.



AS SEGUNDAS OPORTUNIDADES




Entre os paradigmas modernos, que procuram dar da sociedade uma visão humanista, é frequente defender-se que todos deverão ter uma segunda oportunidade independentemente do seu passado e, naturalmente, dos desvios que tenham cometido.

Esta visão não é consensual porquanto quem sofre uma agressão violenta ou sente os efeitos de um crime sobre um ente querido, dificilmente perdoa ao autor que provocou tão grande dano e que não deixou às vítimas a tal segunda oportunidade que agora reivindica.

É difícil colocarmo-nos num e noutro lugar quando não estamos numa ou noutra circunstância ou não fizemos um determinado percurso num determinado sentido. Se por um lado podemos admitir que o facto de castigarmos alguém com a prisão ou a morte não nos devolverá o ente querido que nos foi roubado, por outro acredita-se que todo o ser social deverá pagar à sociedade o muito que lhe rouba quando dos seus actos resultaram danos voluntários. Nesta perspectiva o cumprimento duma pena teria, também, segundo opiniões, um carácter desincentivador de práticas marginais.

Particularmente, sou defensora de que a criminalidade deverá ser combatida através da prevenção. Para tanto será necessário que as instituições, a diferentes níveis, não encubram as causas identificadas para essa criminalidade estabelecendo programas e compromissos a serem postos em prática mediante objectivos concretos e resultados visíveis.

É minha convicção que as sociedades actuais, nomeadamente a portuguesa, desperdiçam recursos humanos que poderiam ser muito úteis à qualidade dessas mesmas sociedades que se deterioram por falta de regeneração e pelo recrudescimento da violência associada a todo um conjunto de factores que, embora identificados, são desvalorizados ou omitidos pelos governos e pela própria comunicação que prefere dar vazas ao gosto circense a esclarecer e desenvolver uma consciência colectiva em torno de problemas concretos.

Entre os recursos humanos desperdiçados temos desempregados a receber subsídio e com formação em áreas vitais no combate à criminalidade e temos os próprios indivíduos que cumprem penas e que são susceptíveis de poderem ver revertidas essas penas em serviço comunitário, devidamente acompanhado e com algumas compensações. Alguma coisa já se faz neste sentido porém ainda muito longe do que pode vir a ser feito e que as circunstâncias aconselham.

Neste 2009 em que se espera o agravamento das condições de vida e o aumento da violência, seria desejável que políticas de prevenção e reinserção fossem encaradas intensivamente de forma a devolver às populações condições de paz e segurança sem as quais pouco valor têm todos os bens que possuem.


Bem vindos a 2009 e que este seja um ano positivo apesar das dificuldades que se perspectivam.





24 comentários:

Anónimo disse...

Olá!:)

Pata Negra disse...

Silêncio, tens razão! O pior é que entre o prevenir e o imediato vai um tempo que anula as soluções. O pior de tudo é que os agentes decisores já determinaram que 2009 será o ano de todas as desculpas. 2009 será um ano de paragem nas decisões para resolver e de reacção à falta de soluções. Afinal de contas a crise vem mesmo a calhar para adiar e para desculpar tudo em tempo de eleições. A crise financeira internacional está para Sócrates como a segunda guerra mundial esteve para Salazar.
Que mania esta a minha de entender que a história se repete!
Um abraço com esperança em nós

Mar Arável disse...

Bom ano

apesar do tempo que faz

Odele Souza disse...

Lidia,

Por vezes é na crise que boas idéias e soluções surgem. Tomara que seja assim neste ano de 2009.

Um abraço.

Visite www.arteautismo.com disse...

Lídia, estava viajando e li hoje teu e-mail. Amei receber teu e-mail que veio cheio de boas sugestões para eu tentar agora em 2009.
Vou tentar também dar uma melhorada no site de Filipe e colocar as novas pinturas que ele fez. Estou mais folgada agora do meu trabalho e vou dar uma força para meu Filipe.
Quero te dizer que amo muito ter sua amizade e vibro quando recebo notícias suas. És uma pessoa muito especial para mim Lídia.
Te gosto muitoooo.....
Um beijo com todo carinho do mundo para voce!
Ray

joshua disse...

Continuas com uma escrita cheia de Acerto e bem sintonizada com os principais problemas com que nos deparamos.

Bem-hajas, Lídia.

beijos

joshua

Fatyly disse...

Pegando em palavras tuas noutro post ou comentário, é nas grandes crises que surgem grandes soluções.
Quanto à criminalidade e reinserção é um trabalho dificil porque na nossa sociedade não se usa (não sei o nome) a psicologia-pedagogia num frente-a-frente: criminoso e vitima ou familiares, para uma reconciliação, dificil mas nada impossível. Inclusivé não falamos de esquecer, mas entender porque fez.
A droga e o dinheiro fácil leva a que muitos enveredam pela criminalidade e sem pensarem fazem o que fazem, uns com mais experiência e outros não. Na porta rotativa apanhados-soltos-apanhados-soltos...acabam por levar prisão com anos de trabalhos comunitários. Com sucesso em alguns casos e noutros não.
Acho e tal como referes a prevenção seria a melhor arma, mas por mais que se faça a prevenção haverá sempre pessoas que querem lá saber da prevenção.
No meu entender acho que talvez "sabendo que apanhados a pena seria durissima e com um tratamento eficaz como ocorre em alguns países" os levaria a não tentarem.

Tal como nas estradas, ontem um tipo com um ferrari deu 220km/h, pagou a multa de 500€ que pagou na hora e em dinheiro e seguiu viagem. Acreditas que abrandou? acho que não e seria mais eficaz: pagar a multa, mas ficar sem o carrinho durante uns tempos...e agora siga a pé!

