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ESCOLA VERSUS IGUALDADE DE OPORTUNIDADES (IV)

Joaquim Carlos Rocha Santos/Joshua - professor

O que poderei contar sobre a minha vida docente, quando a tenho?


Desde 1996 que me tornei professor, obtendo colocação todos os anos e na quase totalidade do ano lectivo, embora sob o estatuto de provisório ou substituto.
As coisas tiveram apenas sobressaltos nos últimos dois anos, em 2005/2006 desempregado devido a bruscas alterações lesivas das pessoas-professores, no processo dos Concursos em que as regras válidas anteriormente deixaram de ser válidas posteriormente e, neste ano, com uma colocação que cessou, mal cessou o impedimento da docente que substitui.


Com o passar dos anos, a ideia de alegria e tranquilidade no trabalho desvaneceu-se completamente. Se houve um tempo de preparação em estresse, em demandas e exigências no meu Estágio Pedagógico com uma Orientadora Desequilibrada e Sádica, que me penalizou impudentemente (anos mais tarde o reconheceu), a realidade nas Escolas não me foi inicialmente penosa.
Só se tornou verdadeiramente penosa recentemente, com um sentimento desvalido de tríplice origem: pressão horizontal por parte de colegas escrupulosíssimos, pressão vertical de este Ministério histérico e crucificador do professor, pressão ascendente dos alunos e dos pais, manifesta das formas mais malévolas e maquiavélicas.
A degradação da paz na escola, promovida por grupos de interesse e pelo assassínio metódico da Docência, na verdade, é uma coisa recente.


As minhas relações com todos os alunos eram sempre excelentes, tinham uma componente de sofrimento pelas desobediências e pelas impaciências, mas as coisas corriam bem, com naturalidade dentro das regras do jogo, tendo até tido a sua plenitude de prazer e identificação quando leccionei feliz da vida na Secundária da Trofa, a melhor escola em que estive, com o melhor povo e os melhores alunos e amigos.

Depois da Trofa, nunca mais me senti tão amado e querido por alunos e colegas. Estive lá dois anos. Talvez precisamente por isso mesmo.


O plano das relações interpessoais, o cativar os alunos e o fazer emergir neles o que do ponto de vista criativo lhes fosse próprio passou a ser a minha meta e o meu prazer, sobretudo ao ver como, por muito que insistisse e insistisse mesmo entre alunos do Ensino Recorrente Nocturno, já adultos, a capacidade de assimilação das matérias era clamorosamente nula. A experiência pode ser feita: tente-se explicar e exercitar ao longo do ano lectivo inteiro um bloco de matéria simplérrimo como, por exemplo, as Orações Subordinadas Finais e o resultado, para o grosso da turma, é confrangedor.


E isto porque a memória dos alunos está subdesenvolvida, os hábitos de leitura não são estimulados e praticados em casa e há um conjunto de factores ambientais e afectivos que relegam o saber e o saber específico para um lugar vazio na mente da generalidade dos alunos. O que fica é sempre outra ordem de Aquisição Benéfica e Positiva normalmente gerada pela boa relação pedagógica que sempre construi.
Depois, claro, há os alunos excepcionais que somente temos de guiar dando-lhes razões para uma aposta intensiva na Escrita, nas várias dimensões da Leitura, mormente a Leitura Expressiva a qual, quando se manifesta conseguida e competente, indicia uma inteligência consolidada e apta para toda a espécie de enunciados.


O que me choca, no meio de tudo, é a exclusão. São os posicionamentos de exclusão que as Escolas praticam ou por orientação interna e lóbis internos ou simplesmente por não ter alternativa. Foi por causa disso que atingi o ápice do sofrimento nos últimos dois anos. Perante um Ministério que corroeu a autoridade e o papel e até a motivação dos Professores, a sociedade gera aberrações comportamentais chamadas impropriamente alunos. Gente divorciada de uma escola saudável. Gente alheada de qualquer humanismo.

Gente que macera, maltrata, mastiga, espezinha a pessoa do Professor, o papel do Professor, para além do Limite do Limite.


Amei tantos alunos. Fiz tanto bem a tantos deles. Tudo fiz por todos, por amor, por bondade, para além de qualquer mero profissionalismo frio e mínimo. E agora, com 37 anos, cansado e desgastado com tanta mobilidade e com tantos sapos ministeriais, com tanta malfeitoria às pessoas, com tantas mentiras e pressões, não sei se vale a pena acreditar nisto como Coisa ou como Causa.


O Poder Governamental vigente tem metas macroeconómicas, quer estatísticas e números favoráveis e com isso perecerão as pessoas. A grande Mó Moderna da Economia está a tragar-nos de desassossego e no desassossego não se educa. Sofre-se apenas. E eu, para ser feliz, dispenso ter de sofrer para além do que já sofri. Encontrarei outra coisa. Talvez.

54 comentários:

Laurentina disse...

Joshua,
Vou tratar-te assim apesar de estar escrito o teu nome no post...considero que apesar de nick creio eu, é mais afectivo e como nós professores trabalhamos com os afectos e os afectos aí vai o que eu penso.

Professor só o é quem quer, quem gosta , quem sente, quem sonha, quem partilha, quem transmite, enfim, pelo que li da tua vivência como tal, tu e eu sabemos do que falamos...no entanto preciso de te dizer uma ou duas coisinhas poucas, sem querer que fiques magoado comigo ou sem tão pouco querer parecer pretenciosa...
...e acredita que isto é a primeira das coisa que eu costumo dizer aos meus alunos durante a sua formação.

