As fábulas de Esopo sempre me fascinaram bem como o mistério sobre o criador que lhes está subjacente.
Muitas são as lendas e versões que correm sobre este homem do qual se diz que era corcunda, gago e dono duma inteligência rara. Terá nascido na Grécia, no século VI antes de Cristo.
Uma biografia egípcia do século I conta que Esopo foi vendido como escravo a um filósofo que, rendido ao seu inegável talento, lhe concedeu a liberdade. Porém há diversas versões sobre sua morte.
Uma das mais trágicas diz que o fabuloso grego teria sido lançado de um precipício, em Delfos, acusado de sacrilégio. Todavia, sejam quais forem os mistérios que pesem sobre a vida do homem, asfábulas de Esopo, compiladas por um monge bizantino do século XIV, inspiraram numerosos autores no decorrer da História e foram objecto de transmissão por gerações e gerações.
Depois da fábula da rã e do escorpião, acho que vale pena meditar sobre a fábula do “galo e da pérola” que conheceu pelo menos duas versões produzidas pelo seu autor.
Para a Grécia Esopo conta-nos da seguinte forma a fábula do galo e da pérola:
“Um galo faminto, esgaravatando no chiqueiro, procurava alimento que lhe matasse a fome. Porém, e apesar da sua insistência, o galo nada encontrava que lhe servisse para comer. Eis que senão vê uma rara pérola cor-de-rosa, brilhante e bela a sobressair do esterco. O galo olha para a pérola e diz: - Tu és linda, és a coisa mais bela que já vi mas eu antes preferia um simples grão de um cereal qualquer.”
Esta versão remete-nos para a validade dos bens consoante a necessidade e apreciação de cada um e demonstra que nem sempre o que socialmente tem mais valor é o que se ajusta às necessidades e expectativas individuais.
Já na Suméria e Babilónia a fábula de Esopo tinha uma versão bem mais contundente.
“ Um galo, esgaravatando numa estrumeira em busca de alimento, encontrou uma pérola de rara beleza. Furioso porque a pérola não lhe servia para comer, espalhou o esterco e atirou para bem longe a jóia. Frustrado e enraivecido ainda ameaçou com seu bico em riste quem produziu o lixo em que chafurdava.”
Ou seja, este galo bem mais à semelhança dos tempos modernos, destrói a beleza das coisas que não lhe servem e, ao invés de perseverar na procura, lança o lixo contra aqueles que, em seu entender, o superam em facilidades.
Jesus Cristo, fazendo referência a essa fábula popular avisou a seus discípulos: Quando ensinardes ao povo observai bem a quem dais a Boa Nova, para não atirar pérolas aos porcos pois pode ser que, além de calcá-las aos seus pés, os animais ainda podem voltar-se com seus dentes contra vós.
As sociedades modernas, assentes no consumo como valor, têm inculcado na alma dos que não lhes conseguem acompanhar os passos padronizados, a raiva e o desamor pelos que vão em frente.
Tal como o galo da Suméria e da Babilónia não se limitam a não recolher a pérola postada em seu caminho, antes lançando lixo sobre os que consideram ser os responsáveis pela sua frustração e, naturalmente, pela perda de auto-estima que lhe está subjacente.
30 comentários:
Curvo-me perante a tua sabedoria...
Bem hajas, Amiga!
Mas alguma vez esta nossa amiga, não acertou no que escreve?
Rendo-me...
Que verdades encerra este "post"
beijocas
Magnífico e foi muito bom vir ler mais esta "pérola".
Beijocas
uma pérola a parábola.
um apelo?
ou antes a missão de nos acordar?
perfeito e tão a.tempo.
o meu beijo.
Bravo,parabéns pelo texto.
Abraço.
muito oportuno no conteúdo e se acrescentarmos ainda as invejas tecidas aos que pouco mais têm aumenta-se o teor da história...
abraço
Tal como aconteceu com Esopo, ficam para a história aqueles homens e mulheres, que, em cada época, são capazes de captar a essência das coisas, designadamente as que têm a ver com o nosso comportameno enquanto seres humanos.
E, efectivamente, somos capazes de ignorar aquilo que é efectivamente precioso em detrimento de algo que não tem um valor perene, só porque somos condicionados por outros valores.
Mas, também é verdade que aquilo que uns consideram como valioso outros poderão não o considerar, já que há em jogo conceitos que derivam de contextos muito específicos. Daí a relatividade desses conceitos.
Lídia, querida!
Sou uma entusiasta das fábulas, pois através delas, muitas vezes, aprendemos mais do que se formos ler um compêndio de um milhão de páginas.
Quantas perolazinhas tentamos lançar e somos rechaçados, não é mesmo? Creio, daí provir a séria advertência do Meigo Nazareno e, mesmo, ele teve seu corpo Divino dilacerado pelos perversos porcos da época...difícil lidar com certas pessoas e situações, muito difícil.
Amo tudo que você nos oferece, amiga e agradeço-lhe!!!
Nosso Afeto!
A sabedoria dos antigos filósofos gregos faz inveja, de uma forma porque actualmente nos faltam exemplos similares, e de outra porque ao fim de tantos séculos parece que o Homem não conseguiu dar o salto humanista e social em termos qualitativos que se pretendia e exigia.
Quiçá, se não seria uma boa ideia oferecer algumas obras da Antiguidade a muitos dos políticos e governantes dos dias de hoje, ao estilo de umas "Novas Oportunidades" mas dirigidas à classe política dirigente.
