.



POPULAÇÃO RECLUSA (CONTINUAÇÃO)




“Todos os animais são iguais mas há uns mais iguais que outros”.
George Orwell - A Revolução dos Bichos –



Sendo a população reclusa altamente diversificada tanto em relação à natureza do crime como em relação às características de quem o perpetrou, difícil se torna encarar soluções sobre uma matéria tão vasta.



Vários estudos sociológicos se imporiam para uma avaliação eficaz sobre a população reclusa que vai adquirindo contornos, cada vez mais sombrios, sobre a natureza dos crimes que justificaram o calabouço.



O problema é tanto mais complexo quando se sabe que tendo a população reclusa diminuído pelo uso da pulseira electrónica - actualmente estima-se em 14.000 indivíduos - paralelamente não foram criados os necessários mecanismos para travar o aumento crescente da criminalidade. E tudo isto porque não houve coragem, ou interesse, em identificar claramente as variáveis que tal estudo imporia e estabelecer, através dos seus cruzamentos, as relações causa efeito e logo muitas das explicações que estão em deficit.



Como ponto de partida, e entre as hipóteses que podem ser colocadas, seria interessante perceber se existe uma relação directa entre o recluso que cumpre pena e a sua classe social de origem, se as situações de desemprego geram aumento de criminalidade, se o stress das cidades sobrelotadas é propício à violência, se alguns hobbies de consumo maciço preparam os indivíduos para uma vida de confronto com a sociedade, etc.



Também será importante perceber até que ponto pesam as características individuais face a todos aquelas que são adquiridas ao longo da vida através dos vários processos de socialização. Dito de outro modo: pesarão mais, no desvio, as características genéticas intrínsecas ou as influências sociais que se interiorizam?



Suponho que estes estudos estejam feitos e que as respostas sejam conhecidas e que a sua não divulgação não seja de todo inocente. É mais conveniente atribuir causas do senso comum, alimentadas por preconceitos que atribuem a certas raças e culturas condições de inferioridade propícias à violência, que aceitar a realidade tal como se nos apresenta.



Ocorre-me, a este propósito, que quando se fala em população desempregada, nomeadamente população altamente qualificada em termos de habilitações académicas, nunca se clarificarem algumas vertentes de análise que permitiriam perceber se entre os desempregados estão indivíduos formados, com boas notas, em faculdades de renome e se entre os empregados estão a inversa. E já agora, para que tudo possa ser claro, as origens sociais duns e doutros.



Encomendam-se neste País muitos estudos, mas há estudos que se evitam, segundo me parece.



É que para se manter este stato quo de sociedades que rebentam pelas costuras em todo o tipo de violências, há que resistir cercando de muralhas uma realidade perversa esquecendo que, do outro lado do muro, estão tensões que crescem e que, no mundo terreno, não há fortalezas inexpugnáveis.

26 comentários:

Peter disse...

Um caso pessoal:

Há 7 anos que um grupo de compradores de apartamentos individuais, T1 e T2, anda em litígio com um poderoso Grupo económico. O processo arrasta-se e os julgamentos vão sendo sucessivamente adiados.
Tentou-se, por várias vezes, chegar a um mútuo consenso, mas tal não foi possível dada a irredutibilidade do opositor.
Assentou-se então numa reunião entre as partes em litígio, a qual não chegou a durar 10 minutos, pois foi-nos dito despudoradamente:

- "Nós temos todo o tempo, dinheiro e advogados à nossa disposição. Movam um processo contra nós e iremos apelando sucessivamente até às Instâncias Superiores".

É a Justiça que nós temos: a "Justiça dos ricos e poderosos" ...

Teresa Durães disse...

realmente não tenho dados que concluam qual a percentagem de reclusos consoante os diferentes crimes. Mas penso que uma vida inserida em bairros problemáticos não seja propriamente o mais saudável.

já os crimes de colarinho branco penso que são de classes mais favorecidas dado estas terem acesso ao dinheiro

Compadre Alentejano disse...

O criminoso de colarinho branco raramente vai para a "choldra". O dinheiro paga os sucessivos recursos, até obter uma absolvição...
Um abraço
Compadre Alentejano

Vanuza Pantaleão disse...