"Professor também é aquele que nunca desiste apesar das adversidades e dos calhaus com dois olhos que milhares de vezes se nos deparam durante o percurso que honestamente estamos a tentar percorrer."

Eu por natureza sou extremamente brincalhona , costumo fazer pouco da vida antes que ela tenha a leviandade de fazer pouco de mim, muitas vezes posso ate parecer tonta ou irresponsável, só para tentar levar a vida na desportiva porque detesto ter de fazer rascunhos para depois ter de passar a limpo, no entanto fico triste como a noite tentando mesmo resistir estupidamente ás lagrimas quando leio depoimentos como o teu de resignamento, de batido aos pontos, de ombros descaídos, mesmo de infelicidade.

Homem de Deus levanta-me essa cabeça, enfrenta com força , coragem e determinação a PROFISSÃO QUE TU ESCOLHESTE, QUE TU QUERES E GOSTAS,QUE NUNCA TE PASSE PELA CABEÇA DEIXARES DE ACREDITAR QUE É A PROFISSÃO MAIS SÉRIA, MAIS DIGNA, MAIS HONESTA,DE MAIOR ENTREGA,DE VERDADEIRO SACERDÓCIO ATÉ.
NÓS SABEMOS E TEMOS ESSA PERCEPÇÃO NO INTIMO E DURANTE O DECORRER DO ACTO EDUCATIVO QUANDO A COISA NÃO ESTÁ BEM , QUANDO ALGO NÃO ESTÁ A SER FEITO CORRECTAMENTE... (eu costumo chamer a isso deformação profissional)
SE FOI O QUE TU ESCOLHESTE MESMO FAZER POR AMOR COMO DIZES TER SIDO...ÓH MEU MENINO QUE RAIO PENSAS TU QUE É A TUA PASSAGEM AQUI NA TERRA COMO TERRÁQUEO?!
QUE RAIO PENSAS TU QUE A TUA MÃE SE VIU OBRIGADA A PADECER PARA TE TER E TU AGORA SÓ QUERES TER CAMINHOS DE FACILIDADES??!!
AINDA NÃO PERCEBESTE QUE O QUE ESTES GRANDES CABRÕES QUEREM É EXACTAMENTE ISSO QUE ESTAS A FAZER/DIZER?

ESCUTA NEM EU NEM TU SOMOS MELHORES OU PIORES DO QUE OS OUTROS, SÓ QUE HÁ UNS BEM MELHORES DO QUE OS OUTROS E ESTAS INTELEJUMÊNCIAS QUE ANDAM DE PETROMAX NOS OLHOS E QUE AGORA MANDAM "PENSAM ELES" QUE NÃO VÃO MORRER...QUE VÃO FICAR CÁ PARA "INÇO DOS TORTULHOS"...ENGANO O DELES E SORTE A NOSSA.

POR ISSO O DESÂNIMO É PARA OS FRACOS, É CLARO QUE ME VAIS DIZER QUE PRECISAS DE DINHEIRO , QUE NÃO SE VIVE DO AR ...BÉU BÉU PARDAIS AO NINHO, EU TENHO 51 ANOS TENHO PASSADO AS PENAS E SEI DISSO TUDO!!!
Olha e com estas e com outras ainda não vi o tamanho desta coisa não li nem costumo reler por preguiça é o meu livre arbitrio homessa...por conseguinte fico por aqui esperando e desejando que não tenhas ficado magoado, nem tenhas achado que o que aqui ficou dito é demasiado demagógico...TRETAS, TU SABES QUE É SENTIDO E É VERDADE.

CABEÇA EM FRENTE , OMBROS LEVANTADOS E PEITO CHEIO DE AR OU DE BASÓFIAS TANTO DÁ, O QUE É PRECISO É UMA PESSOA ACREDITAR NAS SUAS CAPACIDADES E TU PODES


BEIJÃO GRANDE
se precisares de mim a Lídia da-te o meu mail

Teresa Durães disse...

sou FP e estou de acordo com o que existe em comum; o descredito na instituição que nos leva a andar desconfiados, zangados e irritados. Isto reflecte.se no ambiente de trabalho.

Encarar a porta de entrada de manhã passa a ser um feito heróico.

Sei que os professores estão assim (a minha família é toda de professores, reformados e activo)

Quando falo com os profs dos meus filhos por vezes sinto que nem devia condenar as práticas de uns devido o clima que sua de dentro para fora. Então aos que vestem a camisola, pior é,

Passámos de educação a palhaçada. Os manuais escolares estão ultrapassados e difíceis de os saber e perceber em que realidade se inserem.

enfim...

Tiago R Cardoso disse...

Parece que se nota por este país um ataque aos professores, para muitos deixaram de ser os que ensinam passando a serem vistos como os maus do sistema, que em Portugal o nível do ensino e a qualidade está mal, os alunos são "ignorantes", atribuindo-se as culpas sempre aos mesmos.

O incentivo não pode ser só na escola, os pais têm um papel importante no estimular os filhos para o estudo, para a busca do conhecimento, resumindo para serem alguém preenchido e não apenas utilizadores de vídeo-jogos.

Eu a algum tempo que já conheço o Joshua na imagem da sua escrita, pelo que me apercebo, digo isto sem estar a dar graxa mas com sinceridade, tu Joshua seria sem duvida um professor que eu gostaria de ter tido.

Carol disse...