Neste país há muitas "segundas oportunidades" onde alguns já vão nas quartas e sextas oportunidades e voltam ao mesmo, porque o trabalho faz calos. Não sei de quem é a culpa, mas o certo é que o povo está a ficar cansado de ser privado de muita coisa, por vezes até da própria vida e ironicamente quem disse que 2009 vai ser pior são do PS, coincidência? não, acho que não, momento certo para haver mais cortes orçamentais em determinadas áreas chave em prol de gastos desnecessários tal como as das campanhas-palhaçadas eleitorais.

Beijos e um bom dia

Anónimo disse...

E quem são os NOBRES que têm direito, não à oportunidade, mas a conceder a oportunidade?
E será que não serão eles que merecem uma segunda oportunidade? Hoje será tomada a primeira decisão!

Manuel Veiga disse...

muito bem. aplaudo. de pé...

bravíssimo.

sempre oportuna a tua escrita.
um privilégio ler-te.

beijo

Lúcia Laborda disse...

Oie linda, eu já nem acredito mais em dias melhores, em humanidade, realmente humana, em transformação do ter em ser. Mas quem sabe? Todo início de ano, nos resta, desejar e tentar acreditar.
Boa semana! Beijos

O Árabe disse...

Que assim seja, amiga! Que possamos encontrar a nós mesmos, o primeiro passo para criarmos um mundo melhor. Feliz Ano Novo! :)

Maria Clarinda disse...

E contigo a 100%!!!!
Jinhos mil

ManDrag disse...

Salve! Lídia

Nunca é demais falar na Justiça e nas vítimas das suas garras. Já o Cristo falava: "Aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra".
Em vez de perder tempo inventando leis para punir, antes aproveitar para eliminar a raiz do mal.

Abraço.

Salutas!

ANTONIO DELGADO disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ANTONIO DELGADO disse...

Reflexão plena de ideias humanistas e desejaveis para um mundo e um Portugal sensato...será que vivemos nele ou o sonho e a metafora comandam a vida?

Um abraço e um bom 2009

António Delgado

José Lopes disse...

A Justiça punitiva só castiga não reabilita e os problemas tendencialmente agravam-se. Infelizmente também na Justiça estamos muito mal.
Cumps

São disse...

Sem dúvida, a prevenção é a atitude mais eficaz para combater seja o que for!

Minha querida Lídia, algumas das romãs que te desejo te aguardam lá em casa com todo o carinho!

Feliz Dia de Reis!

António de Almeida disse...

Se por um lado podemos admitir que o facto de castigarmos alguém com a prisão ou a morte não nos devolverá o ente querido que nos foi roubado


-Por ser contra a pena de morte não quero admitir a primeira hipótese, por ser favoravel à prisão perpétua, sou contra a redução de penas, amnistias generalizadas (não quer dizer que não existam, mas deveriam ter um caracter absolutamente excepcional). Quanto ao trabalho voluntário útil à sociedade por parte de condenados, nada a opor, os perigosos sempre em trabalhos que possam ser executados em clausura. Obviamente que a prevenção será sempre o melhor dos remédios, mas para todas as doenças e não apenas para a criminalidade.

Å®t Øf £övë disse...

Lídia,
Em Portugal investe-se tudo na intimidação e nada na prevenção, o que na minha opinião está completamente errado.
Bjo.

Dalaila disse...

que hajam, que existam, que tenhamos esperança, que façamos, que lutamos, que quieramos existir e conseguir

. intemporal . disse...

Lídia

Venho deixa-lhe um abraço apertado e agradecer por este texto que aponta para um trajecto difícil mas transponível, se o soubermos percorrer.

Anónimo disse...

Olá de novo:)!
Agora já refeito -penso eu- da anómala crise de net aguda, como poderás verificar no aromas.
Lídia, penso que tocas noutro ponto fraturante. Os mais apetecidos... huuummm!
As oportunidades não devem ser negadas. Sou muito prático nesse aspecto. No entanto depende do que foi feito e como foi feito.Penso que todos cometemos coisas menos boas, ou piorzinhas... mas a criminalidade tem regras: as leis. Sobre o ponto de vista da sociedade em geral, se não houver lugar a uma oportunidade e se antes foi cometido um erro crasso no julgamento precepitado de alguém, por vezes propositado, quem merece -quiçá- a segunda oportunidade é quem cometeu a acção menos feliz. Por vezes pensamos que foi cometida de forma menos clara, mas é essa segunda oportunidade a ambos que merecerá o esclarecimento da dúvida.
Sobre a prevenção é positiva a tua opinião, que é a minha. Mas o estado actual é quase e apenas reactivo, quase nada preventivo.
Quem tem mérito a desempenhar funções e está recebendo sem nada fazer deve ser incorporado nalguma situação onde se sinta capaz e bem. Melhorará a sua auto-estima, apaziguará os rancores e correrá bem desde que as intenções de ambos sejam convergentes na positividade e na lealdade.

Sintetizando: oportunidade/merecimento/capacidade. Prevenção em vez de reacção -regra geral-!
A reacção é necessária quando a prevenção falha!

Saudações e um sorriso

sideny disse...

lidia
Todos temos direito a seg ou mesmo mais oportinidades.
conheço essa praia.
bom post.
beijinhos

JOY disse...

Olá Lidia,

Faço das minhas palavras, as palavras do Pata Negra, sem tirar nem pôr. Penso que mais do que nunca queremos verdade e não gincana politica como aquela que Sócrates continua a fazer, á cerca de um mês gabava-se que Portugal não entraria no lote de paìses que entrariam em recessão e fez disso gala, Agora assume que também nós não escaparemos a ela, coisa de que todos nós estávamos à espera, menos Sócrates pelos vistos. Excelente o teu texto.

Abraço forte
Joy