada que nem sequer conhece. Ele aí está no seu melhor, consoante as sondagens são contra ou a favor da europa, ele fica a favor ou contra o referendo.
Só hoje ouvi falar do Sr. Steiner, mal vai a europa em que eu só ouço falar dele depois de tantos anos a ouvir falar no Sr Blair.

Zé Povinho disse...

Doutrinas trinufantes soa a algo que já todos ouvimos e acabou em desastre. As sociedades mudam, os sistemas reformam-se mas o respeito pelos outros será sempre o fundamento das sociedades civilizadas.
Quanto ao ensino, ou sistema educativo, só posso dizer que sem uma aposta na sua qualidade e na igualdade de acesso por parte de todos, nunca poderemos aspirar ter uma sociedade melhor.
Em vez de cimeiras de negócios e de discursos vazios, actue-se na educação, na saúde e na justiça que são os pilares da confiança numa sociedade mais justa e próspera.
Abraço do Zé

Odele Souza disse...

Olá,
Sou Odele, mãe de Flavia. Acabei de ler seu comentário lá no blog de David Santos. Caso queira, envia-me um e-mail com teu endereço eletrônico que te enviarei o texto exatamente igual ao que lá está, em Português, como preferes.
Obrigada - Odele
(odele@terra.com.br)

Odele Souza disse...

Quando escrevi o comentário acima , não tinha lido os comentários de David, orientando como você deve fazer para ter o texto em Português. Tens agora várias opções de ter o texto em Português. Desde já muito obrigada por sua disponibilidade em ajudar na divulgação do caso de minha filha. Desde já muito obrigada por atender ao pedido de David, a quem sou muito grata por toda a solidariedade que ele tem demonstrado para com o caso de Flavia.
Um abraço.

touaki disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
G Botelho disse...

Vivo numa cidade onde outrora a tradição era a luta pela igualdade, solidariedade, justiça social, muitos foram os que foram presos e torturados em busca desses ideais.
Hoje, há fome, miséria, desigualdades gritantes.
Hoje, na minha terra há droga, muita droga, muitas vítimas que se arrastam pelas estradas, moribundas.
Amanhã, penso que será pior, os jovens não têm esperança, tenham ou não estudado, as prespectivas de vida são incertas, a sua ancora, são os seus pais, enquanto viverem....

Arco-Íris

G Botelho disse...

Vivo numa cidade onde outrora a tradição era a luta pela igualdade, solidariedade, justiça social, muitos foram os que foram presos e torturados em busca desses ideais.
Hoje, há fome, miséria, desigualdades gritantes.
Hoje, na minha terra há droga, muita droga, muitas vítimas que se arrastam pelas estradas, moribundas.
Amanhã, penso que será pior, os jovens não têm esperança, tenham ou não estudado, as prespectivas de vida são incertas, a sua ancora, são os seus pais, enquanto viverem....

Arco-Íris