Oh, Joshua, tanto desânimo nas tuas palavras, amigo! Eu também souprofessora, como sabes, também tenho momentos em que me apetece largar tudo e escolher outro caminho. Mas são momentos! Eu sei que não é fácil, que poucos reconhecem ou valorizam a nossa entrega, mas NUNCA desistas. Acho que a Laurentina tem razão quando diz que a nossa desistência é a vitória desses que não sabem o que é ser professor.
Josh, «eles não sabem, nem sonham que o sonho comanda a vida...».
Luta, amigo, por aquilo que gostas, por aquilo que te dá prazer, por aquilo que sabes fazer, certamente, muito bem!
Beijinhos.

P.S.: Vi a tua foto. A tua filhota é linda e tu não és nada como te imaginava...

Rafeiro Perfumado disse...

Ser professor em Portugal é quase um acto de masoquismo, acho que muitos deles se devem sentir autênticos D. Quixote, acreditando no que fazem mas lutando contra meros moinhos de vento. Os gigantes, esses continuam à solta...

LuzdeLua disse...

Que este teu post sirva de um alerta aos pais. Pois lá e cá também se sente tudo isso. Muitas famílias (com algumas excessões é claro), outorgam aos professores o dever de educar. Não há continuidade, não há responsabilidade, apenas uma liberdade exagerada. Mas é preciso coragem. É preciso não se deixar vencer pelo desânimo. Mesmo que os frutos sejam um por cem. Terá valido à pena. Beijos com carinho.
Bjs

São disse...

Para começar, a minha solidarieade!!
Mas que se poderá esperar de adolescentes e jovens que não têm figuras de referência nem regras?!
Que se poderá esperar de pais e alunos a quem todos os dias a função docente é apontada como algo sem valor e o /a profissional como irresponsável e incompetente, pelas vozes de quem governa?!
Como se pode enfrentar uma turma se a autoridade (Não o autoritarismo!)dos adultos foi completamente minada?!
Que o seu tempo seja bem vivido, colega!

SILÊNCIO CULPADO disse...

Joshua
Quando um professor diz "amei os meus alunos" mesmo quando lhe causaram sofrimento, eu vergo-me pela grandeza de espítito, pela generosidade e pela vocação para ensinar/educar.
Então interrogo-me: que país é este que deixa os seus docentes passarem por isto? Que país é este que perante a nobre missão de formar as gerações futuras, fica indiferente ao sofrimento dos professores e desperdiça potencialidades criadoras capazes de consolidar um estádio de desenvolvimento superior ao actualmente vivido?
A profissão e a realização na profissão são, depois da socialização primária, o que mais determina o homem do futuro e a sua participação na construção do país a que pertence.
É através da profissão que as pessoas adquirem uma identidade activa e que se sentem úteis.Quando isso lhes é negado, quando a revolta e a frustração são as constantes do seu dia a dia,elas vão engrossando as fileiras dos que vivem sem estímulo e sem esperança.
Não é com esse potencial humano que se constrói o futuro.
Por isso, Joshua, não desistas porque são cada vez mais os que sabem do que estás a falar.
Esta tua amiga, neste blogue humilde, procura romper o silêncio culpado, mostrando e dando voz aos injustiçados. Mas não me conformo em parar por aqui. Em arrumar estes posts e estes comentários de nível e passar à fase seguinte.
Temos que fazer chegar a nossa voz onde for preciso. E contas sempre comigo, numa solidariedade activa e militante que restitua e defenda a dignidade dos que são ameaçados por um Estado frio e intransigente.
Um abraço, amigo

quintarantino disse...

Lídia & Joshua, ante a enormidade esmagadora do post e dos comentários produzidos limito-me a dizer que são pessoas como vós que fazem falta a este País.

O Profeta disse...

...E não há ninguém que ponha ordema a isto...este ministro é um fantoche...


Ergui-me ao vento na tua procura
Fundi um abraço com o sol da tua ternura
Modelei o amor com as palavras mais belas
Curso de errante espírito na tua procura

Porque o pensamento é voo de milhafre
Aprisionado em gaiola de palavras
O infinito e o incomensurável
Volto ao encontro das tuas profundas mágoas

Bom fim de semana


Mágico beijo

Carol disse...

Olá! Olha, estou desde ontem a tentar enviar-te o texto e não consigo. Recebo sempre um relatório a dar o teu endereço como desconhecido...

joshua disse...

Agradeço do coração as palavras de encorajamento e as partilhas de todos estes amigos. Temos dores e apreensões comuns.

À Lídia-Silente é mais que um abraço: é a Gratidão pelo Sentido da Justiça que a move em tantas Causas Nobres entre as quais esta que me envolve a mim e a tantos.

Quando se caminha no sentido oposto da Humanização, perde-se tudo. Não sei que Mundo hirto e frio este Paradigma Vigente pretende instaurar, que felicidade, que alegria ele pode dar seja a quem for!

Abraços a Todos
PALAVROSSAVRVS REX

SILÊNCIO CULPADO disse...

Carol
lnsoares@aeiou.pt - estou a receber mensagens neste endereço.Mas também podes enviar para: raviolly1@aeiou.pt
Beijinhos

ARTUR MATEUS disse...

É pena que este espaço de debate vivo, fundamentado, credível e sentido seja tão circunscrito. As conclusões deste ciclo de opiniões deveriam constar em documento, com carácter interventivo, e a ser levado a várias instâncias do poder.
Fez-me particular impressão o relato dum homem que ama os seus alunos, que escolheu ser professor, que se entregou 12 anos a essa profissão e chega a um beco sem saída que denota desespero e uma emoção incontida.
Tal como a Lídia diz no comentário dela eu também me interrogo: que país é este?

SEMPRE disse...