Amiga querida,
O poder do dinheiro sempre existiu, mas uma coisa é certa: hoje em dia, tomou proporções alarmantes, virou praga.
Gosto de vir aqui porque seu espaço é uma Tribuna de Liberdade de Expressão.
Agradeço-te pelas palavras tão boas que me incentivam.
Prossigamos, a jornada é difícil, mas necessária!!!
Beijo carinhoso!

São disse...

Abres com uma citação de um dos mais interesantes e denunciadores livros que já li até hoje( e eu já li muitas centenas).
Infelizmente, continua actualissima!
Um fraterno abraço, Amiga!

Fatyly disse...

"pesarão mais, no desvio, as características genéticas intrínsecas ou as influências sociais que se interiorizam?"
...........
a meu ver as duas, ligadas ou não!

Depois há um factor fundamental: 90% dos assaltos e crimes são feitas por jovens, dependentes das drogas ou a mando dos traficantes e o que roubam gera riqueza, uma forma mais fácil de obterem o produto ou alimentarem o ego com coisas exteriores, tal como roupas de marca, carros, telemóveis e afins.
Comida? nunca vi!
Agora a crise é desculpa para tudo...

Os do colarinho branco, branqueamento de capitais e burlas agravadas etc, etc. que eu me lembre só um gotinha foi condenada - o caso Melancia - porque de resto safam-se todos.

Num país cada vez mais economicista, pouco ou quase nada funciona em termos de apoios que deveriam começar logo no primeiro delito à "população reclusa", além dos muros onde a junção de individuos dos vários tipos de crimes e com idades tão dispares, criam-se "escolas vivas do crime". Poucos são os que se integram na sociedade depois de cumprirem pena, porque a própria sociedade continua a discriminar e ou eles próprios optam por continuarem na sua "realidade".
A família é uma base fundamental de apoio, mas quantas se desfazem ou até se fartam (dói dizer isto mas é verdade) das atitudes de algum ou alguns seus membros?

Visitei muitas cadeias, inclusivé militares e o que vi na altura não é muito diferente das de hoje.
Com pulseiras eléctrónicas serão controlados? e soltos...
e no meio de tudo isto onde ficam as vítimas? do lado de fora dos muros mas com marcas dantescas e com os mesmos apoios: quase ZERO!

A nossa justiça tornou-se "branda demais" o que tornou a "recuperação" nula ou quase nula.

Gostei desta tua reflexão, mas pelo muito que já aprendi e vi, o crime não compensa!

Uma beijoca

Fatyly disse...

Quanto aos "estudos" serão sempre tendenciosos e ineficazes!

sonia a. mascaro disse...

Olá Lídia, gostei de receber sua visita! Também sinto saudades.

Estou com um novo blog, agora em Português, chamado Leituras & Imagens. É um blog sem pretensão nem muitas expectativas... Se tiver tempo, gostaria de receber sua visita.
Beijos,
Sonia.

Texto-Al disse...

ter mt dinheiro disponivel para preparar uma boa defesa faz milagres.

T.

António de Almeida disse...

Por muitas tendências que possam ser demonstradas em estudos, existe e sempre existirá a vontade individual, porque cada ser humano é felizmente único, de contrário não passariamos duma carneirada pastando no mesmo rebanho. Obviamente que podem existir políticas de reinserção, não fará sentido colocar um indivíduo delinquente primário que cometeu um acto desesperado, pelo qual deve pagar, ao lado dum mafioso membro dum qualquer gang de crime organizado. Devem existir prisões de alta segurança e outras mais abertas.

Meg disse...

Lídia,

"...pesarão mais, no desvio, as características genéticas intrínsecas ou as influências sociais que se interiorizam?"

Claro que são, na maior parte dos casos, as tais influências sociais.

E recordando o que acaba de se passar na Alemanha, não sei o que te diga mais...
Não estaremos a caminhar para situações semelhantes?
Colarinho branco... ah... mas isso é um dado adquirido, burlão ou vigarista nos mais altos cargos, com a carteira bem recheada, não tem que ter medo da prisão. Os recursos custam muito mas valem a liberdade e impunidade.
Pobres dos coitados sem um tostão.

E claro que o George Orwell tinha toda a razão!

Beijo

Rafeiro Perfumado disse...

Qualquer dia teremos de aplicar em Portugal aquilo que um deputado italiano sugeriu para o seu país: metade da população presa e a outra metade a tomar conta. A meio do ano, trocavam.