Saudações do Marreta.
...quanta sabedoria
e sensibilidade vejo aqui!
parabéns, minha linda!
Esopo é sempre muito
bem lembrado em todas
as épocas.
bj, bj
Em verdade, em verdade vos digo, atirai todas as pérolas aos porcos!
Palavra do Porco Rei
Sempre gostei de fábulas e em especial das dos Esopos, pois até a Sócrates (outro que não o nosso P.M.,embora lhe reconheça um certo jeito) algumas delas são atribuidas.
De uma maneira galante dizem-se as verdades e hà sempre um objectivo moral a tirar.
O real valor das coisas é determinado pelas necessidades de cada um e esta fábula demonstra-o bem.
Coitado do Esopo que nasceu feio,com uma cabeça enorme que continha um cérebro brilhante o qual lhe deu prestigio entre reis, mas que nem com a história da àguia e do escaravelho conseguiu evitar que o povo de Delfos o matasse atirando-o de um penhasco.
A grandeza dos homens nem sempre é compreendida e são tantas e tantas vezes injustiçados.
O nosso Camões é prova disso tendo morrido na miséria.
Lídia
É sempre um prazer enorme, ler os seus artigos. Não só pela forma correcta como escreve, como também pela evidente e contagiante paixão que revela pelo Homem, na sua essência, na intíma relação entre as suas forças e fragilidades,em contextos de solidão e comunhão.
Fenómenos de uma existência complexa e nem sempre compreendida!
Sinto-me enriquecer, sempre que aqui venho!
Obrigado
Excelente análise, com a qual aliás estou totalmente de acordo! Gostei de ler!
O problema, não é o que escreveu Esopo. O nosso problema é que depois de mais de um milénio o que ele escreveu continua actual.
Um abraço
Magnífico!
Um homem não vive só de pérolas, precisa também de pão, amor, espiritualidade...
Abraço
Compadre Alentejano
Magnifica história, parabéns pela partilha deste saber..Infelizmente há tempo que não passava por aqui embora por motivos alheios á minha vontade..Hoje estou aqui e é como se o fizesse pela primeira vez.A mesma emoção, o mesmo encanto, o mesmo agradecimento por poder partilhar um espaço tão interessante e humano..Deixo um abraço e o desejo de felicidades..
Interessantíssimas estas histórias.
Boa ideia tê-las trazido aqui aqui, tanto mais que continuam a ser de grande actualidade, mesmo sendo fábulas.
Beijinhosss
Aprendi muito aqui.
Obrigada.
Lídia,
...As sociedades modernas, assentes no consumo como valor, têm inculcado na alma dos que não lhes conseguem acompanhar os passos padronizados, a raiva e o desamor pelos que vão em frente.Esta é uma triste realidade que espero e acredito tenderá a ser corrigida... o tempo do consumo parece estar a mudar.
Ou será só impressão minha?
Bom post e mais um convite à reflexão, Lídia.
Um abraço
Durante a minha frequência do secundário, tive como prof o escritor Vergílio Ferreira em Português e Latim.
Uma das obras estudadas foi as Fábulas de Fedro e lembro-me de num exercício escrito ter saído "Pullus ad margaritam" e que um colega traduziu por "A margarida aos pulos"...
O valor relativo das coisas, segundo as circunstâncias envolventes dos tempos que se vivem, está aqui bem patente. Sabedoria, isso é outro departamento, e não abunda por aí.
Cumps
Aprendemos muito com os animais
As fábulas são textos inestimáveis
Bjs.
Lidia,
Tanto aprendemos sobre nós mesmos e, consequentemente, sobre o outro, com fábulas de Esopo ou até com filmes com mensagens. Mensagens não rançosas ou moralistas, mas aquelas que nos apontam Princípios comuns a uma conviência civilizada com o nosso semelhante. E assim, vamos fazendo a nossa parte...
Obrigada pelo carinho!!!Bjsss
Querida Lídia: ADOREI!
Não conhecia esta! OBRIGADA. MUITO!
Beijinho grato, marta
Querida Amiga,
Na esteira dos comentários que me antecedem só posso dizer que me rendo também.
Na verdade, a interpretação actual que fazes da lenda do Galo e da Pérola é mais do que verdadeira.
Com efeito, é como dizes " As sociedades modernas, assentes no consumo como valor, têm inculcado na alma dos que não lhes conseguem acompanhar os passos padronizados, a raiva e o desamor pelos que vão em frente.
Tal como o galo da Suméria e da Babilónia não se limitam a não recolher a pérola postada em seu caminho, antes lançando lixo sobre os que consideram ser os responsáveis pela sua frustração e, naturalmente, pela perda de auto-estima que lhe está subjacente".
Pena é que esta interpretação seja verdadeira....
Bem hajas pela partilha.
Um beijo amigo,
Maria Faia
Convido vc para conhecer o meu novo cantinho, sinto em dizer mas o antigo dediquei, com a ajuda de uma grande amiga, para meu futuro bebê...
espero que goste...
bjos
http://simplesmentemae2009.blogspot.com/
esgravatando por aí, por vezes encontram-se pérolas raras.
como aqui (quase) sempre acontece...
beijos
Abordaste um tema muito interessante, coma arte e o engenho que te são peculiares.
E pérolas a porcos acontecem muitas vezes...
Querida amiga, um bom fim de semana.
Beijo.
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