Joshua
Há aqui excelentes comentários e estou mesmo a olhar para o da Laurentina e a sentir a coragem e a força que dele emana.
Joshua, sei que estás a passar por momentos muito difíceis e sente-se a tua emoção em cada palavra escrita. Mas sente-se também o valor dum homem que é digno e dum PROFESSOR como nem todos o sabem ser: um professor que ama os seus alunos e a sua profissão. Um professor que NÃO PODE DESISTIR NUNCA.
Mas também sei que se nem só de pão vive o homem ele não pode viver sem pão. E tu precisas subsistir.
Porém acredito que melhores dias virão e isto sem demagogias. És um homem de valor e há um ditado que diz :"quem boa letra fizer alguém um dia a há-de ler".
Beijinho, Joshua

Silvia Madureira disse...

Olá:

Duro seria se eu no fim dissesse: penso que não tens vocação para professor. Mas...eu apenas diria isto se não fosse professora.
Por mais vocação que se tenha os teus sentimentos estão generalizados na maioria dos professores..por mais vocação que se tenha são incontroláveis certas situações...por mais vocação que se tenha é impossível ser um excelente educador neste momento.
Pena quem não percebe...é sinal que não conhece bem o estado actual das coisas.
Às vezes sinto o mesmo que tu mas...não vou desistir...até porque não vou deitar ao lixo todo o meu esforço a todos os níveis de cinco anos devido a situações estúpidas que surgem no ensino.

beijo e muita força

Teu mais que tudo disse...

Joshua
Você está mesmo numa fria, amigo!Ressalta o espirito dum homem a tentar segurar um leme que lhe foge. Mas ressalta, sobretudo, um sistema escolar que não tem respeito pelos que se lhe dedicam de corpo e alma e que tritura sem dó nem piedade para servir estatísticas.
Perante uma realidade tão pouco consentânea com o progresso e a evolução, temos que juntar sinergias. As formas de luta estão longe de estarem esgotadas. Não nos calemos.
E, sobretudo professor Joshua, nunca desistas. Desistir é o que eles querem.

Robin Hood disse...

Silêncio/Joshua
Este blogue está a oferecer uma troca dinâmica de opiniões e sentimentos digna de registo. Também temos aqui informação sobre problemas que nos afectam e que traçam as nossas vivências boas ou más.
O sistema educativo é tudo num País. É a sua espinha dorsal,o seu sangue e a sua credibilidade.
E quando um professor, que amou tantos alunos e que quis ensinar com o melhor de si mesmo, diz que «O Poder Governamental vigente tem metas macroeconómicas, quer estatísticas e números favoráveis e com isso perecerão as pessoas. A grande Mó Moderna da Economia está a tragar-nos de desassossego e no desassossego não se educa. Sofre-se apenas.»
alguma coisa está podre no reino da Dinamarca.

amigona avó e a neta princesa disse...

Sinto que seria formidável se fosse possível estarmos juntos numa sala a conversar...sinto que MUITOS professores gostariam de estar connosco AQUI...sinto...nem sei bem que sinto ao ler tudo o que aqui se vai dizendo...sinto,isso sim, sinto que estamos a viver um momento muito mau e que TEMOS que ajudar a alterar esta realidade...um dos caminhos talvez seja podermos "dar as mãos" e com a força de todos "limpar" a porcaria que alguns estão fazendo!

Sinto uma enorme tristeza por ver o que estão a fazer aos professores,à Educação, à Escola, aos Alunos, ao FUTURO deste País!

Fui professora durante mais de 30 anos...conheci MILHARES de professores por ter estado no Sindicato dos Professores durante 13 anos... tive uma experiência riquíssima como profissional:dei aulas em bairros sociais, problemáticos, a alunos ditos normais e deficientes...dei aulas a ADULTOS deficientes...dei aulas a adultos "normais"...convivi com ciganos e outras etnias...fui professora, "mãe", irmã, amiga...tive funções de Directora, de Coordenação, de formadora...também eu AMEI muito os meus alunos...tive momentos MUITO, MUITO difíceis mas NUNCA me arrependi do meu caminho...e apesar de adorar o que fazia quando chegou o MOMENTO saí para dar o lugar aos mais novos como disse sempre que faria...e custou-me MUITO, mas não olhei para trás...mas hoje sinto que nos estão a roubar alguma coisa...só posso desejar que os professores consigam com a sua FORÇA e DETERMINAÇÃO devolver a DIGNIDADE que todos merecem...para que os PROFESSORES como Joshua não se sintam amargurados...para que continuem a ser PROFESSORES...

Nilson Barcelli disse...

Não estou por dentro do que se passa no ensino.
Mas, no essencial, concordo com a Laurentina.
A abordagem tem que ser positiva, apesar de todas as contrariedades que teimam em não acabar.
Toda a gente que trabalha tem problemas. Se cada profissão se lamentasse como os professores, ainda que com razão, este país seria um vale de lágrimas. Mas já o é quase... porque de facto está tanta coisa errada que só podemos ser culpados disso também.
Bom resto de semana, beijinhos.

NÓMADA disse...

As minhas primeiras palavras vão para o Joshua, um homem-coragem que assume o que sente, que não esconde as emoções.
Um símbolo das políticas falhadas em matéria de educação.
Uma vida truncada por lhe cortarem as asas depois de um caminhar de mais duma década. Que reforma de ensino pode ser tão indiferente à realidade e deitar fora experiências e conhecimentos de quem quis ser professor e, ainda jovem, é empurrado duma carreira contínua?
Como se sente uma pessoa que quer construir uma vida e é tão mal amado nas suas aptidões?
Um abraço, Joshua.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Lídia passei para te ler e reler, como eu gosto.
Depois de ler todos os comentários do teu blogue, que mais há para dizer ?
Deixar-te um beijinho de boa noite,
minha amiga.
Fernandinha

amigona avó e a neta princesa disse...