Beijo!

contradicoes disse...

Neste país o calaboiço
é para a pequena deliquência
porque ninguém ouve nem eu oiço
que seja presa uma excelência

Um abraço

Anónimo disse...

Sinto que há por ali ao lado um silêncio culpado. E não sei porquê... rsss..

Minha amiga, gostei deste texto. Uma análise bonita de se fazer. Mas vou-me rir um pouco. Sabes que mais vale rir que chorar. E não é que tens razão quando te interrogas sobre a questão de estudos que são feitos a torto e direito sem estudar coisa alguma e ninguém se deu ao luxo de estudar sociologicamente a população prisional. Ou melhor, alguém iluminadamente pensou na população prisional como sendo todos uns drogados e uns viciados em sexo e distribuiram para lá quantidades macivas de preservativos e kits de droga fácil. Ninguém se lembrou que ali deveria ser um canto livre de droga. E quem ganha com isso daquele vil metal? Coisas sem importância.
Na população prisional deveremos encontrar um pouco de tudo. Não tenho acesso a estudo algum. Não estou aqui para procurar as palvras certas. Acho que são uma miscelânia cada vez mais diversificada entre a camada mais baixa da sociedade e da classe -quase extinta- média. Isto no delito comum e no tráfico de droga.
O crime de colarinho branco, a corrupção,perpretado pelos maiores da vida eirada, não dá em nada. Vão-se safando com coimas irrisórias para as suas posses, recorrendo em seguida, o que faz com que o trânsito em julgado demore anos, décadas... e fiquem soltinhos da silva.
Dura Lex, Sed Lex, na justiça só rolex.
Ufff (...) o que disse eu?
Isto é que vai uma açorda...

Saudações e um sorriso.
PS:Vê se apareces por lá sem silêncios culpados

Manuel Veiga disse...

muito bem. a "justiça é cega"! e entre nós também coxa...

abraços

- Moisés Correia - disse...

Provei o fel sabor de uma outra vida
Nas ruas desnudadas, lotes incertos do sem andar…
Caminhei pelos desertos secos de alma perdida
Entrando pela porta em que ninguém quer entrar

Passando para dizer,
Que me apraz aqui estar…
Que nesta sexta-feira treze,
Aconteça o que acontecer
Um bom fim-de-semana irá ser
E que o amor e paz possa reinar!

O eterno abraço…

-MANZAS-

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

É o dinheiro corrompe, mata, destrói.
Um abraço

vieira calado disse...

Muitos desses estudos apenas servem para dar dinheiro a amigos.

Como a intenção é só essa...

ficam-se por aí.


Um beijinho.

Anónimo disse...

O ALUNO DISLÉXICO: ESSE MONSTRO !!!!!!