Lídia, mandei-te mail...quanto ao postal que tenho lá no meu canto também pensei que era bom para aqui...serve-te...a nossa colega do tretaeafins não se vai importar...beijo...

Mary disse...

Joshua/Joaquim
O teu testemunho revela bem o dificil caminho que tens trilhado mas, infelizmente, não és só tu a queixares-te das vicissitudes do nosso sistema de ensino.
Tenho um amigo que também tem um blogue, que visito, e que é professor há 20 anos e que me diz que não aguenta mais o que estas reformas do ensino têm feito com ele. Até me confessou que se arranjasse outro trabalho não olhava para trás.
Mas vocês não podem desistir porque isso é o que eles querem: colocar na docência só os acomodados. Temos que lutar, companheiro, e não deixar cair os braços.

vieira calado disse...

Também fui professor.

Pego apenas na questão da memória.

Um dia espantei toda uma turma,
ao citar, uma por uma, todas as proposições que aprendi na 4ª classe!

Sem memória, ou sem exercitá-la, não há desenvolvimento intelectual que valha, por falta de dados e de referências.

Um abraço

Zé Povinho disse...

Não consigo comentar compropriedade o desalento dum professor, mas já ouvi e li alguns lamentos semelhantes, o que é preocupante.
Abraço do Zé

Abrenúncio disse...

A GRANDE FARRA BLOGOSFÉRICA 2008! (18 DE JANEIRO / SEXTA-FEIRA / 20 HORAS) - CONTAGEM DECRESCENTE!

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Saudações,
O Marreta.

AJB - martelo disse...

Amiga Lídia, em relação ao comentário no meu caixote, sei bem demais como tudo isso maquiavelicamente funciona...

Alexandre disse...

Ser professor é hoje uma profissão suicida! Os alunos são malcriados, desmotivados, cruéis... os pais desses alunos conseguem ser ainda pior... o Ministério entala os professores... e eu não conheço nenhum dos muitos colegas que tenho que enveredaram pelo ensino que não tenha que tomar valiums, xanaxs, e outras pílulas da felicidade! É a única maneira de aguentarem a mediocridade, o maior falhanço do 25 de Abril e de todos os govermos que vieram depois que é o ensino!

Muitos beijinhos!!!

Carol disse...

Concordo em absoluto com o Alexandre. Por o ensino ser a maior derrota do pós-25 de Abril é que o nosso país chegou a este estado. Um país de mediocridade, de bajulação, de intriga e inveja. Um país que não produz intelectualidade será sempre o país do desânimo, da falta de produtividade, das políticas falhadas...

O Árabe disse...

Mais impressionante, amiga Lídia é que estes males se repetem em muito spaíses. Pergunta-se, assim: onde irá parar este mundo, com o desprezo à educação?

Oliver Pickwick disse...

Querida Lídia, tenho uma irmã - aqui no Brasil, integrante desse segmento de heróis sem glórias que é o professor/educador.
Pelo que escreveu ao longo destes quatro posts, e também pelas oportunas transcrições, jamais imaginaria que problemas de tal ordem pudessem ocorrer na ex-quase-socialista Europa.
Mas uma vez o seu brilhantismo e generosidade de sentimentos, são destaques merecedores da minha admiração.
Beijos!

Silvia Madureira disse...

Concordo com o Alexandre. Isto porque vivendo no meio de professores deparo com os mesmos problemas que ele depara e porquê? Porque querem construir um professor irresponsável, um super-homem que arrecada com todo o tipo de falta de educação...mas ninguém consegue reunir estas características porque para além de tudo somos humanos. Como podemos resolver tantos problemas ao mesmo tempo? Tanta falta de respeito? Só se houvesse um professor que fosse uma pedra de gelo é que conseguiria viver indiferente à sua realidade.

Silvia Madureira disse...

Obrigada Lidia pelas palavras de amizade.

Eternamente disse...

O texto mostra-nos como se arrasa um professor e como esse professor, já debilitado emocionalmente, acusa o tratamento desumano de que está a ser alvo toda a classe docente.
Depois temos uma nova geração de alunos que reflecte o desnorte em que vivem a maioria das famílias: dificuldades económicas, instabilidade laboral, desenraízamento cultural e afectivo, longos períodos fora de casa devido a horários de trabalho alargados e longas demoras nos transportes a que se juntam ainda as fracturas resultantes da destruturação das famílias. Alunos alienados pela sociedade de consumo que os pais "compensam" através de bens materiais a pouca atenção que lhes dedicam. Para se redimirem os pais assumem essas posições de intransigência perante a escola e os professores que sofrem na pele todas estas vicissitudes.

G.BRITO disse...

O professor Joshua revela que emocionalmente não tem uma estrutura muito forte. Isso não é bom para quem ensina.
Há reformas que têm que ser feitas, doa a quem doer. Mais tarde poderemos avaliar da sua eficácia. Os portugueses estão sempre a pedir mudanças mas quando as mudanças acontecem rebelam-se contra elas. É o costume.

errando por aí disse...

Realmente esta iniciativa de apresentar este tema tem resultado e está a dar uma panorâmica nada animadora nem de motivos de orgulho para Maria de Lurdes Rodrigues.
Todos os comentários apontam para um estado caótico da sociedade, da população escolar, das reformas da carreira docente.
Complicado.

Silvia Madureira disse...

Gil:

Eu também concordo com mudanças: isto está horrível. Desde falta de respeito a falta de qualidade no ensino. Agora, penso que as mudanças têm que ser bastante reflectidas porque mudar para pior será melhor ficar com o que se tem.

Relativamente ao "emocionalmente frágil" tenho a dizer que denoto que no meio de sessenta professores que me encontro todos eles se encontram fragilizados, denoto não só nos desabafos, como na expressão. Portanto...haverá profissionais como aqueles que deveriam existir para resistir ao caos?

um abraço

SEMPRE disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
SEMPRE disse...

Estive a ler os comentários e, efectivamente, gosto destas abordagens. A Sílvia Madureira tem razão quando fala que uma mudança que traz o cansaço, o desânimo e as dificuldades melhor seria que não fosse feita. Há que equacionar tudo o que vai sendo referido e fazer uma súmula com as principais conclusões. Porque elas merecem ser retidas.

René disse...

Confesso que antes de ler tudo o que está a ser publicado, aqui neste blogue, sobre a escola e a igualdade de oportunidades, não fazia a mínima ideia do sofrimento e da falta de condições que os professores experimentam.
Ouvia falar e lia que os professores eram espancados e maltratados mas achava que a culpa lhes caberia pelo menos em parte.
Este conjunto, com tantos testemunhos, está a mudar a minha forma de ver este assunto.
Não estou ligado ao ensino mas sigo a par e passo, com todo o interesse, o que se vai publicando.
Um abraço a todos os que participam.

fotógrafa disse...

Passando para desejar bfs.
Abraço

C.Coelho disse...

Felicito a autora do blogue pela ideia de tratar, em profundidade, temas que o exigem ao invés de enveredar pela extensão dos temas em prejuízo da profundidade.
E, realmente, à medida que vão aparecendo diferentes textos de diferentes autores e surgindo uma grande variedade de comentários, muitos com opiniões de fundo, quem aqui vem e procura documentar-se vai tendo uma ideia mais completa do que se passa.
Olhando para o comentário do René verifico que tenho a mesma reacção que ele: estou a ficar mais benevolente para com os professores e compreendendo melhor as razões das suas lutas.
Assim vale a pena trocar ideias e publicar postagens.

M.MENDES disse...

Na realidade o que se está a passar com a escola é infâme. Professores que chegam a situações destas e alunos e pais que se tornam autênticos inimigos dos professores é algo que não se admite.
Para que raio servem as reformas do ensino?

joshua disse...

É sempre muito bom que as pessoas emitam as opiniões que entenderem a partir de dados enunciados e devemos ser tão pluralistas e democráticos quanto possível a este respeito. Nesse espírito, graças ao fraterno convite da nossa Amiga Lídia-Silente, dei um testemunho pessoal e está dado.

Se é verdade que só no fim se fazem avaliações ao que se chama benevolamente de Reforma do Ensino, também é verdade que o Processo deve ser continuamente avaliado e corrigido. Isto é pura Teoria dos Sistemas e, portanto, nenhum sistema disto pode ser isentado: nem o Ministério da Educação, intervindo como intervém, no Sistema Nacional de Ensino, nem qualquer outro.

Dito isto, concedendo ao Gil o seu direito de opinião, contesto nela duas coisas: que se chame reformas a actos agressivos de inflexibilidade muitas vezes grosseira, patenteados processualmente por este Ministério ao longo de estes três anos, porque Actos e Tons sádicos não são 'Reformas'. Até posso apoiar alguns frutos de algumas iniciativas, não aprovo é o tom, a frieza calculistica, a ausência de vertente humana e a absoluta ignorância desiteressada das pessoas-docentes por este Ministério.

Antes de escrever acerca da segunda coisa que contesto na opinião laminada do Gil, devo sublinhar que as Escolas onde tenho estado vivem somente a perplexidade e a sensação de impotência perante tanto unilateralismo ministerial para dizer o mínimo.

Contesto finalmente essa ideia de que dei uma imagem estrutural de mim ou da minha força interior como sendo frágil: acontece que não me revejo em posicionamentos desumanos, não os suporto, rebelo-me contra eles o mais que posso. Se isso é revelar-me como sem estrutura forte, então ao ensino interessa quem tenha uma estrutura frágil e contra-corrente como Ghandi, frágil e contra-corrente como King, como Mandela, como outros sob Reformas Duras, a doer, e nem por isso boas ou necessárias.

Em síntese, os tempos têm mais Economia que Humanismo. O Governo e o Ministério da Educação escolheram o lado Desumano e Frio da Economia. Pior para nós, Gil. Pior para nós!

Acredito e desejo em todas as boas reformas, desde que não sejam servidas a Sádico.

Abraços Gratos a Todos, incluindo o Gil, tão fervoroso adepto do que seja a doer. Espero que não lhe falte qualquer dose de esse, para si tão benéfico e elogioso, sofrimento.

PALAVROSSAVRVS REX

Lúcia Laborda disse...

É minha amiga temos vivido situações parecidas. A educação cada vez mais banalizada...
Bom fim de semana!
Belo post!
Beijos

carlos filipe disse...

Professor, oh professor
não desistas isso não,
és um homem de valor
que a todos dás uma lição.

Mostras tal generosidade
humanismo e bem querer
que quase por unanimidade
todos te querem valer.

joshua disse...