Ele tem quinze anos e está na oitava série sem saber ler e escrever. É disléxico. Alunos normais que aprendem um pouco aprendem normalmente fora da escola com esforço dos pais.
Escola tem muita aula vaga e maus exemplos...O que é bom, é pouco mesmo.
No caso desse aluno em oito anos nenhuma professora se interessou e nem percebeu.
Fica com fama de burro, preguiçoso.Se a escola expulsa por muito menos, imagina se o aluno tem dislexia. Esse também. Expulso da escola anterior, não fez amigos nessa. A expulsão já acompanha o seu "curriculum" e não raro a professora espalha na classe.
Sem contar que o processo de Expulsão é brutal, covarde e traumatizante. Um crime que escolas cometem impunimente.
A professora faz o que é comum, não consegue que ele preste atenção na aula que é grego para ele, chama reforço.Vem a Diretora e a Coordenadora, o aluno ao ser abordado de modo duro, devolve com uma rasteira e derruba a diretora no chão.
Pronto !
Prato cheio para a imprensa e para os apresentadores pedófobos e sensacionalistas. Se é aluno agredido a imprensa não vai apurar,nem entrevistar aluno, mas se é professora ou diretora, a imprensa vai.
Já está justificado o bônus que o Estado de São Paulo vai dar para professora e escola nota zero.
Não se pode cobrar tudo da Escola Estadual João Vieira de Almeida, zona Leste de São Paulo. O aluno está teve apenas uma semana de aula.As professoras já receberam o salário de Fevereiro e e vão receber Março integral, mas aula que é bom...Tem escola que tem teve a atribuição e aula ainda...
A professora com uma semana de aula não tem como saber que o aluno é disléxico, mas toma a medida comum.Coloca fora da sala e depois a direção o coloca fora da escola.
Num país onde se arrecada o imposto maior do mundo, e numa cidade mais rica do pais, um aluno frequenta a escola regularmente durante oito anos e só agora se descobre que ele é disléxico ?
O estado está devendo a esse aluno oito anos de um tratamento digno com professora especializada.A Secretaria de Educação recebe a verba maior de todas as pastas.Suficiente para manter uma escola de primeiro mundo.Tanta verba que sobrou quase um bilhão de reais da verba e o estado vai distribuir entre as professora em forma de bônus.
Somos contra a violência em qualquer ordem e em qualquer grau.
Lamentamos que o aluno ao invèz de tratamento adequado, recebeu de presente um "passeio" na viatura policial até a Delegacia.Seus pais foram em seguida o encontrar completamente aterrorizado
Segundo os pais, ele não é um adolescente agressivo e nunca tinha feito nada parecido.
Para a assessora da Dirigente Regional e perguntei se ficar durante
oito anos ouvindo uma ligua que ela não entendia, se não era natural o saco estourar um dia...Ela reconheceu que sim.
Pode ser a primeira vez que o aluno responde com uma agressão a um pedido de se retirar da sala, mas com certeza não é a primeira vez que é humilhado.
Ser retirado da sala é sempre uma atitude extrema, que humilha o aluno e a relação entre ele e a professora depois disso, nunca mais vai ser amigável.
E esse pedido nunca é sereno e gentil.
Se este fosse um país sério, um famoso apresentador pedófobo ia usar o seu jargão contra as autoridades de educação
Ao invéz de esgoelar chamando aluno de marginal ele devia pedir para as autoridades de educação
CADEIA NELES !!!!!!!!!!!!
Afinal o aluno sofreu durante oito anos o descaso e a indiferença de uma cidade rica em verba arrecadada mas rica também em corrupção e impunidade.
Quero ver agora se algum apresentador vai pedir para os responsaveis pelos oito anos de vida que esse aluno passou em branco dentro da escola
Quero ver o Datena, por exemplo pedir
CADEIA NELES !!!!
http://cremilda.blig.ig.com.br

Portaria59 disse...

Está mal disposto?
Vá aqui: http://portaria-59.blogspot.com/2009/03/o-melhor-pais-do-mundo.html

peciscas disse...

Abordas aqui uma problemática bem complexa.
E, por mais estudos que se façam, as conclusões nunca serão concludentes.
Se calhar há um mundo de explicações que se interligam quando se procura descobrirMas não as únicas. as razões das várias criminalidades.
Se calhar há um pouco de tudo: razões genéticas, sociais, políticas, culturais, económicas.
Mas, na minha modesta opinião, serão as sociais as predominantes.

C Valente disse...

Bom fim de semana com saudações amigas

Odele Souza disse...

Este teu texto Lidia, a exemplo de outros que aqui leio, é de uma lucidez ao mesmo tempo que complexidade incríveis.
Fico a imaginar como se administra essa "população reclusa" E se os estudos que se fazem são colocados em prática.

Um abraço.

Lúcia Laborda disse...

Oie linda, não ha dados, porque não interessa a "eles" esse registro. Mas são tantos que não podemos supor. Sempre existe algo por fazer, por quem menos precisa é a lei que eles estabeleceram. Infelizmente!
Bom fim de semana! Beijos

Jorge P. Guedes disse...

Todos os estudos feitos e encomendados pelos governos esbarram na mesma barreira: o custo elevado para colocar em prática as soluções que os mesmos estudos provaram ser absolutamente prementes.
Enquanto as sociedades estiverem na dependência da economia, o ser humano será sempre empurrado para um beco, como material que aguarda provisões para ser reutilizado como uma mera alavanca de mais valias.
O ser humano, hoje, vale mesmo muito pouco para os detêm os meios de produção.

Bom artigo, como é habitual encontrar por aqui!

Um abraço e bfds.

São disse...

Que o teu fim de semana seja feliz, Amiga!
O meu abraço.