Agora, vou internar-me na minha Noite alternativa: vou passar a Madrugada num outro serviço readicalmente diverso, onde os alunos são Adultos que vão dançar, fumar no espaço para isso prescrito, mostrar ciúmes, beber o álcool possível, divertir-se no lusco-fusco.

No final de esta Madrugada, vou repor nos frigoríficos, carregar com elas às grades, as bebidas consumidas do Pub: as Coca-Cola, as Tónicas, as Gingerale, as Águas das Pedras, as Águas Castelo, as Trina, as Águas de Luso, as cervejas Super-Bock, Bohemia e Stout.

Antes, vou poder tomar um bom café. Depois ainda vou escrever algumas impressões da minha vida, blogovida, algum poema, alguma reflexão das minhas.

O Ensino está sempre em aberto na minha vida, mas tenho de aproveitar outro tipo de oportunidades complementares.

Quando ensinei na Escola Secundária Garcia de Orta, no Porto, fiquei muito espantado porque mais de metade dos meus colegas não eram professores a tempo inteiro: tinham várias actividades complementares e tinham negócios complementares.

Por isso a minha entrega podia ser absoluta e os pais dos meninos lá, de Nevogilde, muitos deles, pelo menos, sabem bem que tipo de trabalho estruturador de paixões duradouras pela Leitura e pela Escrita eu fiz com os seus educandos: um ano inteiro a interagir no sentido da Produção Escrita de Qualidade, pautada pelos saberes gerais, convocados pela Cultura Geral que, revestindo-nos por dentro, nos circula como linfa por fora justamente ao escrevermos.

Mais uma vez, para mim, o Ensino fica em aberto. Fica em aberto amar sem contrangimentos de qualquer espécie, sem a guilhotina das estatísticas ministeriais, sem o olhar de viés, judicativo e dubitativo de nós, de tantos agentes educativos, daquela funcionária da Escola que nos vem dizer muito inocente «Mande calar os seus alunos (de 7.º) porque os seus colegas que dão aulas a sério (aos níveis do Secundário), naquelas salas depois queixam-se de si.»

Está em Aberto porque Amar tem de estar sempre em aberto.

Beijos e Abraços
PALAVROSSAVRVS REX

Silvia Madureira disse...

Como admirei o teu finalizar Joshua!

Porque será? Será porque me identifico com tudo isso?

Como te admiro pela tua coragem de procurar algo que te faça feliz quando o que te fazia já não faz!

Ao contrário de seres frágil penso seres muito forte, com capacidade para dar a cara para dizeres o que pensas, para demonstrar o teu desagrado silenciado por muitos.

Parabéns

A Lei da Rolha disse...

Simplesmente digo...lamento seres português.
bfs

JOY disse...

Triste pais este ,que desde á anos tem desconsiderado ,tirado importância e levado ao desrespeito os professores com os resultados que se conhecem e que estão a vista de todos.

Um abraço para todos,hoje especialmente aos amigos docentes.
Bom fim de semana

JOY

amigona avó e a neta princesa disse...

Joshua, venho apenas deixar-te um abraço...de solidariedade e permite-me de amizade...és muito mais novo que eu mas queria dizer-te que gostaria de ter estado a trabalhar contigo...desejo-te as maiores felicidades...sei que continuarás a AMAR...bem-hajas...

joshua disse...

Tudo está pervertido à partida: já tive alunos com fome de pão e já tive alunos, filhos de Doutores da Faculdade, com fome de afectos: a não ser o meio familiar, mais erudito ou menos erudito, a preparação inicial, que determina toda a diferença, e as diferenças atitudinais são exactamente as mesmas de um tipo para outro tipo de alunos.

Passa-se que, na hora H das avaliações, as diferenças se manifestam, sendo que os primeiros soçobram e os segundos escapam ou triunfam.

Lembro-me de duas alunas, completamente à parte na turma, naturalmente ostracizadas: tinham piolhos, pulgas e cheiravam mal, diziam os colegas.

Sempre estátuas tristes na sala, comportavam-se muito bem, de olhar triste, executando, esforçadas, as tarefas de que eu lhes incumbia.

Meu Deus, como me apaixonei e me desvelei por elas, pelo seu sucesso, pela sua integração e por roubar-lhes dos rostos aquela apatia de derrotadas.

Ao fim de dois anos lectivos, foi na Trofa, logrei coisas boas delas, sobretudo o hábito de escrever imenso, influenciadas por mim e pelo estilo das minhas aulas, tão físicas, tão cheias de Texto acabadinho de sair do Forno, como Pão Quente, o Pão Quente da Palavra Inusitada. Eram muito pobres, mas davam muitíssimo menos erros que o suposto melhor aluno da turma que, ainda hoje, sendo um jovem de 18 anos, dá erros ortográficos assustadores que nunca compreendi e nunca pude obviar. Naturalmente que é um jovem muitíssimo capaz e inteligente. Mas adiante.

Como professor, evitei fazer o que me fizeram desde o princípio: classificaram-me, na Primária, no 2.º Ciclo e depois por aí adiante, de acordo com parâmetros estereotipados de rendimento cognitivo, ignorando a minha natureza de escritor já então manifesta e a que me dedicava, quando estimulado, devotadamente. Tenho memórias bem vivas do que me foi a Escola Primária e de como me marcou os ciúmes pela aluna melhor da Turma, a mais favorecida socialmente, a mais mimada, certamente a mais inteligente e trabalhadora e cumpridora e obediente... e privilegiada, a mocinha! Chamava-se Joana.

De um modo geral, os professores que tive, a não ser uma muito sensível e dócil professora de inglês no 2.º Ciclo, guiaram-se por classificações de carácter expectativacional e quase histórico e genético: o que rendera no ano anterior renderia naturalmente neste ano e por isso, se anteriormente medianas, as notas só poderiam continuar medianas, mesmo que o não fossem algumas vezes.

Esse escândalo manteve-se até à Faculdade e notou-se nas duas disciplinas que mais amei: Latim e Teoria da Literatura. Tendo inicialmente fracas bases, estudei como um camelo para um último exame e, posso jurar!, sabia Tudo de Latim II, mas a doutora Ana Paula Quintela não quis saber de milagres: atribuiu-me uma nota mediana às cegas, incapaz de ver, de acreditar, de querer ver, não apenas a minha paixão pelo Latim, como o meu último teste prodigiosamente exacto. Deu-me dez, juro!, num teste que valia talvez 18 ou mesmo a nota máxima. E porquê? Porque, como disse, por falta de bases, eu tivera anteriormente notas confrangedoras.

Isto é péssimo. A sensação de injustiça é do Pior. Já na outra disciplina, outra paixão minha ainda hoje, Teoria da Literatura, tive 18, tive sempre a melhor nota da infinita turma lá, na Faculdade de Letras do Porto, naquele ano lectivo onde me sentia tão apaixonado por tudo o que à Literatura e a cada disciplina dizia respeito. Tudo.

Fui, portanto, subestimado e subavaliado muitas vezes e os meus mecanismos de reacção não existiam. Pouco competitivo, eu espiritualizava tudo, até as injustiças. Talvez mesmo elas me conduzissem por um caminho mais tortuoso, mas rumo à devida e merecida felicidade.

Se calhar o meu modo de vestir monótono e pobre não ajudava e o facto de eu não ser filho do sótôr X também não.

Há uma diferenciação que começa nas escolas e na natureza social cujos acertos sociais de que os seus agentes se apercebem se tornam automáticos. Há um comportamento selectivo que muitos docentes adoptam em função da previsível luta que pais conhecedores da lei, com estudos superiores, podem aramadilhar contra um professor.

Também não esqueço a crassa estupidez de um pai, logo no meu primeiro ano lectivo após o Estágio, que se comportou comigo (tentou!) da forma mais filha-da-puta arrogante que imaginar se possa. O filhinho dele, um entre sete ou outro filhos, valha-lhe isso!, estava com algumas dificuldades inicialmente e, como director de turma, quando fortuitamente interrogado pelo Sr., sem grandes informações no momento, logo no primeiro e tão incipiente período, lhe disse que o seu Pedro tinha boas condições para ter sucesso. Pois o homem queixou-se por escrito ao Conselhor, na altura, Directivo, por, depois da avaliação, ter afinal verificado dois ou três níveis negativos. Claro que levou com uma vexatória e bem urdida contra-argumentação minha que o remeteu ao mais profundo silêncio até ao final do ano lectivo.

Procurei elevar todos os meus alunos às tais paixões estruturais que marcam pelo resto da vida: Ler com Tesão, com Paixão, com Sabor. Escrever como quem desenrola a meada de si mesmo, organizando e construindo Mundos Novos - e é isso que esta Reforma do Ensino impede, já que obriga os professores, chantageia-os, força-os a resultados positivos mas ocos, pois os resultados negativos lhes mancharão a avaliação que se está a gizar, maquiavélica e putesca, para eles.

Dar a Matéria é, por isso mesmo, uma corrida inglória, estupidificante, cheia de consumíveis e sem que se consolidem aquisições e instrumentos de sentido crítico e autonomia ou criatividade. É simplesmente uma corrida em que os mais inteligentes triunfam e os menos são levados ao colo ou quem paga são os docentes.

Já me alonguei de mais e mais me alongaria, porque doze anos é muita vivência e um coração nem sempre resiste ou deixa de vacilar quando se faz tábua rasa de Vidas.

Vi colegas com Mérito e Currículo Extraordinários a serem Comidos Vivos de Injustiça Classificatória, no Primeiro Concurso a Professor Titular. Vi-os chorar por isso e sentir a respectiva amargura.

Enfim, quem estiver por fora que fale e perore sobre o que quiser: há um estilo SS que esmaga Vidas por aí. Há quem prefira calar e seguir. Há quem não se fique, mesmo que, por vias travessas, punido e bem punido.

A Pior Punição é o Roubo do Trabalho. O Esbulho de ele, como me parece ser o meu caso.

Há bocado, em conversa com clientes do Pub em que trabalho, um funcionário da ANA dizia-me: «Como é possível um país com Economia do mais pobre e mais mal remunerado na base e com salários de topo que rivalizam com os Países mais ricos da Europa: que não ficam atrás duma Alemanha, da França, da Inglaterra?». E acrescentava: «Como pode haver justiça em Portugal, se os Directores Gerais de muitos organismos do Estado ganham em relação ao que a Lei estipula, 7 ou 14 vezes mais?»

E esse prodigioso e desabafante cliente, que muito admirei, concluíu: «A culpa é também ou sobretudo nossa. Calamos. Consentimos. Não denunciamos.»

Pois é, e essa vergonhosa assimetria cresce despudorada e criminosa num Portugal Desigual, vergonhosamente Desigual! E ainda se queixam da Blogosfera? Ainda a apoucam?

Falta que a Blogosfera cresça e se afirme ainda mais. Há imenso a ser feito para evitar o amplificar das estupidezes de esta PutrePartidocracia que, decadente e viciada, AINDA nos rege.

PALAVROSSAVRVS REX

C Valente disse...

Saudações amigas e boa semana